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Tudo sobre o poema “No meio do Caminho”, de Carlos Drummond de Andrade

Na última semana, celebramos o aniversário de um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos – Carlos Drummond de Andrade, nascido em 31 de outubro de 1902 – trazendo a análise de um dos poemas mais importantes da história: “No Meio do Caminho”, publicado em 1928.

“No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra”

O caminho trilhado por Drummond

Revelando o poder da simplicidade e das vivências pessoais na escrita de Drummond, “No Meio do Caminho” foi publicado em 1928, na Revista de Antropofagia e marcou a virada modernista na poesia brasileira, sendo um dos poemas mais icônicos do século XX.

Lido, relido e repetido por gerações, o poema atravessou o século XX como símbolo do Modernismo e como uma das maiores expressões da poesia nacional.

Mas, antes disso, o poema sofreu fortes críticas de intelectuais da época que consideraram sua repetição exagerada e sua simplicidade uma afronta à tradição Parnasiana, marcada por métricas rigorosas e vocabulário rebuscado. O que poucos entenderam, naquele momento, é que Drummond estava inaugurando um novo olhar sobre a poesia: o da palavra essencial, despojada e cotidiana.

O verso “tinha uma pedra”, que se repete sete vezes nos dez versos do poema é mais do que uma imagem poética: é um símbolo. A “pedra” representa os obstáculos da vida, as dores e desafios que interrompem o percurso humano. 

Mas há também, no olhar do poeta, um tom de cansaço e memória – “na vida de minhas retinas tão fatigadas” – como se cada pedra deixasse uma marca permanente em quem a encontra.

Com o tempo, as críticas iniciais se transformaram em reconhecimento. “No Meio do Caminho” passou a ser visto como uma das maiores obras da poesia brasileira e um dos pilares da trajetória de Drummond. Pode-se dizer que os próprios críticos foram uma pedra no caminho do poeta, superada por maestria.

Carlos Drummond de Andrade | Foto: Reprodução

Entre a perda e a pedra

A força simbólica da “pedra” ganha ainda mais peso quando vista à luz da biografia de Drummond. Pouco antes de escrever o poema, o autor viveu uma tragédia pessoal: a morte de seu primeiro filho, que sobreviveu apenas meia hora após o nascimento.

Segundo o teórico Gilberto Mendonça Teles, a palavra “pedra” contém as mesmas letras de “perda”, uma coincidência que reforça o sentido íntimo do poema. Assim, “No Meio do Caminho” pode ser lido como uma tentativa de transformar a dor em arte e seguir adiante, mesmo entre os escombros da vida.

O poema também é uma resposta direta ao Parnasianismo, movimento que dominava a poesia brasileira até então. Inspirado no soneto “Nel mezzo del cammin…”, de Olavo Bilac, Drummond inverte a lógica da perfeição formal e propõe uma poesia livre, coloquial e humana, sem rimas ou métricas fixas.

Com isso, ele se alinha à proposta modernista de simplificar a linguagem e aproximar a literatura do cotidiano, transformando o banal em arte, um gesto que redefiniu os rumos da poesia no Brasil.

A trajetória de um dos maiores poetas do Brasil

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 1902. Farmacêutico por formação, logo se dedicou à literatura e, em 1923, fundou com Emílio Moura e outros companheiros mineiros “A Revista”, que divulgava o movimento modernista.

Em 1930, publicou seu primeiro livro, “Alguma Poesia”, que consolidou seu nome na literatura. Ali já estavam poemas antológicos como “Poema de Sete Faces”, “Quadrilha” e o próprio “No Meio do Caminho”.

Ao longo das décadas seguintes, lançou obras que marcaram gerações, como “Sentimento do Mundo” (1940), “José” (1942) e “A Rosa do Povo” (1945). Sua escrita evoluiu entre a ironia e a reflexão, entre o humor e a melancolia, sempre movida por uma profunda consciência humana e social.

Drummond morreu no Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1987, deixando uma obra monumental, feita de versos que continuam ecoando, iluminando e questionando o país.

Ao transformar uma “pedra” em símbolo universal da existência, o poeta nos ensinou que a arte é o caminho, mesmo quando – no meio dele – há obstáculos.

Em 2010, o Instituto Moreira Salles (IMS) lançou uma nova edição do livro “Uma Pedra no Meio do Caminho: Biografia de um Poema” feita pelo próprio Drummond e ampliada pelo também poeta Eucanaã Ferraz. Como parte do lançamento, foi produzido um vídeo com a leitura de “No meio do caminho” em vários idiomas.

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