Nuvens de poeira podem ter causado acidente no PR; entenda por que silos podem explodir

RIO DE JANEIRO, RJ E CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Embora as investigações sobre a explosão em uma cooperativa de Palotina (a 480 km de Curitiba), no Paraná, ainda estejam em andamento, equipes de bombeiros que trabalham no resgate das vítimas apontam que acidentes do tipo em silos podem ter ligação com o pó suspenso no ar, dentro de um ambiente confinado.

A explosão na cooperativa C.Vale nesta quarta (26) deixou ao menos oito mortos e 11 feridos. Uma pessoa continua desaparecida.

“Provavelmente é uma explosão por pó. É um ambiente confinado, extremamente perigoso. Existem partículas de pó em suspensão no ar. Estas partículas são combustíveis. Então, qualquer fagulha pode gerar uma explosão”, disse o capitão Guilherme Rodrigues, do Corpo de Bombeiros, durante entrevista à imprensa.

“Esta primeira explosão, próxima ao armazém de número 3, gerou a explosão nos outros armazéns próximos. Então temos quatro armazéns com estruturas colapsadas”, disse Rodrigues sobre o caso na C.Vale.

O acidente atingiu quatro silos. De acordo com a C.Vale, os silos armazenavam 12 mil toneladas de soja e 40 mil toneladas de milho.

De acordo com equipes do Corpo de Bombeiros, as vítimas foram encontradas nos túneis ligados aos silos. Com a explosão, as estruturas de concreto dos túneis foram atingidas.

Silos são estruturas cilíndricas utilizadas no setor agroindustrial para armazenar grãos que não foram comercializados. Alguns equipamentos podem chegar ao tamanho de um prédio de 20 andares e preservar os produtos ao longo de meses. Empresas da indústria siderúrgica também utilizam silos para armazenar materiais, como carvão.

Gerardo Portela, engenheiro especialista em riscos e segurança, afirma que os silos de armazenagem de grãos precisam estar isentos de umidade para o material não perecer. O ambiente interno seco é uma condição propícia à queima.

“A movimentação de retirada de grãos ou de inserção de grãos gera nuvens de poeira, porque os grãos vão se movimentando. As nuvens de poeira se atritam, acumulam energia. Nesse processo, pode haver uma pequena descarga e começar uma queima localizada”, afirma Portela.

“O milho é um grão altamente combustível. A poeira dele é mais suscetível a esse fenômeno do que outros grãos.”

Os silos são auxiliados por caldeiras, tubulações e secadores, equipamentos que também podem ser fonte de explosão em caso de falhas técnicas.

“Armazenagem em silos é uma área de conhecimento já dominada. Já se sabe exatamente o que pode fazer e o que não pode fazer. Se houve uma explosão, é porque pode ter havido alguma falha”, diz Portela.

As causas do acidente ainda estão sendo investigadas. A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar as circunstâncias do fato. Cinco peritos da Polícia Científica estão no local.

Ao menos 6 dos 8 trabalhadores mortos na explosão são haitianos, segundo a Polícia Civil.

Sete deles foram identificados: Saulo da Rocha Batista, 54, Reginald Gefrard, 30, Jean Ronald Calix, 27, Michelete Louis, 41, Jean Michele Joseph, 29, Eugênio Metelus, 53, e Donald St Cyr, 27.

O presidente da C.Vale, Alfredo Lang, gravou um vídeo no qual afirma que “uma equipe técnica está trabalhando para apurar as causas deste acidente”.

Os corpos foram tirados dos escombros até a madrugada desta quinta. Depois, os trabalhos do Corpo de Bombeiros ficaram concentrados na retirada dos grãos de milho do silo 3 para que as equipes possam chegar até a última vítima.

“A retirada do milho é realizada de maneira mecânica de forma lenta e gradual e não será interrompida até o encerramento da operação”, diz nota do Corpo de Bombeiros.

Em julho do ano passado, um depósito de grãos do porto de Beirute, no Líbano, desabaram parcialmente, levantando uma enorme nuvem de poeira e fumaça.

O evento, segundo as forças de segurança, se deveu à combinação de uma onda de calor com a fermentação de grãos apodrecidos abandonados no local desde agosto de 2020.

O caso gerou preocupação devido ao trauma de uma gigantesca explosão que, em 2020, matou mais de 215 pessoas e danificou gravemente o porto de Beirute.

YURI EIRAS E CATARINA SCORTECCI / Folhapress

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