Com versos leves e ritmados, o poeta marcou a literatura infantil com poemas que estimulam a imaginação e a criatividade, como O Pato, A Casa e A Corujinha
Além de encantar adultos, Vinicius de Moraes conquistou crianças com seus versos leves e ritmados. Em 1970, inspirado no universo lúdico das crianças, o poeta escreveu uma série de poemas infantis.
Após sua morte, em 1980, seu parceiro Toquinho, junto com outros grandes nomes da MPB, deu vida a essas poesias em forma de canções que originaram o álbum A Arca de Noé. As músicas foram lançadas em dois álbuns, A Arca de Noé (1980) e A Arca de Noé 2 (1981).
Grandes nomes da MPB e músicas inesquecíveis
O primeiro álbum, lançado em 1980, reuniu artistas como Chico Buarque, Elis Regina, Alceu Valença, Moraes Moreira, Ney Matogrosso, Tom Jobim, entre outros. Algumas das faixas mais icônicas incluem:
- “O Pato” – interpretado por MPB-4, é um dos mais lembrados até hoje.
- “A Casa” – na voz do grupo Boca Livre.
- “A Corujinha” – cantada por Elis Regina.
Cada artista trouxe sua identidade e estilo para as canções dedicadas a cada bicho que estava na Arca. O álbum se tornou um clássico justamente pela junção da poesia de Vinicius com a interpretação única desses grandes nomes da música brasileira.
O sucesso do primeiro volume levou ao lançamento de A Arca de Noé 2 em 1981, com novas músicas e participações especiais.
Os melhores poemas para crianças
O Pato
Um dos poemas mais famosos de Vinicius para crianças, O Pato tem um ritmo divertido e palavras que brincam com os sons, o que facilita a memorização. É uma excelente porta de entrada para a poesia infantil.
Lá vem o Pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o Pato
Para ver o que é que há
Lá vem o Pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o Pato
Para ver o que é que há
O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo
Comeu um pedaço
De jenipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela
Lá vem o Pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o Pato
Para ver o que é que há
Lá vem o Pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o Pato
Para ver o que é que há
O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo
Comeu um pedaço
De jenipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela”
A Casa
A imagem de uma casa sem teto, sem chão e sem nada provoca curiosidade e diversão e estimulam o pensamento criativo dos pequenos.
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela, não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número zero
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número zero
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela, não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número zero
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número zero”
A Corujinha
Com um tom delicado, A Corujinha fala sobre esse animal noturno de maneira encantadora. A poesia apresenta a coruja de forma amigável e envolvente, despertando o interesse das crianças pelo mundo natural.
“Corujinha, corujinha
Que peninha de você
Fica toda encolhidinha
Sempre olhando não sei quê
O seu canto de repente
Faz a gente estremecer
Corujinha, pobrezinha
Todo mundo que te vê
Diz assim, ah, coitadinha
Que feinha que é você
Quando a noite vem chegando
Chega o teu amanhecer
E se o sol vem despontando
Vais voando te esconder
Hoje em dia andas vaidosa
Orgulhosa como quê
Toda noite tua carinha
Aparece na TV
Corujinha, coitadinha
Que feinha que é você”
O Relógio
Um poema que traduz a impaciência infantil de esperar o momento de brincar. Com musicalidade e repetição, O Relógio conecta-se diretamente com a rotina das crianças.
“Passa tempo, tic-tac
Tic-tac, passa hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Passa tempo, tic-tac
Tic-tac, passa hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Passa tempo, tic-tac
Tic-tac, passa hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia”
O Gato
https://youtu.be/YYxPYCHKd2Y?si=fxbqfvdWcBcf9C_u
“Com um lindo salto
Leve e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pisa e passa
Cuidadoso, de mansinho
Pega e corre, silencioso
Atrás de um pobre passarinho
E logo pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
Se num novelo
Fica enroscado
Ouriça o pêlo, mal-humorado
Um preguiçoso é o que ele é
E gosta muito de cafuné”
As Borboletas
https://youtu.be/QiBn-rfI-wg?si=Ui5xOnQffBGeOL0W
“Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas
Borboletas brancas
São alegrias e francas
Borboletas azuis
Gostam muito de luz
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então
Oh, que escuridão!”
O Leão
https://youtu.be/hb-JSVK6L3Q?si=gYuEGqZFIwdmp83j
“Leão! Leão! Leão!
Rugindo como um trovão
Deu um pulo, e era uma vez
Um cabritinho montês
Leão! Leão! Leão!
És o rei da criação
Tua goela é uma fornalha
Teu salto, uma labareda
Tua garra, uma navalha
Cortando a presa na queda
Leão longe, leão perto
Nas areias do deserto
Leão alto, sobranceiro
Junto do despenhadeiro
Leão! Leão! Leão!
És o rei da criação
Leão na caça diurna
Saindo a correr da furna
Leão! Leão! Leão!
Foi Deus quem te fez ou não
Leão! Leão! Leão!
És o rei da criação
O salto do tigre é rápido
Como o raio, mas não há
Tigre no mundo que escape
Do salto que o leão dá
Não conheço quem defronte
O feroz rinoceronte
Pois bem, se ele vê o leão
Foge como um furacão
Leão! Leão! Leão!
Es o rei da criação
Leão! Leão! Leão!
Foi Deus quem te fez ou não
Leão se esgueirando à espera
Da passagem de outra fera
Vem um tigre, como um dardo
Cai-lhe em cima o leopardo
E enquanto brigam, tranquilo
O leão fica olhando aquilo
Quando se cansam, o leão
Mata um com cada mão”
São Francisco
https://youtu.be/nh_Cig36-xU?si=nbMdd8lRJQb_1xbd
“Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho
Dormindo à noite
Junto ao moinho
Bebendo água
Do ribeirinho.
Lá vai São Francisco
De pé no chão
Levando nada
No seu surrão
Dizendo ao vento
Bom dia, amigo
Dizendo ao fogo
Saúde, irmão
Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesuscristinho
Fazendo festa
No menininho
Contando histórias
Para os passarinhos”
O Elefantinho
https://youtu.be/wjXHXQrYIrg?si=J5NfR23G4JC3D_Pg
Onde vais, elefantinho
Correndo pelo caminho
Assim tão desconsolado?
Andas perdido, bichinho
Espetaste o pé no espinho
Que sentes, pobre coitado?
Estou com um medo danado
Encontrei um passarinho!”
O Porquinho
https://youtu.be/JRlwSju0wSA?si=c8oKaUgTXPz89Kzh
“Muito prazer, sou o porquinho
Eu te alimento também
Meu couro bem tostadinho
Quem é que não sabe o sabor que tem
Se você cresce um pouquinho
O mérito, eu sei
Cabe a mim também
Se quiser, me chame
Te darei salame
E a mortadela
Branca, rosa e bela
Num pãozinho quente
Continuando o assunto
Te darei presunto
E na feijoada
Mesmo requentada
Agrado a toda gente
Sendo um porquinho informado
O meu destino bem sei
Depois de estar bem tostado
Fritinho ou assado
Eu partirei
Com a tia vaca do lado
Vestido de anjinho
Pro céu voarei
Do rabo ao focinho
Sou todo toicinho
Bota malagueta
Em minha costeleta
Numa gordurinha
Que coisa maluca
Minha pururuca
É uma beleza
Minha calabresa
No azeite fritinha”
A importância da poesia de Vinicius para crianças
A obra infantil de Vinicius de Moraes continua relevante porque une musicalidade, ritmo e ludicidade. Seus versos dialogam com o universo infantil, o que torna a leitura uma experiência prazerosa. Ler seus poemas para as crianças incentiva o gosto pela literatura, além de desenvolver a sensibilidade e a criatividade dos pequenos.



