65 anos de Zeca Pagodinho

por Lívia Nolla

Hoje é dia de celebrar a vida de um dos maiores sambistas da nossa história: o cantor e compositor carioca Zeca Pagodinho completa 65 anos e nós preparamos uma matéria especial para homenageá-lo.

Zeca Pagodinho | Imagem: Divulgação (Site Oficial)
Zeca Pagodinho | Imagem: Divulgação (Site Oficial)

O início de tudo

O artista começou sua carreira nas rodas de samba dos bairros de Irajá, onde nasceu, e Del Castilho, onde cresceu, no subúrbio do Rio de Janeiro. Filho de Seu Jessé e Dona Irinéa, quarto de uma família de cinco crianças, desde cedo já trocava as aulas por uma boa roda-de-samba. Por isso, depois da quarta-série, não quis mais saber de escola.

Morou em vários bairros do Rio, mas sempre teve uma relação muito especial com Xerém (distrito de Duque de Caxias), onde tem um sítio e uma escola de música para crianças da região, e uma forte relação com a comunidade.

Nos anos 70, quando o partido-alto começava a se tornar uma febre nos subúrbios do Rio, entre um samba e outro, Zeca se virava como podia: foi feirante, camelô, office-boy, contínuo e anotador de jogo do bicho. Desta época, surgiram amizades valorosas como Monarco, Mauro Diniz, Almir Guineto e Arlindo Cruz. Freqüentava também as rodas do Cacique de Ramos.

Zeca Pagodinho | Foto: José Doval / Agência O Globo (1986)

Primeiras Gravações

No inicio dos anos 80, Zeca Pagodinho começou a se estabelecer como um versador de respeito: em parceria com o flautista e partideiro Cláudio Camunguelo, teve sua primeira composição gravada: Amargura. A faixa entrou no repertório do segundo disco do grupo Fundo de Quintal, fundado em 1977 e originário do Cacique de Ramos.

A aproximação com o grupo, levou Zeca para perto de Beth Carvalho, grande Madrinha do Samba, que tornou-se também sua madrinha e gravou o primeiro grande sucesso de Zeca Pagodinho em parceria com Arlindo Cruz e Beto Sem Braço: Camarão que Dorme a Onda Leva, em 1983, que ganhou até clipe no Fantástico.

A madrinha ainda gravou Jiló com Pimenta (de Arlindo Cruz e Zeca). Depois, foi a vez de Alcione registrar Mutirão do Amor (de Zeca, Sombrinha e Jorge Aragão), no LP Almas e Corações, de 1983.

Em 1985, com o pagode se preparando para estourar no Brasil, Zeca participou da coletânea Raça Brasileira, com suas canções Mal de Amor (parceria com Mauro Diniz e Beto Sem Braço), Garrafeiro (parceria com Mauro Diniz), A Vaca (parceria com Alcino Correia “Ratinho”) e o grande hit Bagaço da Laranja (parceria com Arlindo Cruz, Pedrinho da Flor e Baiano).

Zeca Pagodinho durante apresentação na casa de shows Asa Branca, em 1988 | Foto de Athayde dos Santos/Agência O GLOBO

Primeiros álbuns

No ano seguinte, Zeca Pagodinho lançou seu primeiro disco solo, em que interpreta grandes sucessos como Coração em Desalinho (de Monarco e Alcino Correia “Ratinho”), Judia de Mim (sua parceria com Wilson Moreira) e Brincadeira tem Hora (parceria com Beto Sem Braço), atingindo a marca de um milhão de cópias vendidas e já consagrando-se com um dos maiores sambistas da história do Brasil.

Em 1987 veio o segundo álbum – Patota de Cosme – e, de 1988 a 1993, Zeca lançou um álbum por ano: Jeito Moleque (1988), Boêmio Feliz (1989), Mania da Gente (1990), Pixote (1991), Um dos Poetas do Samba (1992) e Alô, Mundo! (1993).

Em 1995, o sambista lançou o álbum Samba Pras Moças, que tem em seu repertório canções como: Vou Botar teu Nome na Macumba (parceria dele com Dudu Nobre) e Guiomar (de Nei Lopes). O próximo disco, Deixa Clarear, de 1996, trouxe alguns dos maiores sucessos da sua carreira como: Verdade (de Nelson Rufino e Carlinhos Santana); Conflito (Arlindo Cruz, Sombrinha e Marquinho PQD); Não Sou Mais Disso (parceria com Jorge Aragão); e Jiló com Pimenta (parceria de Zeca e Arlindo Cruz).

Zeca Pagodinho em show | Foto: Site Oficial
Zeca Pagodinho em show | Foto: Site Oficial

Mais e mais sucessos

Nos anos seguintes, ainda vieram os álbuns Hoje É Dia de Festa (que traz o sucesso Faixa Amarela, parceria de Zeca com Jessé Pai, Luis Carlos e Beto Gago, em 1997); Zeca Pagodinho (1998), Zeca Pagodinho Ao Vivo (1999); Água da Minha Sede (2000, que traz os sucesso Vacilão, de Zé Roberto; e Jura, de J. B. da Silva “Sinhô”).

Em 2002, o álbum Deixa a Vida Me Levar estabeleceu o artista como um dos grandes nomes da música brasileira, trazendo o grande sucesso da faixa-título (composição de Serginho Meriti e Eri do Cais), que virou o tema da Copa do Mundo daquele ano.

O disco ganhou o prêmio de Melhor Álbum de Samba no Grammy Latino de 2002 e também apresentou o sucesso Caviar (de Luiz Grande, Barbeirinho do Jacarezinho e Marquinhos Diniz).

Em 2003, o artista lançou o Acústico MTV Zeca Pagodinho, em CD e DVD. O disco foi um sucesso instantâneo. Em 2005 foi a vez do álbum À Vera, e – em 2006 – Zeca repetiu a parceria com a MTV que, de forma inédita, resolveu repetir o projeto acústico com um mesmo artista, com Acústico MTV 2: Gafieira – Zeca Pagodinho.

Em 2008, o sambista lançou Uma Prova de Amor, álbum com 16 faixas, sendo 13 inéditas e três regravações. Sob produção musical de Rildo Hora, o disco conta com participação especial de João Donato em Sambou, Sambou, releitura de uma canção do próprio pianista; de Jorge Ben Jor na emocionante Ogum (de Claudemir e Marquinho PQD), na qual recita a oração de São Jorge; e da Velha Guarda da Portela, parceira de longa data de Zeca.

Em 2010, Pagodinho lançou seu 22º álbum, Vida da Minha Vida, dedicado a sua madrinha Beth Carvalho.

Em 2012, Zeca fez uma nova edição do O Quintal do Pagodinho, gravado ao vivo em Xerém, no seu sítio. No projeto, alguns de seus compositores favoritos gravaram seus próprios sucessos, como: Sombrinha, Zé Roberto,Toninho Geraes, Almir Guineto, Serginho Meriti, Dudu Nobre, Jorge Aragão, Monarco, Mauro Diniz e Juliana Diniz.

Zeca Pagodinho | Foto: Divulgação
Zeca Pagodinho | Foto: Divulgação

30 anos e contando!

Em 2013 começaram as celebrações de seus 30 anos de carreira, com o lançamento do álbum Zeca Pagodinho Multishow Ao Vivo: 30 anos, Vida que Segue, onde interpreta sambas de sua história afetiva. Músicas como: Trem das Onze (Adoniran Barbosa); Diz Que Fui Por Aí (Zé Keti e Hortênsio Rocha); O Sol Nascerá (Cartola e Elton Medeiros); e Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira) em belos arranjos e participações especiais de nomes como Paulinho da Viola, Marisa Monte, Yamandú Costa, Hamilton de Holanda e Mauro Diniz.

Em 2015, depois de cinco anos sem lançar um disco de músicas inéditas, Zeca lançou  seu 23º álbum: Ser Humano, trazendo canções de Monarco, Amir Guineto, Nelson Rufino, entre outros compositores.

No ano seguinte, a terceira edição do projeto O Quintal do Pagodinho foi lançada em CD e DVD: no quintal de seu sítio em Xerém, Zeca celebra, mais uma vez, o melhor do samba reunindo seu time de compositores, além de receber convidados como Maria Bethânia, Paulinho da Viola, João Bosco, entre outros.

Nos extras, o artista interpreta uma música inédita de Moacyr Luz e Toninho Geraes, com a participação dos alunos do Instituto Zeca Pagodinho, e apresenta, em primeira mão, a Tendinha Buraco Quente, um novo anexo do seu Quintal.

Em 2017, Zeca Pagodinho foi homenageado no musical Zeca Pagodinho – Uma história de amor ao samba, que retratou a sua vida e obra. Neste mesmo ano, Zeca realizou pela primeira vez em sua carreira uma roda de samba aberta ao público: o Samba do Zeca levou ao Jockey Club do Rio de Janeiro um pouco do clima musical do Quintal do artista, em Xerém.

O evento promoveu encontros entre bambas de diferentes gerações, como Monarco, Xande de Pilares, Marcelo D2, Maria Rita, Gilberto Gil, Mariana Aydar e Diogo Nogueira.

Em 2018, depois de cantarem juntos no projeto O Quintal do Pagodinho, Maria Bethânia e Zeca Pagodinho dividiram o palco pela primeira vez. Os artistas saíram em uma turnê nacional, com hits da carreira dos dois, além de canções inéditas de Caetano Veloso e de Leandro Fregonesi, feitas especialmente para esse encontro, assim como sambas clássicos da Mangueira e Portela, em homenagem às escolas do coração dos dois.  O show foi gravado e lançado como CD e DVD Ao Vivo.

Ainda em 2018, Zeca embarcou para mais uma turnê internacional, cantando sucessos dos seus 35 anos de carreira. Com estreia em Paris, o show passou por Berlim, Lisboa, Genebra, Zurique, Porto e Londres.

Em 2019, Zeca Pagodinho lançou seu 24º álbum de carreira, Mais Feliz.

 

Zeca Pagodinho no Festival Turá, em 2023 | Foto: Divulgação
Zeca Pagodinho no Festival Turá, em 2023 | Foto: Divulgação

E ele não pára!

Zeca Pagodinho foi fazendo história e influenciando uma geração de sambistas que veio depois dele, sendo considerado, por especialistas e estudiosos da história do samba, como um dos mais prodigiosos versadores de partido alto de sua geração, dado sua intensa participação em rodas de samba do bloco Cacique de Ramos no início de sua carreira.

Como intérprete, é reverenciado no universo do samba por conseguir perpassar com fidelidade a emoção e o sentido das canções que interpreta, sempre aliando o lirismo ao estilo jocoso e desregrado.

Ao longo de sua carreira, é notável sua evolução de compositor de sambas para um intérprete de outros compositores de gerações mais novas e também de gerações passadas, tendo regravado diversas canções de compositores que considera suas referências, como Monarco e Noel Rosa.

Em 2021 – com mais de 40 anos de carreira, mais de 25 discos gravados e quatro Grammys Latinos Zeca Pagodinho foi empossado Imortal da recentemente criada Academia Brasileira de Cultura, por sua contribuição para a música e a cultura popular brasileira.

 

Zeca Pagodinho | Foto: Divulgação

Aproveite a nossa Playlist Especial do melhor do samba de Zeca Pagodinho pra vocês, em comemoração aos 65 anos do sambista. Viva, o grande Zeca Pagodinho!

  1. Camarão que Dorme a Onda Leva
  2. Garrafeiro
  3. A Vaca 
  4. Bagaço da Laranja
  5. Coração em Desalinho
  6. Judia de Mim
  7. Brincadeira tem Hora
  8. Vou Botar teu Nome na Macumba
  9. Verdade
  10. Deixa a Vida Me Levar
  11. Vacilão
  12. Jura
  13. Ogum
  14. Caviar
  15. Faixa Amarela

 

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