A sub-representação feminina na política brasileira é uma realidade. Mulheres representam apenas 17,7% da Câmara dos Deputados. No Senado, o percentual chega a quase 20%.
A consequência da falta de aliadas se traduz em números. Segundo dados da ONU Mulheres, 82% das eleitas já sofreram violência psicológica em espaços políticos, 45% sofreram ameaças, 25% violência física e 20% foram vítimas de assédio sexual.
Desde o início da carreira política a Deputada Federal, Tabata Amaral (PSB-SP), lidou com desrespeito e entendeu que não bastava ser apenas competente para ser levada a sério na política: “No começo eu ouvia todo tipo de absurdo. Quem te colocou aqui? Você é casada com quem? Mas você é de família importante? Quando eu apresentei o projeto para ter absorvente nas escolas, houve uma reação muito forte contrária. Na política, na imprensa, eu fui atacada, me enviaram mensagens pornográficas”, relatou a deputada.

A desvalorização no meio de trabalho é uma realidade que muitas enfrentam. A tática de Tabata Amaral foi aprender a se impor: “A casca vai ficando mais grossa. E a fama vai se espalhando. Tem gente que fala: ‘A Tabata responde na lata’, mas se eu não fosse assim, eu não seria respeitada. Se eu não tivesse aprendido a me impor. Eu aprendi a lidar com a ameaça de morte? Claro que não. Ninguém deveria ter que lidar com isso. Cartas, e-mails. Coisas que colocam na minha casa, dizendo que vão estuprar, matar. Isso não cabe na política, não cabe na sociedade. A gente vai ter que se provar mais, vai ter que engolir muita besteira que a gente ouve para conquistar esse respeito”, disse Tabata Amaral.
Engolir, inclusive, decisões do partido: “Muitos pensam: não vai ter voto. Mais uma que vai ajudar a gente a colocar dois homens. Mas quando você começa a exigir mais espaço, isso começa a incomodar”, completou.
Para Hannah Maruci, doutora em ciências políticas e co-fundadora da “A Tenda das Candidatas”, esse cenário é reflexo da sociedade: “A violência política é só mais um dos ramos dessa violência estrutural que a gente tem na nossa sociedade. Para as mulheres, inclusive, a violência política chega na família né? É, ameaça os filhos, é muito pesado”, explicou a especialista.

E a situação que já é desigual, ainda pode piorar, Carol Dartora, a primeira Deputada Federal negra pelo Paraná, comentou a sub-representação de mulheres negras no Congresso: “A sociedade brasileira ainda carrega muitos preconceitos que dificultam a ascensão de mulheres negras na política. O fato das mulheres não serem vistas como possíveis lideranças, não são vistas como autoridades. Há uma disparidade na distribuição de recursos de campanha, o que impacta na visibilidade das candidaturas femininas e negras. Visam nos desestimular, nos silenciar, nos invisibilizar“, relatou a deputada.
Carol Dartora também narrou episódios de violência: “Desde que comecei a minha trajetória na vida pública, fui ameaçada de morte por 4 anos ininterruptos. Todo tipo de injúria, racista, misógina e ameaça a minha integridade física mesmo, o que impactou muito na minha saúde mental”, relatou.
O outro depoimento é de Soraya Thronicke, uma das 15 mulheres que compõem o senado federal e inala o machismo do parlamento diariamente: “Precisamos ter mais influência no orçamento na economia. Porque eles não nos deixam trabalhar mais com uma forma mais atuante? Nos entregarem essas relatorias? Eles feminilizaram temas e acham que são temas que nos distraem. É muito bom para eles que nós ficamos envolvidas nessa questão dessas reuniões e eles vão trabalhar nas outras pautas, eles acham que estão nos distraindo. Eu não estou distraída”, a senadora revelou à rádio Novabrasil.

Diante da situação vale reforçar o pensamento de que juntas, somos mais fortes: “Lá no Senado, nós temos a bancada feminina de diversas ideologias, partidos diversos. Empoderadas, nós já somos. Eles, a verdade não é nos empoderar, é deixar o nosso poder acontecer, aparecer”, desabafou a senadora.
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