As reclamações saíram de todos os lados após o empate da Ponte Preta com o Coritiba por 1 a 1. Torcedores de redes sociais e de arquibancadas não se conformaram com a postura do técnico João Brigatti, que decidiu retrancar o time após construir a vantagem no placar. Considero impressionante ainda as pessoas apontarem o dedo na direção do banco de reservas. As decisões são de autoria de Brigatti? Sim. As substituições? Com certeza. Ele comete erros? Não há dúvida. Então, ele é o único culpado? Nem tanto.
É preciso compreender a conjuntura. A Ponte Preta no futebol profissional tem uma política de estado. Ou seja, uma direção e norte que vem a partir da Diretoria Executiva comandada por Marco Antonio Eberlin. De imediato você rebate: “Ah, então o presidente escala o time?”. Claro que não! Aliás, em um futebol cada vez mais moderno e profissional, é fácil flertar com o delírio de quem acredita em tal conceito.
Pense por um instante. Na sua casa, você determina como ficam dispostos os móveis, que horário a comida será servida, o instante que os filhos vão dormir, entre outras resoluções. Na empresa, o patrão estipula o horário e entrada dos funcionários, as regras de convivência e os critérios para promoção e demissão. Por que em um clube de futebol seria diferente? Como o empregado faz tudo de sua mente sem obedecer uma diretriz?
Pare. Pense. Reflita. Recorde. Nas oportunidades em que ocupou o cargo de diretor de futebol e de vice-presidente de futebol, entre 1997 a 2006, Marco Antonio Eberlin nunca escondeu de ninguém a sua predileção por treinadores que ficassem no sistema defensivo e no contra-ataque ao invés de agredir o adversário de modo incessante ou que abraçasse o futebol propositivo. Foi por isso que ele lançou Marco Aurélio Moreira, Estevam Soares, Nenê Santana, entre outros profissionais. Todos que focaram o seu trabalho na construção de um forte esquema defensivo e complementado com um jogador de velocidade e um centroavante de estatura. Por que seria diferente agora, em pleno 2024, época de aprofundamento da crise financeira e do aumento da disparidade de renda entre os clubes?
João Brigatti, detentor de suas ideias de futebol, sabe que seus conceitos são sintonizados ao pensamento daquilo que pensa a Diretoria Executiva. Assim como Felipe Moreira agradava por jogar com uma forte marcação e de maneira reativa. Em contrapartida, certamente quando Hélio dos Anjos montava as equipes de modo ofensivo nos jogos fora de casa e os gols do oponente apareciam no contra-ataque, certamente era um cenário responsável por aumentar o descontentamento dos dirigentes com o treinador campeão da Série A-2.
Vamos traduzir: a atual Diretoria Executiva foi eleita de acordo com os preceitos do estatuto. Tem mandato legalmente constituído e dentro da lei. E pode instituir os programas e procedimentos que desejar. Inclusive no Departamento de Futebol Profissional.
Não gosta? Preferia que a Ponte Preta jogasse de outra maneira? Se você for apenas torcedor, o caminho é rezar para que o caminho escolhido produza frutos na Série B. Agora, se você for associado, conselheiro de qualquer estirpe e está revoltado com a retranca da equipe, quero te dar uma notícia: ninguém foi nomeado, tanto no Conselho Deliberativo como na Diretoria Executiva. Todos de um jeito ou de outro foram votados. Se o associado ou conselheiro não apreciar os rumos do futebol, cobre nas instâncias corretas ou mude o voto na próxima eleição. Se o sucesso tem sócios, os tropeços da bola não fogem a regra. Empatar com o Coritiba é o menor dos males. Duro para o pontepretano é saber que Brigatti pode ser promovido, demitido ou outro profissional ser contratado. O modo de jogar da Ponte Preta será idêntico.
É com essa metodologia que a Macaca pode chegar ao acesso, fazer campanha intermediária ou sofrer para assegurar a permanência. Que Deus abençoe e proteja a Ponte Preta. Vai precisar.
As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do THMais Campinas