O que está por trás dos ataques a navios no Mar Vermelho? Professor Trevisan explica

Palestinos inspecionam os escombros (AP Photo/Adel Hana, Arquivo)

Após mais de cem dias do atentado terrorista organizado pelo Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023, o Oriente Médio continua vivendo momentos de tensões e acirramento dos conflitos na região próxima à Faixa de Gaza. O envolvimento cada vez mais intenso de países vizinhos, como Líbano e Iêmen, deixam o cenário ainda mais complexo e a influência dos Estados Unidos e Irã preocupam especialistas e estudiosos do tema.

Nas últimas horas, o grupo rebelde Houthis disparou um míssil contra um navio americano no Mar Vermelho. De acordo com o governo dos Estados Unidos, um caça-jato conseguiu interceptar o projétil e não houve registro de feridos.

Durante o Jornal Novabrasil desta segunda-feira (15), o professor de Relações Internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, explicou o atual momento dos conflitos no Oriente Médio.

“Todo o mundo árabe tinha, por décadas, lideranças autocratas sem contestação. Em 2011, com a Primavera Arabe, a chegada da internet permitiu contatos e organizações . Isso ocorreu em vários países e até mesmo no poderoso Egito, que é um dos mais ricos neste contexto. Quando você olha pra essa situação, a contestação de líderes aumentou, só que essa contestação de liderança política veio junto com ódios religiosos. Se a gente não juntar uma coisa na outra a gente não entende o que está acontecendo. Você tem de alguma forma contestação de lideranças que misturam motivos religiosos. O mundo árabe é dividido entre xiitas, linha mais iraniana; e sunitas, linha mais da Arábia Saudita. Essa luta se misturou na luta política. Ódios religiosos apareceram com cor política”, explica.

O Iêmen é o segundo país com maior número de armas no mundo em mãos da população civil. De acordo com o professor, a Arábia Saudita tem influência significativa nestes dados.

“Isso é resultado da sequência de revoltas. A Arábia Saudita é patrocinadora disso. Ela tentou repor o Hadi poder. Outro lado é o Irã. Lamentavelmente há uma super oferta de armas na região porque os dois lados da guerra armam suas populações.”

O professor pontuou também a importância do grupo Houthis no atual estágio da guerra e os impactos econômicos que as ações dos rebeldes podem ter na economia global.

“O transporte pelo mar vermelho é importante para entender a situação dos Houthis. Por ali passam 15% das mercadorias usadas pelo mundo e é por isso que de repente eles ficaram nas atenções de todos. O grupo Houthis, pra gente entender a importância, nasceu em 2011, no contexto da primavera árabe, quando várias capitais do mundo árabe se revoltaram contra mandatários e lideranças de décadas. Não foi diferente do Iêmen. Havia uma liderança tradicional, que estava lá há mais de 30 anos. Houve uma revolta popular e essa revolta colocou no poder o Mansur Al-Hadi, de uma linha sunita e mais radicalizado. No Iêmen existe uma luta muito presente entre grupos xiitas e sunitas, que é a grande divisão do mundo árabe. Em 2014, o Hadi foi derrubado pelo grupo Houthis. A partir daí a Arábia Saudita entrou na confusão e tentou devolver o Hadi ao poder. Foi neste momento que começou uma guerra civil no Iêmen, que é um país com saída para o Mar Vermelho”, explica o professor.

VEJA A ENTREVISTA COMPLETA ABAIXO:

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