‘Fallout’ vai atrás do sucesso de ‘The Last of Us’ apostando em franquia pós-apocalíptica

NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Os irmãos Christopher e Jonathan Nolan fizeram cinco filmes juntos, numa parceria que começou com o brilhante “Amnésia”, de 2000. Os dois não trabalham lado a lado desde “Interestelar”, lançado há uma década. Mas isso não significa que estejam afastados. Ao contrário, a dupla parece obcecada pelo mesmo tema: a era nuclear.

Enquanto o mais velho dirigiu e escreveu “Oppenheimer”, filme sobre a criação da bomba atômica que foi o grande vencedor do último Oscar, o mais novo aposta em “Fallout”, adaptação da franquia de games ambientada em uma Terra devastada por centenas de ataques nucleares. É a maior aposta dos Amazon Studios para este ano, que chega ao catálogo do Prime Video nesta quarta-feira (11), às 22h.

“Estou desenvolvendo isso há quatro anos, mas entendo quem imagina dois irmãos com a mesma ideia de cinema e questiona quem teve antes. Houve apenas um ou dois momentos que compartilhamos detalhes no jantar e achamos divertido”, conta Jonathan Nolan à Folha, único veículo brasileiro que visitou o set de filmagens. “Mas ‘Oppenheimer’ é brilhante e possui um tom totalmente diferente da série.”

É inegável. Apesar de se passar em uma América do Norte alternativa, afetada por uma guerra termonuclear em 2077, a série “Fallout” pula para a Los Angeles de 2296, um futuro no qual os ricos sobrevivem em refúgios subterrâneos, bunkers com dezenas de níveis, mas a maioria da população lida com monstros, canibais e a hostilidade natural da Wasteland, a terra arrasada que sobrou na superfície.

“O game tem um tom complexo. Há momentos emocionantes e dramáticos revezando com instantes engraçados e subversivos”, diz Nolan, que é o produtor executivo da série e diretor dos três primeiros episódios. “É divertido trabalhar em algo que com mais comédia que meus projetos usuais.”

Após “Person of Interest” e “Westworld”, ele sabia que teria de ir para outro caminho para assegurar essa mistura de sátira e ação pós-apocalíptica do RPG criado por Tim Cain em 1997 e elevado a fenômeno de vendas a partir de “Fallout 3”, em 2008, que serve de maior inspiração para a série em oito episódios.

Foi quando ele trouxe a bordo o casal Geneva Robertson-Dworet (“Capitã Marvel”) e Graham Wagner (“Silicon Valley”) para assumir como showrunners. “Precisava de dois roteiristas talentosos com liberdade total para trabalhar”, afirma Nolan.

A pressão ficou ainda maior, no ano passado, com a estreia de “The Last of Us”, série da HBO também baseada em um jogo de sucesso. Premiada e com uma média de 32 milhões de espectadores por episódio, a maldição dos fracassos de adaptações de games foi finalmente quebrada.

“Milhões de pessoas gastam bilhões de horas nestes games. E como alguém que passou muito tempo no universo de ‘Fallout’, quero ser surpreendido com algo novo. Isso ficou óbvio com a HBO lançando ‘The Last of Us’ como uma propriedade intelectual de sucesso”, diz o diretor.

“A gramática da televisão está mudando com estas séries ambiciosas que demandam muito tempo para serem feitas. Mas planejamos várias temporadas.”

Para entregar algo novo para este cenário disputado, Nolan, Robertson-Dworet e Wagner decidiram replicar a sensação de mundo livre do game ao dividir o foco de “Fallout” em três personagens diferentes: Lucy (Ella Purnell), uma mulher criada no bucólico refúgio 33; Maximus (Aaron Moten), um soldado inexperiente da poderosa Irmandade do Aço, exército do que sobrou do governo dos Estados Unidos e com a missão de recuperar relíquias pré-guerra; e Ghoul (Walton Goggins), um caubói mutante com um passado ilustrado, mas um presente assustador.

“Não conhecia muito bem o game. Mas adorei como descreveram Lucy como uma mistura de Ned Flanders [de ‘Os Simpsons’], com Leslie Knope [personagem de Amy Poehler em ‘Parks and Recreation’]. Ela pode protagonizar um comercial de pasta de dentes e te matar”, afirma Purnell.

“Já interpretei vários personagens durões na carreira, mas nenhum como Ghoul”, diz Goggins, o grande destaque da série.

O trio se cruza quando o pai de Lucy vivido por Kyle MacLachlan, astro de “Twin Peaks”, é sequestrado por habitantes da superfície se passando por membros de um refúgio vizinho numa sequência tão violenta quanto divertida.

A garota abandona a segurança do subterrâneo e caminha pelo deserto da superfície onde um dia foi Los Angeles numa busca suicida. “Escolhi este cenário pela ironia de ter estes idiotas de Hollywood adaptando a franquia adorada do game”, brinca Nolan, enquanto caminha nos corredores do refúgio 33, erguido no Steiner Studios, em Nova York.

O produtor executivo e diretor não poupou o orçamento da Amazon para recriar o mundo de “Fallout”. Além do refúgio quase todo reproduzido nos mínimos detalhes, a produção filmou em Long Beach, no interior do Utah e duas semanas na Namíbia, capturando Kolmanskop, uma cidade-fantasma que um dia serviu de moradia para mineradores e foi tomada pelas dunas.

“Queria ter utilizado este cenário em ‘Westworld’, mas a arquitetura não funcionava. Mas ele ficou marcado na minha mente e agora precisávamos de algo grandioso para deixar este mundo ainda mais realista”, afirma. “Tirando a roda gigante de Santa Monica, tudo é efeito prático.”

Enquanto uma equipe filmava uma cena no refúgio 33 com inimigos presos em uma das suas áreas, a reportagem também teve acesso ao Gold Coast Studios, em Long Island. Foi ali que a equipe de Nolan ergueu o chamado “Volume”, impressionantes painéis em LED de nove metros de altura que servem de cenários virtuais para os atores contracenarem no centro.

Neste dia, uma das últimas sequências de “Fallout” tomou forma em um conhecido ponto turístico de Los Angeles simulado nas telas em alta definição sob a tutela do diretor Wayne Yip (“Anéis de Poder”), responsável pelo episódio.

Mas o que mais chama a atenção é a armadura da Irmandade do Aço em tamanho real de Maximus, que parece tão mortal e pesada quanto nos games. “Superou nossas expectativas”, diz o ator Aaron Moten. “Achava que ia ser ótimo, mas é incrível demais.”

FALLOUT

Quando Estreia nesta quinta-feira (10), às 22h, no Amazon Prime Video

Classificação 18 anos

Elenco Walton Goggins, Ella Purnell, Aaron Moten

Produção EUA, 2024

Direção Jonathan Nolan

RODRIGO SALEM / Folhapress

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