Nabil Bonduki: “taxa opcional para aterramento de fios vai aumentar desigualdade em SP”

queda de árvores é a principal causa de interrupção de energia
Especialistas apontam o aterramento de fios como uma das soluções para as quedas de energia. Foto: Divulgação Enel

Por Camilo Mota

Em meio ao caos da falta de energia elétrica e queda de árvores em São Paulo, o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MBD), comentou sobre a criação de uma taxa para aterramento dos fios de eletricidade na cidade, o que reduziria os danos aos paulistanos durante tempestades.

A declaração ocorreu durante a reunião entre governo municipal, estadual e as concessionárias de energia, na tarde desta segunda-feira (6). A medida está sendo discutida atualmente pela prefeitura, pela Enel e pela Aneel, a agência do governo federal que é responsável pela regulação do serviço.

Segundo o prefeito, a cobrança, caso venha a ser criada, não seria obrigatória. A cobrança seria aplicada no caso de concordância da maioria dos moradores do quarteirão em questão.

Para o professor titular de Planejamento Urbano da Universidade de São Paulo, Nabil Bonduki, a proposta vai “aguçar a desigualdade na cidade”. “Quem tem condição de pagar, vai pagar, como por exemplo, nos bairros de renda mais alta, Morumbi, Perdizes, Pinheiros, e as outras vão continuar do jeito que estão”, afirmou Nabil durante entrevista ao Jornal Novabrasil.

Atualmente, a cidade de São Paulo conta com uma rede de 20 mil quilômetros de cabos de eletricidade suspensos, enquanto apenas 65 km foram enterrados, segundo informações da Enel. De acordo com a prefeitura da capital, só foram enterrados 38 km, o que representa 0,19%.

O professor Nabil afirmou que a cidade não está preparada para lidar com mudanças e eventos climáticos intensos. Ele apontou a falta de planejamento a longo prazo, o mal cuidado com a arborização da cidade e a rede suspensa como fatores que pioram a resposta à crise energética: “a nossa rede aérea e as condições da arborização da cidade estão absolutamente inadequadas. Nós temos outros problemas como a ocupação do fundo de vales, que não deveriam ser urbanizados”.

A ocupação resulta na impermeabilização e canalização de córregos, que dificultam o escoamento da água das chuvas.  “São Paulo é uma cidade que foi pouco planejada, que não investiu o que precisava ter investido, no passado. Nós temos problemas muito graves e que vão ficar cada vez mais graves”, afirmou.

O professor apontou que seriam necessários R$ 150 bi para o aterramento dos fios na capital. Um valor “muito alto”, mas que poderia ser fracionado em longo prazo, partilhado entre o município, estado, união e concessionárias.

Em contrapartida, o prefeito Ricardo Nunes liberou, em setembro, R$ 500 mil para pavimentação e recapeamento de vias através de dois decretos de crédito adicional suplementar. O programa de Recapeamento da cidade estima gastar até R$ 2,5 bilhões até o final do ano que vem.

O Ministério Público vai investigar se houve omissão da Enel no restabelecimento de energia em São Paulo, e a prefeitura deve apresentar, em 30 dias, um projeto de aterramento dos fios. A Defensoria também solicitou esclarecimentos à Enel.

Enquanto isso, os eventos climáticos continuam acontecendo de forma mais intensa e frequente no país. Em fevereiro, o litoral Norte de São Paulo foi atingido por volumes de chuva nunca antes registrados. Há dois meses, um ciclone extratropical atingiu o Rio Grande do Sul, causando mortes e desalojamentos. No mesmo mês, uma seca prolongada chegou à região da Amazônia.

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