A Operação Contenção, deflagrada nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, se tornou a ação policial mais letal do país, segundo a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno. De acordo com a contagem oficial, até o momento, foram registradas 119 mortes – número que supera o do massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, que registrou 111.
As autoridades tinham divulgado na terça-feira (28) que o número de mortes em decorrência da operação era 64, sendo 4 policiais. No entanto, na manhã desta quarta-feira (29), moradores das comunidades encontraram outras dezenas de corpos em uma área de mata. Com isso, o número chega a 119.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), classificou a operação contra o Comando Vermelho como um “sucesso” e disse ainda que as únicas vítimas da ação foram os policiais mortos. Segundo ele, a operação policial foi “um duro golpe” na criminalidade.
A especialista Samira Bueno, no entanto, criticou a operação. “O Cláudio Castro conseguiu o que ele queria. Se queria ser lembrado como o governador da barbárie, da carnificina, conseguiu”, declarou.
Segundo Samira, assim como os presos do Carandiru contaram o que viram durante o massacre, a versão dos moradores do Alemão e da Penha também devem ser levada em consideração.
“É uma história a ser contada pelos moradores. Não teve perícia [corpos foram levados direito para hospitais e recolhidos pelos moradores]. Os legistas vão identificar a causa do óbito e, no máximo, a trajetória do tiro. Vamos aguardar para ver se teremos imagens das câmeras corporais dos policiais. Mas veja, a perícia de corpo, que é a necroscópica, ela é insuficiente para contar essa historia”, acrescentou Samira.
Operação Contenção
A Operação Contenção foi deflagrada nesta terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. A ação mobilizou cerca de 2,5 mil policiais civis e militares, com o objetivo de capturar lideranças criminosas e conter a expansão do Comando Vermelho. Segundo o governo estadual, essa é a maior operação de segurança em 15 anos.
Além dos mortos, a operação deixou seis pessoas feridas, sendo que três não são considerados suspeitos pela polícia. Uma das vítimas é uma mulher que estava dentro de uma academia quando foi baleada. Conforme balanço divulgado pelo governo do Rio de Janeiro, 113 suspeitos foram presos e 10 menores apreendidos.
Em reação à operação, o Comando Vermelho bloqueou ruas e roubou mais de 50 ônibus, paralisando parte da cidade.
O governador do Rio de Janeiro destacou que a operação é resultado de mais de um ano de investigação e 60 dias de planejamento, visando combater o narcotráfico. Segundo ele, criminosos tentaram desviar a atenção das forças de segurança bloqueando a Avenida Brasil e outras vias.
Ainda de acordo com o governo, integrantes da facção utilizaram drones para lançar bombas contra as equipes policiais e a população, no Complexo da Penha, com o objetivo de atrasar o avanço das forças de segurança.
Participaram da operação agentes da Polícia Civil, incluindo a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), delegacias especializadas e distritais, além do Departamento de Combate à Lavagem de Dinheiro e Subsecretaria de Inteligência. Da Polícia Militar, participam o Comando de Operações Especiais (COE) e unidades da capital e da região metropolitana.
Drones, dois helicópteros, 32 veículos blindados terrestres e 12 veículos de demolição, além de ambulâncias, estão entre os equipamentos utilizados pelos policiais.
Moradores das comunidades alvos da operação relataram tiroteios e dificuldade para sair de casa desde o início da manhã. Pedestres caminhavam entre os tiros, enquanto motos eram proibidas e baús e mochilas revistados.



