Sérgio Cabral diz que confessou corrupção coagido

Diego Amorim
Diego Amorim
Diretor-executivo da Novabrasil FM na capital federal. Jornalista entre os 10 mais premiados da história de Brasília. Autor de ‘Filho de pandemia’.

Em sua primeira entrevista a uma rede de rádio desde que deixou a prisão, Sérgio Cabral disse à Novabrasil que confessou crimes investigados no âmbito da Lava Jato do Rio de Janeiro porque foi “coagido”.

“Não tenha dúvida de que a corrupção faz mal e não tenha dúvida de que eu fiz uma confissão coagido. Eu fiz uma confissão coagido, claro. Isso é objeto de avaliação e de análise”, disse o ex-governador, que deixou a prisão em dezembro do ano passado, após seis anos.

Cabral citou a delação de um advogado envolvendo, segundo ele, uma suposta extorsão à sua família por parte do juiz Marcelo Bretas, que conduziu os processos da Lava Jato no Rio e está atualmente afastado.

O ex-governador também se colocou como vítima de “tortura mental e física”.

“Fiquei trancado em cela um mês sem falar com ninguém. Eu fui conduzido amarrado na cintura, nas perdas e nos braços, com o chefe da carceragem me dizendo: ‘Aqui, só é tratado bem delator’.”

Caixa-dois e corrupção

O ex-governador quis separar “a questão do caixa-dois” do conceito que ele tem de corrupção.

“Corrupção é o seguinte: corrupção é sobrepreço, corrupção é não entregar. Isso eu nunca fiz. Nenhum delator da Lava Jato cita que o governo Cabral cometeu sobrepreço, nenhum delator da Lava Jato disse que o governo Cabral deixou de entregar um produto, um remédio. Eu fiz sete hospitais, cara.”

Cabral ainda disse que corrupção “existe todo dia em todo canto do mundo”.

“Eu não cometi corrupção. O que se tratava como ilegalidade é a questão do caixa-dois, que está sendo discutida aí por todo mundo, inclusive pelo Congresso Nacional. Corrupção é deplorável e, infelizmente, existe todo dia em todo canto do mundo e tem que ser combatida, porque o dinheiro público é uma coisa que tem que ser investida em coisa pública.”

Lava Jato

Cabral, claro, fez duras críticas à Lava Jato, definida por ele como “brutal operação paralela ao Estado”.

“A Lava Jato foi uma operação que vem se desmoralizando. A Lava Jato prejudicou muito o Brasil e arrebentou com o Rio de Janeiro.”

Segundo Cabral, havia, na época de sua prisão, “um desejo claro e obsceno de tirar o Lula e de me tirar da cena pública”.

Questionado sobre do que se arrepende, Cabral disse que esse é um assunto que está tratando com a defesa. E completou: “Todos nós erramos e acertamos. Eu posso te garantir que 90% dos erros apontados pela Lava Jato que dizem respeito a mim são mentirosos”.

“Votaria em Lula”

Na entrevista à Novabrasil, Cabral também disse que, se pudesse ter participado da eleição em 2022, teria votado em Lula.

“Eu não votei, infelizmente, porque eu não podia naquela ocasião. Saí [da prisão] logo depois da eleição. Votaria [em Lula], óbvio. Votaria e acompanhei a apuração na televisão com muita angústia e felicidade no final.”

Cabral definiu o terceiro governo Lula como “governo de reconstrução” e elogiou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“Farra dos guardanapos”

Sérgio Cabral se mostrou incomodado com uma pergunta sobre o episódio que ficou conhecido como “farra dos guardanapos”.

“Eu nunca dancei com guardanapo. Não há nenhuma foto minha com guardanapo. Eu estava recebendo do Senado francês a condecoração mais honrosa da França. À noite, dois empresários europeus ofereceram um jantar para mim e para mais de 250 convidados.”

Cabral acusou o também ex-governador do Rio Anthony Garotinho de “vender” as imagens do evento três anos depois.

“Ao final da festa, um grupo de convidados… Começa a tocar uma música, um dos convidados levantou e começou a dançar. Onde eu estou com o guardanapo? Que farra?”

Ao ser lembrado de que havia dois secretários do governo dele, à época, na icônica foto, Cabral reagiu assim: “Sim, mas você acha que eu controlo a vida dos secretários, se põem guardanapo na cabeça ou se não põem. Pelo amor de Deus”.

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