por Lívia Nolla
Hoje, 09 de fevereiro, é uma data especial para a música popular brasileira e é muito curioso que – neste ano – tenha caído em pleno Carnaval!
Nesta data, há exatos 115 anos, nascia uma das maiores artistas da história da música popular brasileira de todos os tempos: Carmen Miranda. E nesta mesma data, a exatos 60 anos, nós nos despedimos de um dos nossos grandes compositores: Ary Barroso.
Para homenagear essas duas figuras tão importantes para a nossa história e para o nosso Carnaval – e que também fazem tão parte um da trajetória do outro – preparamos um pequeno panorama de suas trajetórias artísticas para que vocês os conheçam ainda melhor!
Carmen Miranda
Com uma carreira de sucesso na rádio, no teatro de revista, no cinema e na televisão, a cantora, atriz e dançarina é a artista brasileira mais conhecida no mundo inteiro, tornando-se referência da cultura do nosso país no exterior. Até os dias atuais, nenhum artista brasileiro teve tanta projeção internacional como ela (Anitta tem chegado muito perto deste feito, o que é motivo de orgulho para todos nós!).
Carmen Miranda contribuiu para o enaltecimento da música e da cultura brasileira no mundo. Ela foi a primeira intérprete do samba a divulgar o gênero em âmbito internacional.
Nascida Maria do Carmo Miranda da Cunha, em 1909, na cidade Marcos de Canaveses – em Porto, Portugal – ela emigrou com sua família para o Brasil quando tinha menos de um ano de idade (coisa que já estava marcada para acontecer antes mesmo do seu nascimento).
Ganhou o apelido de Carmen, em homenagem a uma famosa ópera francesa, de 1875, e nunca mais voltou à cidade onde nasceu, que nomeou um museu municipal com o seu nome.
Carmen Miranda já cantava desde sempre, sonhava em ser artista e estava sempre cantarolando nas lojas em que trabalhava quando adolescente. Em 1928, foi apresentada para o cantor, instrumentista e compositor Josué de Barros, que a levou para trabalhar na Rádio Sociedade Professor Roquete Pinto.
No ano seguinte, a menina luso-brasileira já gravava a sua primeira música, por uma gravadora norte-americana que atuava no Brasil, a Brunswick Records: a canção era Não Vá Simbora, de Josué de Barros. Logo, a cantora foi apresentada ao diretor da gravadora RCA Victor, que – impressionado com sua bela voz – a convidou para gravar o seu primeiro disco 78 RPM (Rotações Por Minuto).
Em 1930, a cantora gravou a marcha Taí ou Ta-Hi (Pra Você Gostar de Mim), do famoso compositor Joubert de Carvalho, e a canção tornou-se um sucesso nacional, vendendo mais de 35 mil cópias no ano de lançamento, recorde absoluto para a época. A partir de então, Carmen Miranda passou a ser aclamada pela crítica como a principal intérprete de samba dos anos 30 e maior cantora do Brasil.
Em 1932, Carmen assinou um contrato que durou quatro anos, com a rádio Mayrink Veiga, ganhando um cachê mensal, fato que a tornaria a primeira cantora de rádio a assinar um contrato de trabalho com uma emissora, quando a praxe era o cachê por participação do artista. Ela foi a artista de rádio mais bem paga do país na sua época.
Como era comum para os cantores e cantoras da época, Carmen Miranda, já como uma estrela bem estabelecida na música popular e no rádio, começou a atuar no cinema e foi convidada para participar dos primeiros filmes sonoros lançados na década de 30.
A artista participou de muitas produções cinematográficas brasileiras, como Alô, Alô, Brasil (1935), que a coloca como a figura mais popular do cinema brasileiro, e Alô, Alô, Carnaval (1936), com o qual tornou-se a grande estrela, por sua icônica interpretação da canção Cantoras do Rádio, de Josué De Barros, Lamartine Babo e A. Ribeiro.
Em 1939, o filme carnavalesco Banana da Terra, de Ruy Costa, lançou-a internacionalmente, por conta de sua icônica interpretação da canção O Que É Que a Baiana Tem, de Dorival Caymmi. Foi então convidada para trabalhar na Broadway e, acompanhada do conjunto vocal Bando da Lua, mudou-se para os Estados Unidos, onde estrelou diversos filmes e peças de teatro de revista, tornando-se muito popular no país
Carmen Miranda chegou até a cantar para o presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, na Casa Branca, e foi a primeira artista sul-americana a ter uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. Em 1945, ela foi a artista mais bem paga dos Estados Unidos.
Com seu figurino tipicamente tropical e seus característicos chapéus de frutas, ganhou o apelido de Pequena Notável, no Brasil (por conta da baixa estatura e imenso destaque), e de The Brazilian Bombshell (brasileira explosiva) ou The Chiquita Banana Girl, no exterior.
Entre os anos de 1929 e 1950, Carmen Miranda gravou quase 150 discos de 78 RPM.
Em 20 anos de carreira, Carmen Miranda deixou sua bela voz registrada em mais de 300 canções. A voz que conquistou o mundo, foi considerada a 15ª maior da história da música brasileira, pela Revista Rolling Stone Brasil, que também a classificou como a 35.ª maior artista da música brasileira.
Outras canções eternizadas na voz de Carmen Miranda foram: Tico Tico no Fubá (de Aloysio de Oliveira e Zequinha Abreu), Na Baixa do Sapateiro e No Tabuleiro da Baiana (ambas de Ary Barroso); Isso É Lá Com Santo Antônio (de Lamartine Babo e Mário Reis), Chica Chica Boom (de Harry Warren e Mack Gordon), Sonho de Papel (de Alberto Ribeiro), Chiquita Bacana (de João de Barro e Alberto Ribeiro) e E O Mundo Não Se Acabou (de Assis Valente).
Carmen Miranda nos deixou muito cedo, aos 46 anos, vítima de um ataque cardíaco fulminante, mas ficou para sempre marcada na nossa memória popular e na nossa história.
Você quer saber mais sobre a história incrível dessa artista tão importante para o Brasil?
Inclusive sobre as críticas que ela recebeu de brasileiros que a acusavam de expor uma visão caricata e estereotipada do Brasil, e como Carmen Miranda respondia a isso, dizendo ter muito orgulho de exaltar o seu país e lançando o icônico samba Disseram Que Voltei Americanizada, composto especialmente para ela por Vicente Paiva e Luiz Peixoto?
Ou também quer entender um pouco mais sobre a morte precoce da artista, que desde muito cedo fez uso de barbitúricos para aguentar a agenda exaustiva de trabalho e as cobranças que sentia?
Então escute o Acervo MPB Carmen Miranda. Nossa série de áudio-biografias original Novabrasil traz um episódio completíssimo, contando tudo sobre a vida e a obra da Pequena Notável.
Lá você também conhece todas as homenagens póstumas e obras audiovisuais produzidas e na literatura sobre a história da artista.
É impossível pensar em Brasil e não pensar em Carmen Miranda. Viva este grande ícone da nossa cultura!
Ary Barroso
O compositor, pianista, locutor e apresentador mineiro Ary Barroso nos deixou em 09 de fevereiro de 1964, aos 60 anos e há exatos 60 anos, vítima de uma cirrose hepática, mas não sem antes deixar um imensurável legado para a música popular brasileira.
É impossível falar de música popular brasileira e não falar de Ary Barroso!
Autor recorrente no repertório de artistas como Carmen Miranda e Francisco Alves, o compositor deixou uma obra que atravessou o tempo e as fronteiras do Brasil, e até hoje é interpretado por grandes nomes da música nacional e internacional.
Nascido em Minas Gerais, em 1903, Ary Barroso começou a estudar piano ainda criança e, aos 12 anos, já trabalhava como pianista auxiliar no Cinema Ideal, em Ubá, sua cidade natal. Aos 15, compôs sua primeira canção: o cateretê De Longe.
Na juventude, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar Direito e a faculdade foi muito importante na consolidação da sua veia artística. Na cidade carioca, trabalhou como pianista no Cinema Íris e na sala de espera do Teatro Carlos Gomes.
Passou a tocar em diversas orquestras e a dedicar-se mais seriamente à composição, fazendo parcerias com Lamartine Babo, seu contemporâneo na Faculdade de Direito, que veio a tornar-se outro importante nome da nossa música.
Em 1929, depois de formados, seu colega de faculdade e grande incentivador – o cantor e compositor da Era do Rádio, Mário Reis – gravou duas canções de Ary Barroso: Vou à Penha e Vamos Deixar de Intimidade, que se tornou o seu primeiro sucesso popular.
Nos anos 1930, Ary escreveu as primeiras composições para o teatro musicado carioca. foi aí que surgiu a antológica canção Aquarela do Brasil, considerada por muita gente como o segundo hino nacional do Brasil e responsável por inaugurar o gênero “samba-exaltação”.
A ideia do autor, era criar um samba que demonstrasse seu amor pela cultura brasileira, exaltando e valorizando – principalmente – o povo negro e as belezas naturais do nosso país.
Em 1944, Ary Barroso recebeu o diploma da Academia de Ciências e Arte Cinematográfica de Hollywood pela trilha sonora do longa-metragem Você já foi à Bahia?, também de Walt Disney.
No mesmo ano, foi indicado ao Oscar de Melhor Canção Original, com a música Rio de Janeiro, do filme Brasil, produção americana dirigida por Joseph Santley.
A partir de 1943, manteve durante vários anos o programa A Hora do Calouro, na Rádio Cruzeiro do Sul, do Rio de Janeiro, no qual revelou e incentivou novos talentos musicais. Também trabalhou como locutor esportivo.
Durante a década de 1940 e a década de 1950, Ary Barroso compôs vários dos sucessos consagrados por Carmen Miranda no cinema. Foi o compositor mais gravado pela artista de prestígio internacional, com mais de 30 músicas.
Ao todo, são conhecidas mais de 260 composições de autoria de Ary Barroso. Ele é autor de centenas de composições em estilos variados, como choro, xote, marcha, foxtrote e samba.
Entre suas composições mais famosas também estão os clássicos: No Tabuleiro da Baiana (1936); Quando Eu Penso na Bahia (1937); Na Baixa do Sapateiro (1938), Boneca de Pixe (parceria com Luis Iglesias, de 1938), Camisa Amarela (1939), Os Quindins de Yayá (1941), Pra Machucar Meu Coração (1943) e Risque (1952).
Em 1931, compôs – com Lamartine Babo – No Rancho Fundo, música que – anos depois, no fim da década de 80 – tornou-se um grande clássico na voz de Chitãozinho e Xororó.
Viva Carmen Miranda, Ary Barroso, o samba e o Carnaval brasileiro!