Um exame simples de saliva pode transformar a forma como o câncer de próstata é detectado. Desenvolvido por cientistas do Reino Unido, o novo teste mostrou resultados promissores ao identificar com maior precisão os casos mais agressivos da doença, segundo explicou o urologista Estênio de Cássio Zec, do Hospital AC Camargo, em entrevista à NovaBrasil.
Hoje, o diagnóstico é feito com base em exames como o PSA (que mede proteínas no sangue) e a ressonância magnética. Mas ambos têm limitações. O PSA, por exemplo, é considerado um exame sensível, mas pouco específico — ou seja, pode indicar alterações mesmo quando não há câncer, gerando exames e procedimentos desnecessários.
Como funciona o novo teste
O teste britânico analisa mais de 130 genes presentes na saliva dos pacientes. A coleta é simples e não invasiva. Quando o resultado mostra alterações em mais de 90% desses genes, o indivíduo é classificado como de alto risco para desenvolver câncer de próstata.
Em um estudo com mais de 40 mil homens, 745 apresentaram esse perfil genético alterado. Desses, 468 passaram por exames tradicionais — PSA e ressonância — e 187 foram diagnosticados com câncer de próstata. O mais relevante: mais da metade desses casos envolvia tumores de risco intermediário ou alto, ou seja, que exigiriam tratamento imediato.
“O teste identificou tumores que não seriam encontrados com os métodos atuais”, afirma o Dr. Estênio. “Isso mostra uma capacidade de diagnóstico superior ao PSA e à ressonância.”
Economia para a saúde e menos efeitos colaterais para os pacientes
Além de ajudar a identificar casos graves, o novo exame também pode evitar tratamentos desnecessários. Alguns tumores de próstata são de crescimento muito lento e podem ser apenas acompanhados ao longo do tempo, sem necessidade de cirurgia ou radioterapia. Isso significa menos riscos de sequelas e menor custo para os sistemas de saúde.
“A vantagem está em saber com mais precisão quem precisa ser tratado e quem pode apenas ser monitorado”, explica o médico. “É um avanço que pode gerar uma grande economia e menos impacto na vida dos pacientes.”
Ainda em fase de testes
Apesar dos resultados animadores, o teste ainda não está disponível comercialmente. Por enquanto, os estudos foram realizados com homens britânicos e australianos, de maioria branca. A próxima etapa é testar a eficácia do exame em outras populações, incluindo homens negros e latino-americanos, que têm diferentes taxas de incidência e tipos de câncer de próstata.
“Precisamos validar o exame em outras regiões do mundo”, alerta o Dr. Estênio. “Homens negros, por exemplo, têm mais risco e tumores mais agressivos. Já os asiáticos têm menos incidência. Os brasileiros estão no meio do caminho.”
O que fazer até lá?
O médico reforça que, por enquanto, os métodos tradicionais — PSA, exame clínico e ressonância — continuam sendo as ferramentas indicadas para detecção precoce do câncer de próstata, já que o novo teste de saliva pode levar alguns anos até estar validado e disponível para uso clínico.