Usinas a carvão são o Stonehenge da era do carbono, diz ONG que quer preservar torres

MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Em meio à transição energética pela qual passa a Europa, a ONG britânica Twentieth Century Society (TCS) está tentando preservar algumas construções gigantescas de usinas como testemunhos de uma época movida a carbono.

Fechada no ano passado, a usina de carvão West Burton A, próxima a Sheffield, na Inglaterra, possui oito torres de refrigeração de 90 metros de altura, o equivalente a um edifício de 30 andares. A demolição foi marcada para 2028.

“Esses megálitos modernistas são o Stonehenge da era do carbono. As torres de resfriamento têm uma presença diferente de qualquer outra coisa na paisagem britânica”, afirma Oli Marshall, diretor de campanhas da TCS.

Ele cita o artista inglês Anthony Gormley, que descreveu poeticamente tais torres como um “vulcão feito pelo homem… um relicário da era do carbono, um memorial ao grande romance de 200 anos da Grã-Bretanha com a segunda lei da termodinâmica”.

Segundo Marshall, “devemos todos dar as boas-vindas à transição para uma produção de energia mais verde e limpa no Reino Unido —e ao potencial investimento, emprego e desenvolvimento para [o condado de] Nottinghamshire que isso pode trazer”.

“No entanto, a preservação de nosso patrimônio industrial e a chegada de novas tecnologias energéticas não devem ser uma situação de ‘ou um, ou outro’. Há espaço para ambos coexistirem”, completa.

A usina, que queimava carvão para obter eletricidade, dominou a paisagem do norte de Nottinghamshire durante mais de 60 anos.

“O local de West Burton é absolutamente vasto, cerca de 410 acres, o que equivale ao tamanho de 205 campos de futebol. As oito torres de resfriamento ocupam menos de 3% disso. Quando vistas como um grupo, e dada a complexidade técnica de uma demolição controlada para apenas algumas, sempre defenderemos a preservação de todas as torres em West Burton”, diz Marshall.

Em 1968, o complexo ganhou um prêmio de arquitetura que o descrevia como “uma imensa obra de engenharia de grande estilo, que, longe de desvalorizar a cena visual, atua como um ímã para o olho de muitas partes do vale do Trent e a várias milhas de distância”. “É uma contribuição excepcional para a cena local”, disse o júri.

Para a TCS, embora seja difícil ver as torres de resfriamento como artefatos ou relíquias enquanto algumas ainda estão em operação, assim como as chaminés de fábrica, as torres de resfriamento em breve passarão para a história.

“À medida que a era do carbono está terminando e a era sustentável começa, é importante que retenhamos parte de nosso passado, para lembrar de onde viemos e apontar o caminho para o nosso futuro”, afirmou o diretor.

“Internacionalmente, já existem múltiplos exemplos dessas estruturas enormes e desafiadoras sendo reutilizadas de forma imaginativa — de parques de diversões a centros de esportes radicais, locais de festivais de música a instalações de arte”, diz ele, citando o parque de diversões Terra das Maravilhas de Kalkar, na Alemanha.

O Kalkar funciona no antigo complexo de uma usina nuclear, próximo a Düsseldorf, e instalou um brinquedo em cima de uma torre de refrigeração semelhante às de West Burton. Inaugurado em 2016, o parque recebe 600 mil visitantes ao ano.

A Twentieth Century Society é uma instituição de caridade que faz campanha para proteger o patrimônio arquitetônico e de design moderno da Grã-Bretanha, de 1914 até os dias atuais. “Nos últimos 40 anos, salvamos inúmeros edifícios emblemáticos para a nação”, conta Marshall.

“De icônicas cabines telefônicas vermelhas a conjuntos habitacionais modernistas e estações de ônibus brutalistas, de blocos de escritórios pós-modernos a murais pop art. Como organização, somos neutros em relação ao estilo. Se um edifício ou obra pública tem mérito, lutaremos para preservá-lo”, finaliza.

IVAN FINOTTI / Folhapress

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