Nilo Romero: a história da música “Brasil”, sucesso na voz de Cazuza

O baixista, compositor e produtor musical carioca Nilo Romero completa 63 anos amanhã, no primeiro dia de agosto.

E, para homenagear o aniversariante do mês e seguir homenageando grandes compositores da nossa MPB – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quanto cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Entre os inúmeros sucessos compostos por Nilo Romero, escolhemos contar a história de dois grandes clássicos:  Solidão Que Nada e Brasil, ambas compostas em parceria com Cazuza e George Israel.

Cazuza e Nilo Romero | Foto: Reprodução

Nilo Romero

Nilo Romero começou sua trajetória profissional em 1982  – ao longo de sua carreira – atuou como produtor musical, compositor ou diretor de shows de diversos artistas, como:

  • Cazuza;
  • Kid Abelha;
  • Gal Costa;
  • Leo Jaime;
  • Marina Lima;
  • Paulinho Moska;
  • Paulo Ricardo;
  • e Ana Carolina

Nilo estudou com o Frejat, eles tocavam juntos em uma banda de colégio e depois cada um acabou seguindo sua trajetória. Anos depois – quando Frejat e Cazuza já estavam juntos no Barão Vermelho, Nilo conheceu Cazuza. Eles foram firmando uma amizade e se encontravam muito no Baixo Leblon, no Rio.

Até que, quando Cazuza saiu do Barão e foi fazer carreira solo, o artista chamou Nilo Romero para ser o baixista de sua banda, durante a turnê do seu primeiro disco, de 1985.

A partir daí, Romero trabalhou com Cazuza até o fim da vida do cantor. Ele dividiu a produção do álbum Ideologia, de 1988, com Cazuza e Ezequiel Neves; e foi o último a dirigir Cazuza no palco, na turnê O Tempo Não Para, da qual ele também era baixista e a qual gerou um álbum ao vivo, também em 88, produzido por Nilo.

Saudando Grandes Compositores da MPB

A história da música “Solidão Que Nada” (1987), de Nilo Romero, Cazuza e George Israel

Na época em que passou a ser baixista e depois produtor de Cazuza, Nilo Romero dividia casa com o então saxofonista do Kid Abelha e também compositor carioca George Israel.

George já havia composto uma música em parceria com Cazuza e FrejatAmor Amor – que entrou na trilha do filme Bete Balanço, dirigido por Lael Rodrigues, em 1984. 

A música tema do filme, composta só por Cazuza e Frejat, foi a música que fez com que o Barão Vermelho (banda dos dois na época) estourasse para o Brasil inteiro,

Depois dessa primeira composição juntos, George Israel e Cazuza firmaram uma parceria de sucesso. A segunda música que Cazuza pediu que George compusesse para que ele colocasse letra foi em parceria com Nilo Romero: Solidão Que Nada, que entrou para o segundo álbum solo do artista, Só Se For a Dois

Esta foi a primeira parceria entre Cazuza e Nilo. E a letra de Cazuza foi – inclusive – inspirada no baixista.

Um dia, quando eles estavam no aeroporto voltando de alguma turnê do Cazuza com a banda toda, Nilo Romero – que tinha conhecido uma moça durante a viagem – estava se despedindo dela com um beijo apaixonado, quando escutou seu nome no alto-falante do aeroporto:

“Senhor Nilo Romero, voo 427 para o Rio de janeiro, embarque imediato!”. 

Ele continua a narrar a história, no livro Cazuza – Preciso dizer que te amo: todas as letras do poeta (Globo, 2001): 

“- Tchau, a gente se vê. 

– Ah! E o telefone?

– Tem um papel? 

– Tenho. 

– Cadê a caneta? 

– Então tá.’

Saio correndo, subo as escadas e, finalmente, entro no avião. Me deparo então com todos os passageiros olhando para mim com aquela cara de reprovação.

Procuro então com meu olhar os companheiros de banda, em busca de alguma cumplicidade. Estava atrasado, mas, afinal era por uma boa causa! Não adiantou. Estava todo mundo puto., a fim de ir logo embora pra casa. Tudo bem, então vamos sentar. Mas cadê o meu lugar? Só tinha um lugarzinho no meio, e quem me conhece sabe que odeio viajar no meio. Sou meio claustrofóbico e gosto mesmo é de corredor. 

Sentado numa das poltronas do corredor, observando tudo, estava Cazuza, uma das únicas pessoas de bom humor naquele avião. Ele sabia que eu detestava a poltrona do meio. 

Nilo Romero! (ele tinha a mania de chamar as pessoas pelo nome e sobrenome). 

Trocamos. Na passagem, eu deixo cair um papel do bolso (o papel com o telefone da moça). Cazuza pega, olha, me sacaneia e pronto. Ele iria chegar em casa e fazer uma de suas maravilhosas letras. Desta vez seria uma road song. Uma homenagem à vida na estrada, com todo seu glamour e vazio”.

Eis a belíssima letra que o poeta Cazuza compôs em cima da música de Nilo Romero e George Israel e inspirado por esse episódio do aeroporto:

Cada aeroporto
É um nome num papel
Um novo rosto
Atrás do mesmo véu

Alguém me espera
E adivinha no céu
Que meu novo nome é
Um estranho que me quer

E eu quero tudo
No próximo hotel
Por mar, por terra
Ou via Embratel

Ela é um satélite
E só quer me amar
Mas não há promessas, não
É só um novo lugar

Viver é bom
Nas curvas da estrada
Solidão, que nada
Viver é bom
Partida e chegada
Solidão, que nada 

A história da música “Brasil” (1988), de Nilo Romero, Cazuza e George Israel

Em seguida, veio a segunda parceria entre os três artistas – Nilo Romero, Cazuza e George Israel – o grande hino que atravessa gerações e gerações: Brasil, de 1987.

Cazuza pediu que Nilo e George fizessem mais uma música para que ele colocasse a letra, pois estava fazendo outra canção sob encomenda para o cineasta Lael Rodrigues, o mesmo diretor de Bete Balanço, desta vez para a trilha sonora do filme Rádio Pirata.

Quando Nilo e George entregaram a música, Cazuza achou linda, mas pediu que eles a transformassem em algo mais vigoroso, “mais porrada”. Foi quando eles tiveram a ideia de colocar umas influências mais brasileiras, misturando o rock’n roll e as batidas eletrônicas com divisões de samba em tamborim.

Isso provavelmente inspirou o poeta Cazuza a escrever esta letra sobre o Brasil, uma das letras mais politizadas do artista, sobre a qual ele mesmo fala:

Brasil é um deboche sem autocompaixão, em que eu peço à pátria que me conte todas as suas sacanagens, que eu não vou espalhar para ninguém. Os problemas do Brasil parecem os mesmos desde o descobrimento: renda concentrada, a maioria da população sem acesso a nada. O problema todo do Brasil é a classe dominante, mais nada”.

Quando Ezequiel Neves, grande amigo, parceiro e produtor de Cazuza escutou a música pela primeira vez, ele falou:

“Isso aí é um hino, vai ser o próximo hino do Brasil”.

E foi mesmo. Coisa que nem mesmo os compositores da música imaginavam.

Brasil entrou para o álbum Ideologia, de 1989, mas ganhou mais força ainda com a versão gravada por Gal Costa no mesmo ano, para a abertura da icônica novela Vale Tudo (aquela da Odete Roitman!).

​​Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Nilo Romero.

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