História da música Você Não Soube me Amar

por Lívia Nolla

Hoje, o cantor, compositor e ator carioca, Evandro Mesquita, completa 72 anos e, para homenagear o aniversariante do dia, nós trouxemos a história de um de seus maiores sucessos: Você Não Soube Me Amar.

Esta matéria faz parte da série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que a Novabrasil homenageia grandes compositores da nossa música popular brasileira, contando a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Evandro Mesquita | Foto: Divulgação
Evandro Mesquita | Foto: Divulgação

Sobre Evandro Mesquita

Nascido no Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de 1952, Evandro Mesquita cursou Educação Física até o terceiro ano, antes de enveredar de vez para a carreira artística, nos anos 70, integrando o grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, que revelou outros talentos como Regina Casé, Cazuza e Luís Fernando Guimarães.

Na década de 80, tornou-se líder da banda Blitz, uma das pioneiras do chamado rock brasileiro. Com influências também do pop, reggae, blues e da música eletrônica, suas canções unem o bom humor e a teatralidade a letras marcantes e irreverentes, que misturam fala e canto.

A Blitz marcou uma geração e transformou a história da música brasileira. Além de Evandro, a banda revelou outros grandes nomes, como Fernanda Abreu e Lobão, backing vocal e baterista da primeira formação. Além deles, formavam a Blitz: Márcia Bulcão, Ricardo Barreto, Antônio Pedro Fortuna e Billy Forghieri.

Foi Lobão, inclusive, que sugeriu o nome da banda, inspirado pela quantidade de vezes em que eram parados pela polícia a caminho dos ensaios.  Também teve influência na escolha do nome, a vinda da banda internacional The Police para o Brasil, na mesma época em que Evandro e Lobão fundavam a Blitz.

Muito da irreverência da Blitz deve-se à personalidade versátil e cheia de energia do nosso aniversariante do dia. Artista plural, Evandro também gravou discos em carreira solo, escreveu dois livros, é ator, produtor, diretor e roteirista.

Entre as canções icônicas da banda estão: Você Não Soube me Amar (de Evandro, Guto, Ricardo Barreto e Zeca Mendigo); Mais Uma de Amor (Geme, Geme) (composição de Ricardo Barreto, Antônio Pedro e Bernardo Vilhena); e A Dois Passos do Paraíso (de Evandro e Ricardo Barreto).

Blitz em formação recente | Foto: Divulgação
Blitz em formação recente | Foto: Divulgação

Hoje com uma formação atual estável e que já gravou quatro álbuns e dois DVDs – sendo o mais recente Supernova, em 2023 – a banda é composta por, além de Evandro (no vocal, guitarra e violão), Billy (teclados), Juba (bateria), Rogério Meanda (guitarra), Alana Alberg (baixo), Andréa Coutinho (backing vocal, com quem Evandro é casado e tem uma filha) e Nicole Cyrne (backing vocal).

Como descrevem em seu site oficial: “Antenados com a modernidade, o caldeirão Blitz continua fervendo com o rock, o pop, o reggae, o blues, o eletrônico, as baladas de gaita e violão, as letras bem-sacadas, as guitarras swingadas, o canto falado, as respostas das meninas, enfim, o típico bom-humor que sempre foi a marca de Mesquita & Cia. Atividade total e muitos shows Brasil afora, com a tour que nunca tem fim. ‘Enquanto houver bambu tem flecha!’”.

Evandro Mesquita – que  também é produtor, diretor e roteirista – lançou quatro discos solo durante uma pausa da banda Blitz, entre os anos de 1986 e 1994, e já escreveu dois livros: Xis Tudo (2007) e Meu Pequeno Tricolor (2009).

E, para homenagear Evandro Mesquita nesta data especial, vamos contar a história de um de seus maiores sucessos: o super hit Você Não Soube Me Amar.

Evandro Mesquita no início da carreira — Foto: Nelson di Rago/Globo
Evandro Mesquita no início da carreira — Foto: Nelson di Rago/Globo

A história de Você Não Soube me Amar

A música Você Não Soube me Amar inicialmente foi composta para a peça teatral A Incrível História de Nemias Demutcha, apresentada pela companhia Banduendes Por Acaso Estrelados, no início da década de 1980.

Em seguida, a composição de Evandro Mesquita, Guto, Ricardo Barreto e Zeca Mendigo, entrou para o primeiro compacto lançado pela Blitz, em 1982, e ultrapassou a marca de um milhão de cópias vendidas, tornando-se a música de maior sucesso da Blitz e fazendo com que a banda explodisse no Brasil inteiro depois de seu lançamento.

Em um primeiro momento, ela foi lançada em compacto – disco que trazia somente Você Não Soube me Amar no Lado A e – no Lado B – tinha um áudio de Evandro berrando “nada, nada, nada, nada!”, frase marcante da música.

O hit foi um fenômeno de vendas, contando com 100 mil cópias vendidas em apenas três meses, além de ser tocada exaustivamente nas rádios, ficando nas paradas por diversas vezes.

Vendo o sucesso do hit e o apelo absurdo da jovem banda entre a juventude da época, a gravadora EMI decidiu gravar um álbum completo da Blitz, lançado em setembro de 1982: As Aventuras da Blitz, abre com Você Não Soube Me Amar, seguida de outras 12 canções compostas – na maioria das vezes – por Evandro Mesquita, ora sozinho ora com algum parceiro musical (Ricardo Barreto e Antônio Pedro Fortuna eram os parceiros habituais).

Banda Blitz nos anos 80 | Foto: José Luiz Pederneiras/Divulgação
Banda Blitz nos anos 80 | Foto: José Luiz Pederneiras/Divulgação

Pouco depois de lançado, o videoclipe de Você Não Soube Me Amar foi transmitido no Fantástico, da Rede Globo. Foi a música mais tocada das rádios nacionais no verão de 1983 e fez parte da trilha nacional da novela Sol de Verão, também da Globo, exibida entre 1982 e 83, fazendo com que a banda bombasse ainda mais.

A proposta do rock performático, quase como apresentações cênicas nos palcos e nos videoclipes, com canções que contam histórias, carregadas de bom humor, diálogos entre os cantores / atores e letras de duplo sentido é a marca de Você Não Soube Me Amar e das as principais canções da Blitz.

A conversa da letra (que faz todo o sentido em uma cena de peça de teatro) acontece entre um casal que começa a sair e, depois de engatar na rotina de um relacionamento, começa também a brigar:

“Sabe essas noites que cê sai caminhando sozinho?
De madrugada, com a mão no bolso
(Na rua)
E você fica pensando naquela menina
Você fica torcendo e querendo que ela estivesse
(Na sua)

Aí, finalmente, você encontra o broto
Que felicidade (que felicidade)”

Aí eles começam um diálogo numa mesa de bar ou restaurante, um com o outro e também com o garçom:

“Você convida ela pra sentar (muito obrigada)
Garçom uma cerveja (só tem chope)
Desce dois
Desce mais
Amor, pede uma porção de batata frita
Ok, você venceu, batata frita

Aí, blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá
(Ti-ti-ti, ti-ti-ti, ti-ti-ti)
Você diz pra ela
Tá tudo muito bom (bom)
Tá tudo muito bem (bem)
Mas, realmente
Mas, realmente
Eu preferia que você estivesse
(Nua)”

Aí sim, com o refrão, começam os desentendimentos:

“Você não soube me amar

Todo mundo dizia
Que a gente se parecia
Cheios de tal coisa e coisa e tal
E realmente a gente era
A gente era um casal
Ah, um casal sensacional

E continua:

“Você não soube me amar

No começo, tudo era lindo
Era tudo divino, era maravilhoso
Até debaixo d’água, nosso amor era mais gostoso
Mas de repente a gente enlouqueceu
Aí, eu dizia que era ela
Ela dizia que era eu

Você não soube me amar!”

Alguém que já passou por isso se identificando por aí? Todo mundo, né?

“Você não soube me amar

Amor que que cê tem?
Cê tá tão nervoso!
Nada, nada, nada, nada, nada!”

No aspecto estético, é preciso dizer que a banda tinha uma forte identidade autoral, o que a diferenciava das demais bandas de rock dos anos 1980, fazendo do primeiro álbum da Blitz um dos mais bem-sucedidos discos nacionais do século XX.

O humor ácido e inteligente contado por meio de uma história em forma de música de Você Não Soube Me Amar originou não apenas um tipo de música para a banda Blitz – que seguiu a fórmula de sucesso e segue até hoje –  mas também uma nova e frutífera vertente do rock nacional, inspirando bandas que vieram depois, como Mamonas Assassinas, Raimundos e Pedra Letícia.

Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Evandro Mesquita.

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