São Paulo: 470 anos

por Lívia Nolla

Alguma coisa acontece no meu coração 

Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João 

É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi 

Da dura poesia concreta de tuas esquinas 

Da deselegância discreta de tuas meninas 

Sampa – Caetano Veloso 

 

Neste 25 de janeiro, a cidade de São Paulo completa 470 anos de existência. A data foi estabelecida em homenagem à fundação do Colégio dos Jesuítas, considerado o marco zero da maior capital brasileira e maior metrópole da América do Sul. 

Com suas belezas e contradições, São Paulo já foi tema de muitas músicas da nossa MPB. Talvez a principal delas seja Sampa, que o baiano Caetano Veloso escreveu como um hino de amor à cidade e que acabou tornando-se realmente um hino paulistano. 

Na canção, Caetano fala sobre suas impressões ao chegar em São Paulo pela primeira vez, nos anos 60 – aos 22 anos – acompanhando a irmã Maria Bethânia, que ia estrear (e estourar!) sua carreira musical ao substituir Nara Leão no emblemático espetáculo de protesto Opinião.

  

A primeira impressão de Caetano Veloso sobre a cidade não foi das melhores: “Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto / Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto (…) E foste um difícil começo / Afasto o que não conheço / E quem vende outro sonho feliz de cidade / Aprende depressa a chamar-te de realidade / Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso”. 

O baiano logo se deparou com a dura realidade política e a imensa desigualdade social da cidade de São Paulo: “Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas / Da força da grana que ergue e destrói coisas belas / Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas.” 

Mas… não demorou muito para Caetano também se apaixonar pela deselegância discreta paulistana: seu coração bateu mais forte quando cruzou o principal encontro entre avenidas da cidade (a famosa esquina das Avenidas Ipiranga e São João), mas também quando mergulhou de cabeça na cultura paulistana, conhecendo grandes artistas e movimentos da capital. 

Entre eles, a cantora e compositora paulistana Rita Lee (a quem atribui justamente o título de “a mais perfeita tradução” da cidade); a poesia concretista de Jorge Mautner (Deus da Chuva e da Morte é o primeiro romance do poeta); o escritor José Agrippino de Paula (autor do livro Panamérica); os movimentos de vanguarda e os modernistas Oswald e Mário de Andrade; e o diretor Zé Celso Martinez Corrêa (do famoso Teatro Oficina, que fica no centro da cidade). 

A canção foi composta para um programa de TV no aniversário de São Paulo, em 1978, quando Caetano já morava no Rio, e entrou para o seu o LP Muito – Dentro da Estrela Azulada, do mesmo ano. Em entrevistas, Caetano Veloso conta que o samba-canção Ronda, música de Paulo Vanzolini, foi inspiração para criar a composição. A canção de Paulo termina com o verso “Cena de sangue num bar da Avenida São João”, que deu origem também ao primeiro verso da música de Caetano. 

Reprodução: Rodolpho Machado – Agência O Globo

Outro compositor que retratou São Paulo de forma magistral foi o também paulista Adoniran Barbosa, lá nos anos 50, com diversas canções que falavam do cotidiano da cidade, como os clássicos Trem das Onze, Samba do Arnesto (conheça também a história dessa música), Viaduto Santa Ifigênia e Saudosa Maloca.  As composições de Adoniran também viraram hinos e ficaram muito famosas nas versões do conjunto paulistano Demônios da Garoa (confira a entrevista do grupo no programa Radar Novabrasil).

Em 1968, quando foi morar na capital paulista, o baiano Tom Zé também já tinha cantando sobre as durezas e belezas da cidade, na excelente e sempre atual São São Paulo. Depois, Gilberto Gil ainda nos presenteou com o Punk da Periferia, em 1983. Na contemporaneidade, temos Criolo, um dos maiores poetas paulistanos, que escreve sobre a realidade de sua cidade como ninguém. 

Fizemos uma seleção com mais algumas canções que são o retrato da cidade que completa mais um ano de vida hoje (uma delas é uma espécie de resposta de Jair Oliveira para a música de Caetano): Uma Outra Beleza. 

 

Confira! 

  1. Sampa – Caetano Veloso 
  1. Ronda – Paulo Vanzolini 
  1. Trem das Onze – Adoniran Barbosa 
  1. Samba do Arnesto – Demônios da Garoa (Adoniran Barbosa e Alocin) 
  1. Viaduto Santa Efigênia – Adoniran Barbosa (Adoniran Barbosa e Alocin) 
  1. Saudosa Maloca – Demônios da Garoa (Adoniran Barbosa) 
  1. Uma Outra Beleza – Jair Oliveira 
  1. São São Paulo – Tom Zé 
  1. Sampa Midnight – Itamar Assumpção 
  1. Não Existe Amor em SP – Criolo 
  1. As Minas de Sampa – Rita Lee 
  1. Augusta, Angélica e Consolação – Tom Zé 
  1. Grajauex – Criolo 
  1. São Paulo – Mallu Magalhães 
  1. Mais Um Dia Cinza em São Paulo – Zeca Baleiro 
  1. Freguês da Meia Noite – Criolo 
  1. Lá Vou Eu – Rita Lee 
  1. São Paulo – Terno Rei 

 

 

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