Procedimentos cirúrgicos, mesmo quando eletivos ou estéticos, não são isentos de risco. Notícias recentes sobre complicações graves após cirurgias plásticas acendem um alerta importante: a avaliação de risco cirúrgico é essencial para a segurança do paciente.
O que é o risco cirúrgico?
É uma avaliação médica feita antes da cirurgia, geralmente pelo cardiologista, com o objetivo de estimar a probabilidade de eventos como:
• Infarto agudo do miocárdio
• Embolia pulmonar
• Derrame cerebral (AVC)
• Arritmias
• Infecção
• Trombose venosa profunda (TVP)
Mesmo pacientes jovens, sem sintomas, podem apresentar riscos ocultos – especialmente em procedimentos com tempo cirúrgico prolongado, associação de várias cirurgias (como lipo + prótese + abdominoplastia) ou uso prévio de medicações hormonais, como implantes hormonais (chips) e reposição hormonal oral ou injetável, que aumentam o risco de trombose.
O que influencia no risco?
Segundo a nova diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2024), o risco não depende só do paciente. São levados em conta:
• Condições clínicas individuais: como hipertensão, obesidade, diabetes, histórico familiar de infarto ou AVC
• Tipo de cirurgia: quanto mais invasiva, demorada ou com maior perda de sangue, maior o risco
• Capacidade funcional: pacientes que não conseguem subir dois lances de escada têm risco maior
• Avaliação de fragilidade: importante especialmente em idosos
• Interação com medicamentos: o uso de hormônios, anticoagulantes, diuréticos, entre outros, precisa ser cuidadosamente ajustado
O que diz a nova diretriz da SBC?
A Diretriz de Avaliação Cardiovascular Perioperatória – 2024 trouxe atualizações importantes:
• Introdução do uso de novos escores de risco, como o AUB-HAS2, além do tradicional RCRI
• Capacidade funcional passa a ser avaliada de forma simples e eficaz, como a habilidade de subir escadas
• Avaliação objetiva da fragilidade em idosos passou a ser recomendada de forma sistemática
• Manutenção de betabloqueadores e estatinas no perioperatório, salvo exceções
• Criação do Perioperative Risk Team – uma equipe multidisciplinar que acompanha pacientes de maior risco desde o pré até o pós-operatório
Cirurgia estética não é exceção
Cirurgias plásticas também envolvem anestesia, manipulação de tecidos, risco de sangramento, infecção e trombose. E o risco aumenta quando são realizados múltiplos procedimentos em uma única cirurgia, ou quando o tempo total ultrapassa 4 a 6 horas.
Outro fator relevante e pouco discutido é o uso de hormônios em implantes ou “chips da beleza”, amplamente utilizados em contextos estéticos. Eles podem aumentar significativamente o risco de trombose venosa profunda e embolia pulmonar, especialmente em pacientes predispostos.
Onde a cirurgia é realizada também importa
Um ponto fundamental para a segurança do paciente é realizar a cirurgia em ambiente hospitalar, com estrutura adequada para monitorização cardíaca contínua e atendimento de emergência, incluindo desfibrilador cardíaco e suporte avançado de vida. Consultórios, clínicas sem centro cirúrgico estruturado ou locais sem retaguarda hospitalar aumentam o risco em caso de intercorrências.
Escolha do cirurgião também é um fator de segurança
Para confirmar se um cirurgião plástico é qualificado, verifique se ele é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e se possui registro ativo no Conselho Regional de Medicina (CRM) da sua região. Essas informações podem ser confirmadas nos sites da SBCP, do Conselho Federal de Medicina (CFM) ou do CRM do seu estado.
Segurança se conquista com planejamento
Evitar complicações envolve:
• Avaliação clínica e cardiológica individualizada
• Controle das doenças crônicas e fatores de risco
• Ajuste ou suspensão de medicamentos que podem aumentar o risco
• Escolha cuidadosa da equipe cirúrgica e do local do procedimento
• Monitoramento adequado no pós-operatório
Cirurgia segura começa fora da sala de cirurgia. Não ignore a etapa do risco cirúrgico, mesmo em procedimentos estéticos. A prevenção pode salvar vidas



