Elias Aredes: condenar Jeh é muito fácil, mas quem vai ajudá-lo?

Elias Aredes
Elias Aredes
Elias Aredes Junior é jornalista formado desde 1994. Já trabalhou nos jornais Diário do Povo, Tododia e agora está no Correio Popular. Também atuou na TV Século 21, Rádio Central e atualmente está na Rádio Brasil. É responsável pelo portal Só dérbi (www.soderbi.com.br)
Foto: Marcos Ribolli/Especial PontePress
Foto: Marcos Ribolli/Especial PontePress

A atitude mais confortável do mundo do futebol campineiro na atualidade é criticar o atacante Jeh. Todos os ingredientes estão colocados. Um rapaz de 24 anos seduzido por uma proposta por empréstimo do Santos. O dinheiro oferecido é tamanho que o atleta é incapaz de cumprir com suas obrigações. Fica abalado. Não joga contra o Coritiba.

Comparece à reapresentação, é repreendido pelo presidente e treinador e fica à disposição no jogo seguinte. A torcida, enfurecida, acompanhou tudo com lupa.

Surge o domingo no horizonte e o jogador é escalado para atuar contra o Goiás. Jogo fora de casa. Necessidade de somar três pontos. Surge a brecha. A bola é lançada, Jeh disputa com o zagueiro Edson Felipe e é derrubado dentro da área. Pênalti marcado. Ele vai e desperdiça. Tadeu defende. Na sequência, Jeh tenta se redimir e dá uma entrada que era o prenúncio de um cartão vermelho. É substituído e, resignado, senta no banco de reservas. Esta é a história à disposição de todos. Argumentos suficientes para ele ser trucidado e arrebentado no tribunal da internet. Ainda mais quando a irracionalidade predomina neste ambiente chamado futebol.

Antes de você atirar a próxima pedra, quero propor uma reflexão. Necessária. Coloque-se um instante no lugar de Jeh. Imagine quantos sonhos foram projetados com a proposta do Santos. Um novo caminho seria aberto para ajustar o trajeto da sua família.

A Ponte Preta é maior do que Jeh? Evidente que sim. Ele sabe disso. Qualquer um tem consciência desse fato. Isso não produz passaporte para ignorar e desprezar ambições e desejos de quem veste calção e chuteira. As redes sociais produzem um sentimento de indiferença nas pessoas. Somos cruéis, nefastos e trocamos de vítimas como quem troca de roupa. No caso de Jeh, esquecemos o básico: ele é um ser humano.

Alguém que tem a obrigação de cumprir o seu contrato e um indivíduo que deveria receber todo o suporte para aguentar as pressões e cobranças inerentes à modalidade. Traduzindo: um psicólogo. Um profissional capaz de ouvir, conversar e dizer uma palavra: basta! Sim, porque se pessoas formadas, privilegiadas, com acesso à informação muitas vezes precisam cuidar de sua saúde mental, o que justifica ignorarmos as necessidades de um jogador de futebol com o perfil social e econômico de Jeh? Não é questão esportiva. É de saúde. É de vida. Ou seja, em conjuntura normal, Jeh não entraria em campo para enfrentar o Goiás. Ficaria o tempo que fosse necessário para colocar as ideias em ordem e concluir se realmente desejava ficar na Ponte Preta. Se a resposta fosse negativa, ocorreria o encaminhamento de sua liberação na janela de transferência, cujo início está programado para o dia 10 de julho. E vida que segue para o clube e o jogador. Com o pagamento da multa rescisória à Macaca.

Evidente que a Ponte Preta está em primeiro, segundo e terceiro lugares. Claro que a instituição está a frente do jogador. Só que não podemos normalizar o tratamento hostil direcionado aos jogadores de futebol e que é reinante nas redes sociais.

Que Jeh encontre seu caminho. Que receba a orientação necessária para seguir sua carreira. E que a Ponte Preta aprimore seu trabalho para que episódios como esses sofrido por Jeh ocorra com frequência cada vez menor.

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