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Falar sobre a morte também é cuidar: o que a medicina ainda precisa aprender sobre o luto

Mesmo com os avanços da medicina, o luto ainda é um tabu — inclusive entre os próprios profissionais de saúde. Em uma cultura que valoriza o desempenho, a juventude e o progresso, a morte costuma ser vista como fracasso. Mas ela faz parte da vida, e precisa ser reconhecida como tal para que o cuidado seja verdadeiramente integral.

Silêncio que adoece

O sofrimento raramente começa na hora da morte. Muitas vezes, inicia-se no chamado luto antecipatório, que ocorre quando o paciente recebe um diagnóstico grave e sem possibilidade de cura. A partir daí, surgem perdas simbólicas e emocionais: da autonomia, dos sonhos, da identidade. Ignorar essa dor é falhar no cuidado.

“A medicina ainda hesita em falar sobre a morte, como se o silêncio fosse uma forma de proteção”, afirma a geriatra Julianne Pessequillo. “Mas calar sobre a finitude é negar ao paciente e à família a chance de viver esse momento com presença, dignidade e até amor.”

O papel da escuta diante da finitude

Na prática clínica, muitas equipes evitam tocar no tema da morte, como se isso enfraquecesse o vínculo terapêutico. O que ocorre é o contrário: quando o médico se dispõe a ouvir com empatia, a dor se torna mais leve e o cuidado mais humano. Mesmo quando não há possibilidade de cura, ainda é possível aliviar sintomas, oferecer conforto e garantir que o paciente seja visto e respeitado em sua integridade.

“Cuidar de quem parte é também cuidar de quem fica”, lembra a médica. O luto não é algo a ser resolvido ou superado rapidamente, mas um processo que precisa ser acolhido. Quanto mais humanizado for o fim da vida, mais leve será a travessia de quem fica — e mais digna será a despedida.

Foto: Divulgação.

Medicina paliativa como resposta ética

Nesse contexto, os cuidados paliativos ganham protagonismo. Mais do que uma especialidade, representam uma filosofia de cuidado centrada na escuta ativa, no alívio do sofrimento e no respeito à vontade do paciente. Tratar a morte como parte natural da existência — e não como uma falha — é um passo necessário para uma medicina mais empática e sensível às dores humanas.

“A medicina falha não quando a morte acontece, mas quando ignora que ainda há muito a ser feito até o último instante”, conclui a geriatra. Reconhecer isso é também uma forma de honrar a vida — inteira, até o fim.

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