São muitas as reclamações contra o Egg Bank, um centro nacional de reprodução humana assistida que está interditado pela Anvisa desde 2021. A reportagem da Novabrasil apurou denúncias de mulheres que foram enganadas pela empresa ao tentar a reprodução humana assistida. As mulheres buscaram pela empresa, pagaram pelos óvulos e ficaram sem respostas.
“Foi aquela angústia, eu já tinha pago os óvulos. A gente tinha que esperar mesmo, né? Fazer outro tratamento não ia dar”, relata uma das vítimas, Ana Paula Carvalho.
O local continuou atuando, mesmo com a proibição da agência, já que o estabelecimento operava sem o devido licenciamento sanitário.
Além da dificuldade para importar o material genético devido ao endurecimento das regras da Anvisa, ainda é preciso cuidado na hora de contratar o procedimento.
“Ele me enrolou demais assim, agora vai dar certo, só falta um documento. Na verdade, ele já estava interditado. Eu perdi aí mais de um ano”, conta Carla Ribeiro, assistente administrativa de 40 anos.
Carla entrou em contato com o Egg Bank em 2021. Ela tenta ser mãe há mais de 4 anos e, neste período, conseguiu engravidar duas vezes, uma de forma natural e a outra por ovodoação. Contudo, perdeu os bebês, que nasceram prematuros.
Ao decidir pela doação de óvulos, a assistente pagou pelo procedimento ao Egg Bank e esperou quase um ano. Quando o material genético finalmente chegou, a clínica da Carla informou que o procedimento não daria certo: “Quando eu fui fertilizar os 5 óvulos, perdeu. Falaram que era estava muito ruim”, conta a secretária administrativa.
Depois disso, o representante do Egg Bank, citado por todas as entrevistadas como “Felipe”, sumiu e nunca devolveu o dinheiro à Carla: “Eles levaram todo o meu dinheiro e eu não tinha mais de onde tirar, porque paguei para eles e paguei para a minha clínica. Foi uma economia absurda, eu fiz até rifa, para juntar o dinheiro”.
O advogado de Carla, Arnaldo Júnior, entrou na justiça contra o Egg Bank: “Os danos materiais estão concretizados, com o pagamento dos valores que foram efetuados e devido ao mau serviço prestado. Eles estão se escondendo da justiça, então eu tô com uma dificuldade de citação”, completa o especialista.
A empresa acumula vários outros processos. Um deles é da Ana Paula Carvalho, professora de 54 anos. Em maio de 2021, ela pagou ao Egg Bank 14 mil e 800 reais pelos óvulos: “A gente só estava na expectativa. Aí quando foi finalzinho de agosto, ele falou “olha arrumei uma doadora compatível e tal”. O tempo foi só passando e veio a interdição. E foi aquela angústia, né? Eu já tinha pago os óvulos”, relata Ana Paula.
Mais uma vez, os óvulos chegaram quase um ano depois e não puderam ser utilizados. “No dia da fertilização, a embriologista da clínica descongelou os óvulos e todos os seis estavam inviáveis. Não tinha como fazer a fertilização”, conta a professora.
O Egg Bank combinou de devolver o dinheiro à Ana Paula em 10 parcelas. Mas, no meio do estorno, o representante da empresa desapareceu novamente. No ano passado, ela entrou na justiça contra o Egg Bank.
Muitas mulheres estão com dificuldade de conseguir óvulos doados, tanto nacionais como importados. Com o aumento da demanda pelo material genético, houve a necessidade de mudar as normas do processo por questões de segurança, o que criou entraves para prosseguir com o procedimento, como explica Luciana Correia, empresária e fundadora do projeto Laços da Fertilidade: “Em 2022 começou a crescer muito a reprodução humana no Brasil as clínicas ou bancos internacionais que não estivessem adaptados à licença ela a partir dali não poderia mais fazer nenhum trâmite enquanto ela não tivesse licença acarretou-se outra outro problema as pessoas estavam fazendo todo o processo sem mandar a documentação para Anvisa”.
Até o momento em que a reportagem foi publicada, não havia bancos internacionais licenciados pela Anvisa.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária diz que vai informar à vigilância sanitária do Rio de Janeiro sobre o caso. A EggBank retornou aos pedidos de resposta da Novabrasil somente após a veiculação da reportagem e disse que interrompeu a atuação após a interdição da Anvisa, ao contrário do relato de algumas pacientes que ouvimos nos últimos meses.
Segundo a nota, cabe às clínicas parceiras atestarem a qualidade dos materiais genéticos utilizados, o que não foi feito por duas delas. E por isso alguns procedimentos tiveram de ser interrompidos no decorrer do tratamento. A Egg Bank disse que tomou medidas judiciais em relação a essas clínicas e que se compromete em resolver as pendências legais.
Confira a reportagem completa da repórter Ana Luiza Bessa: