As apostas de Lula e Bolsonaro

Diego Amorim
Diego Amorim
Diretor-executivo da Novabrasil FM na capital federal. Jornalista entre os 10 mais premiados da história de Brasília. Autor de ‘Filho de pandemia’.

Na minha estreia na Novabrasil FM, analisei o tom das campanhas de Lula e Jair Bolsonaro, que estão à frente nas pesquisas de intenção de voto.

AS APOSTAS DE BOLSONARO

Ao contrário do que ocorreu em 2018, quando conquistou a Presidência em uma eleição atípica, Bolsonaro terá desta vez uma estrutura de campanha bastante considerável, com marqueteiros, tempo de TV e muito dinheiro do fundo partidário, sem contar com o controle da máquina pública.

O atual presidente tem aliança garantida com três grandes partidos do chamado Centrão: o PL, sua atual legenda, presidida pelo ex-mensaleiro Valdemar Costa Neto; o PP, de Ciro Nogueira, hoje ministro da Casa Civil, e de Arthur Lira, que comanda a Câmara que gestou o horrendo orçamento secreto; e o Republicanos, ligado à Igreja Universal.

Bolsonaro conta com o apoio de parte considerável do eleitorado evangélico que ainda enxerga no presidente a personificação de slogans como “Deus, pátria e família” e “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”. Bolsonaro se diz católico, embora tenha se batizado nas águas do Rio Jordão, em 2017, pelo então Pastor Everaldo, do PSC, que dois anos mais tarde viria a ser preso acusado de corrupção.

O candidato à reeleição também pode contar com o pedaço da caserna que é grata a ele pela generosa reforma da Previdência dos militares, aprovada no início do governo, e que vê Lula como “um comunista perigoso”. De igual maneira, Bolsonaro sabe que tem ao seu lado a parte do agronegócio atraída por discursos a favor do armamento da população e contrários a invasões de terra e a atuação de movimentos como o MST.

Bolsonaro vai investir, novamente, na polarização com a esquerda. Ainda que tenha sido convencido a tentar falar mais dos “feitos do governo”, o presidente não largará a chamada pauta de costumes ou ideológica, buscando se apresentar como “o candidato da família, do bem, de Deus”.

Por óbvio, o Lula investigado e condenado pela Lava Jato será rememorado pela campanha bolsonarista, assim como o desastre econômico do governo de Dilma Rousseff. Bolsonaro fará de tudo para reverberar um sentimento de medo diante da possibilidade de o PT voltar ao poder.

O presidente provavelmente continuará batendo na tecla de que em seu governo “não tem corrupção” e, ao mesmo tempo, buscará se distanciar, evidentemente, de qualquer associação com malfeitos e/ou indícios de malfeitos: ele desdenha do orçamento secreto; justifica a aliança com o Centrão e o toma lá, dá cá como formas de “governabilidade”; e não dá muito peso a escândalos como o das negociações para a compra de vacinas em meio aos momentos mais duros da pandemia e o de “pastores lobistas” no Ministério da Educação.

Com frequência, Bolsonaro se queixa da função que exerce e diz que foi Deus quem o colocou no Planalto e somente Ele, Deus, poderá tirá-lo de lá. É nesse contexto que o atual presidente vai se colocar na campanha, entre motociatas e participações em eventos religiosos, como alguém que tem defeitos, mas que, ainda assim, é “a melhor opção” ou “o menos pior” dos nomes apresentados para a disputa, sempre provocando uma dualidade com “a esquerda, o comunismo, o PT”.

AS APOSTAS DE LULA

Nem sequer os mais otimistas dos petistas poderiam imaginar que, em quatro anos, Lula passaria de preso por corrupção e lavagem de dinheiro a líder nas pesquisas para a Presidência da República. Ninguém trabalhava com a hipótese de o ex-presidente “apodrecer na cadeia”, mas a virada de jogo surpreendeu até os mais entusiastas do cenário atual.

O fato de o ex-presidente, hoje com 76 anos, liderar todas as pesquisas de intenção de voto mostra que deu certo, do ponto de vista do PT, a estratégia de atacar o trabalho da Lava Jato – sobretudo nas pessoas do ex-juiz Sergio Moro e do ex-procurador Deltan Dallagnol – e vender Lula como inocente.

Lula aproveita-se da fragilidade do atual governo – marcado por conflitos e verborragias – e avança, inclusive, sobre eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018 e hoje se dizem decepcionados, em razão, por exemplo, de promessas não cumpridas ou da postura do presidente em meio à pandemia.

A propaganda petista está pronta para, com o avançar da campanha, focar em colocar Lula como alguém que pode “melhorar a vida” dos brasileiros, principalmente no campo da economia. Ignorando propositalmente que o cenário é diferente do de quando assumiu o Planalto pela primeira vez, em 2003, os petistas flertam com a promessa de “picanha e tanque do carro cheio” se ganhar em outubro.

Até pouco tempo atrás, Lula vinha jogando parado. Desde que começou a se colocar como pré-candidato e voltou a discursar publicamente, manteve-se estável nas pesquisas. As aparições mais frequentes serviram, no entanto, para acender alertas na campanha petista, como quando Lula falou em revogar a reforma trabalhista, criticou a classe média e defendeu ampliar o direito ao aborto.

Com o ex-adversário e ex-tucano Geraldo Alckmin como candidato a vice, Lula e aliados tentam vender o ex-presidente como a “opção democrática” para as eleições de outubro. A intenção é desviar o foco do “Lula livre” após condenações da Lava Jato e priorizar a narrativa de que o ex-presidente é o único capaz de derrotar o “monstro fascista Bolsonaro”.

Nessa toada, há quem, no meio político em Brasília, acredite que, se eleito, Lula terá a oportunidade de “fazer as pazes com o país e consigo mesmo” e buscar a tal “pacificação”. Por outro lado, há quem diga conhecer bem o petista e aposte que, uma vez de volta ao Planalto, Lula se mostraria rancoroso e, principalmente, vingativo.

Assista clicando abaixo à íntegra da coluna Conexão Brasília que foi ao ar em 8 de agosto no Nova Manhã, para os ouvintes da Novabrasil FM em todo o país (no período eleitoral, a coluna está indo ao ar às 7h30, de segunda a sexta):

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