A exploração sexual de crianças no arquipélago do Marajó voltou a ganhar destaque após a participação da cantora gospel Aymeê Rocha num programa musical. Ela apresentou a música “Evangelho de fariseus”, que faz referências ao tema no Marajó. Essa não é a primeira vez, nos últimos anos, que a questão da pedofilia foi apresentada na região. Em 2022, a então ministra Damares Alves afirmou, durante um culto religioso, ter ouvido relatos de tráfico de crianças que eram submetidas a torturas e práticas desumanas, como ter os dentes arrancados para exploração sexual. Apesar disso, Damares não provou as denúncias.
Em entrevista à Novabrasil, Arnaldo Jordy, ex-deputado federal e Presidente do Cidadania do Pará, reconhece que o problema existe. Segundo ele, não é um tema novo no arquipélago do Marajó, região composta por cerca de 300 ilhas e ilhotas. Na avaliação dele, a violação de direitos de crianças não é um problema particular do Marajó, mas do país inteiro. “No Brasil, há um milhão e meio de crianças violadas, por ano. É uma tragédia nacional”, diz o ex-deputado.
Arnaldo Jordy foi presidente de uma CPI, em 2009, que investigou essa realidade de abusos e violações dos direitos das crianças e adolescentes. De acordo com ele, algumas crianças são abordadas em embarcações e em troca da violação recebem uma nota de dez reais, um litro de querosene ou uma cesta básica.
O Presidente do Cidadania no Pará disse ainda que a questão do tráfico de órgãos não apareceu na investigação da CPI de 2009. Ele declarou que não há nada que indique essa situação. Para Jordy, “o problema já é grave e não há necessidade de revitimizar crianças e adolescentes que passam por isso”.
Ele diz ainda que as condições socioeconômicas no Marajó tornam o assunto mais delicado e, além do disso, tem o problema educacional, já que várias localidades estão conectadas apenas por barcos ou navios. Esses fatores geográficos dificultam o enfrentamento dos crimes, pois a mobilidade é mais dispersa.
Na avaliação do ex-deputado, falta um plano que envolva o governo federal e estadual. “Falta sensibilidade das autoridades, do governador do Estado e das autoridades federais para um projeto que enfrente o problema”.
O ex-deputado classificou as recentes divulgações como sensacionalistas e exageradas. Segundo ele, o problema existe e é difícil de combater porque muitas vezes ocorre dentro de casa. “Os indicadores já foram reduzidos pelo trabalho de algumas entidades e Conselhos tutelares”, completa o entrevistado. Mas, a situação ainda é complexa e necessita de combate.