O caso do jogador do Bragantino, internado após um grave acidente de trânsito, trouxe à tona uma dúvida comum entre os brasileiros: como é confirmado o diagnóstico de morte encefálica?
Para esclarecer essa questão, o jornalista e âncora do Jornal Novabrasil, Heródoto Barbeiro, entrevistou o médico neurologista e intensivista Dr. João Roberto Sala Domingues, que detalhou todas as etapas do rígido protocolo brasileiro para confirmar ou descartar esse diagnóstico.
Protocolo brasileiro é um dos mais rígidos do mundo
O Brasil possui uma das legislações mais rigorosas em relação à constatação de morte encefálica. O protocolo exige que dois médicos distintos façam avaliações independentes do paciente.
“Os médicos não podem ter qualquer ligação com equipes de transplante, garantindo total isenção no processo”, explicou Dr. João Roberto.
Além disso, são necessários exames de imagem iniciais que indiquem lesão neurológica grave. Com base nesses exames, o protocolo pode ser aberto.
Testes de reflexos neurológicos e respiratórios
A avaliação médica passa por uma sequência de testes para checar reflexos neurológicos. Entre eles, estão os reflexos oculares, auditivos e, por fim, respiratórios.
“Se todos os reflexos forem ausentes, isso indica morte encefálica. Mas, no caso do jogador, um dos reflexos foi detectado, então o protocolo precisou ser interrompido”, explicou o neurologista.
Esse reflexo foi o da postura, que ocorre antes do teste respiratório final. “Com esse reflexo presente, o protocolo é imediatamente suspenso e o paciente volta a receber todos os cuidados intensivos”, complementou.
Morte encefálica pode ser progressiva
A morte encefálica nem sempre ocorre de forma brusca. Em alguns casos, é um processo gradual, especialmente em pacientes com graves lesões neurológicas.
“Em situações como decapitação, por exemplo, a morte encefálica é imediata. Mas em casos de traumatismo cranioencefálico, o cérebro pode sofrer inchaço e hemorragias que levam à morte cerebral progressiva”, explicou o especialista.
Durante esse processo, a equipe médica segue monitorando o paciente e administrando medicamentos para controlar a pressão intracraniana e prevenir crises convulsivas.
Protocolo pode ser reaberto
Caso o quadro clínico se agrave e novos sinais de morte encefálica apareçam, a equipe médica pode abrir um novo protocolo.
“O protocolo só avança quando todos os testes mostram ausência de reflexos. Quando há dúvidas, como no caso desse jogador, a regra é interromper e seguir tratando o paciente”, afirmou Dr. João Roberto.
Essa rigidez tem um objetivo claro: garantir total segurança para o diagnóstico. “No Brasil, nunca houve caso de erro em diagnóstico de morte encefálica por conta desse protocolo criterioso”, destacou.
Contraprova
Além dos testes clínicos, o protocolo exige exames complementares que confirmem a ausência de fluxo sanguíneo no cérebro. Entre eles, estão doppler transcraniano, eletroencefalograma e cintilografia cerebral.
Somente após a análise completa, feita por dois médicos independentes em momentos diferentes, é possível fechar o diagnóstico com segurança.
“O protocolo é extremamente rigoroso para evitar qualquer erro ou precipitação. É um procedimento técnico, científico e ético”, concluiu Dr. João Roberto.



