Neste Dia das Crianças, vamos relembrar uma das músicas mais emblemáticas sobre o tema já composta na história da nossa MPB: “Meus Tempos da Criança“.
A canção é um clássico do cantor e compositor mineiro Ataulfo Alves e fala sobre a relação dele com a sua infância, mas poderia ser sobre a infância de muitos de nós. Tanto que “Meus Tempos da Criança” foi regravada por vários outros nomes, como vamos conhecer nesta matéria especial.
A infância de Ataulfo Alves
Mineiro da pequena cidade de Miraí, Ataulfo Alvesteve uma infância simples, e soube aproveitar a riqueza das descobertas de uma criança típica de uma cidade interiorana e rural.
Um dos sete filhos de um violeiro, acordeonista e repentista da Zona da Mata chamado “Capitão” Severino, Ataulfo começou a escrever versos logo aos oito anos de idade!
Também foi leiteiro, condutor de bois, carregador de malas, menino de recados, engraxate, marceneiro e lavrador, ao mesmo tempo em que frequentava a escola.
Foi toda essa vivência em Miraí o inspirou a compor o samba ”Meus Tempos de Criança”, já em 1956, já com quase 50 anos, sentindo uma saudade dos tempos em que era apenas um menininho. Ao reavaliar momentos fugazes de um tempo que não volta mais, Ataulfo reflete sobre o próprio sentido da vida, em uma canção poética e ao mesmo tempo que demonstra toda nostálgica.
“Eu daria tudo que eu tivesse
Pra voltar aos dias de criança
Eu não sei pra que que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança
Aos domingos, missa na matriz
Da cidadezinha onde eu nasci
Ai, meu Deus, eu era tão feliz
No meu pequenino Miraí
Que saudade da professorinha
Que me ensinou o beabá
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor, onde andará?
Eu igual a toda meninada
Quanta travessura que eu fazia
Jogo de botões sobre a calçada
Eu era feliz e não sabia”
A temática de ”Meus Tempos de Criança” pode ser – inclusive – comparada ao poema “Meus Oito Anos”, do poeta brasileiro Casimiro de Abreu, publicado em sua coletânea “As Primaveras” (1859):
“Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais”
Versões de “Meus Tempos de Criança”
Quem nunca, depois de adulto, sentiu falta de seus tempos de criança? Da liberdade, da pureza, da falta de preocupações e responsabilidades, da vontade imensa de explorar o mundo…
É um sentimento tão universal, que a canção de Ataulfo Alves foi regravada mais de 60 vezes. Hoje, trouxemos 10 versões de gravações diferentes de ”Meus Tempos de Criança” para você conhecer:
1- Ataulfo Alves – 1956
Álbum: “8 Sucessos de Ataulfo Alves e suas Pastoras”
2 – Clara Nunes – 1969
Álbum: “A Beleza Que Canta”
3 – Noite Ilustrada – 1969
Álbum: “Revivendo o Mestre Ataulfo”
4 – Nelson Gonçalves – 1981
Álbum: “Produção 96”
5 – Jair Rodrigues – 1984
Álbum: “Luzes do Prazer”
6 – Pery Ribeiro – 1992
Álbum: “Songs Of Brazil”
7 – Itamar Assumpção – 1996
Álbum: “Ataulfo Alves por Itamar Assumpção – Pra Sempre Agora”
8 – Odair José – 2000
Álbum: “Coletânea BIS Odair José”
9 – Elymar Santos – 2008
Álbum: “Guerreiro Sonhador”
10 – Ná Ozzetti – 2009
Álbum: Coletânea “100 anos de Ataulfo Alves”
Mais sobre o compositor
Nascido em 1909, o cantor e compositor Ataulfo Alves foi um dos mais importantes nomes do samba da história. Aos 19 anos – já tocando cavaquinho, violão e tamborim – mudou-se de Minas Gerais para o Rio de Janeiro.
Em 1933, Almirante – grande sambista e nome do rádio na época – gravou o samba “Sexta-feira”, primeira composição de Ataulfo a ser lançada em disco. Dias depois, Carmen Miranda gravou sua canção “Tempo Perdido”, tornando o nome de Ataulfo Alves conhecido nacionalmente.
Sua musicografia ultrapassa 320 canções, sendo uma das maiores da música popular brasileira.
Entre os seus grandes sucessos estão as músicas “Leva Meu Samba”, “Ai, Que Saudade da Amélia”, “Atire a Primeira Pedra”, “Mulata Assanhada”, “Na Cadência do Samba” e “Laranja Madura”.



