Flávio Bolsonaro se defende de ‘Abin paralela’ e diz ter sido vítima da Receita

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) negou envolvimento com a “Abin paralela” nesta quinta-feira (11) e afirmou que foi vítima de um crime cometido por “pessoas de dentro” da Receita Federal, que teriam acessado seus dados ilegalmente.

“O grupo especial de Lula na Polícia Federal ataca novamente. Na ocasião em que eu fui vítima de criminosos que acessaram ilegalmente os meus dados sigilosos na Receita Federal, eles conseguem transformar isso em uso da Abin para me auxiliar de alguma forma”, afirmou.

O comentário de Flávio foi feito após a divulgação de detalhes da investigação da Polícia Federal sobre o uso político da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sob Jair Bolsonaro (PL). Há, entre outras, suspeitas de ações clandestinas contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e tentativa de blindar filhos do ex-presidente de investigações.

A PF identificou o áudio de uma conversa entre o ex-presidente, o ministro chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno e o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem (PL) sobre o caso das rachadinhas.

Na conversa, datada de 25 de agosto de 2020, segundo a PF, eles tratam de supostas irregularidades que teriam sido cometidas pelos auditores da Receita Federal na confecção do relatório de inteligência fiscal que deu origem à investigação das rachadinhas -desvio de parte dos salários dos funcionários da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) do gabinete de Flávio, quando deputado estadual no Rio

A investigação afirma que, no áudio de uma hora e oito minutos, Ramagem sugere a instauração de um procedimento administrativo contra os auditores para anular a investigação das rachadinhas, bem como retirar alguns servidores de seus respectivos cargos.

Segundo a PF, também foram achadas provas que destacaram a atuação do policial federal Marcelo Araújo Bormevet e do militar Giancarlo Gomes Rodrigues em ações clandestinas para “achar podres e relações políticas” contra estes auditores. Os dois agentes foram presos nesta quinta.

“O que eu ouvi dizer, eu não tenho nem certeza se aconteceu, é que foi instaurado um procedimento administrativo disciplinar contra esses criminosos da Receita e que uns dez foram punidos. Parece que tinha uma força-tarefa do crime dentro da Receita contra mim”, disse Flávio.

Flávio também afirmou que a denúncia contra ele foi arquivada por questões processuais, sem relação com o mérito das investigações –o que, segundo ele, demonstra que não há relação entre a defesa jurídica feita à época e a Abin.

“Nada a ver com qualquer coisa da Abin. Eu não posso correr atrás dos meus direitos de vítima que eu fui de criminosos de dentro da Receita Federal que isso é usado contra mim. Faça-me o favor. Isso eu não vou aceitar.”

A Folha procurou o gabinete de Ramagem, mas não houve resposta até a edição deste texto. A defesa dos alvos dos mandados de prisão e buscas expedidos pelo STF e cumpridos pela PF nesta quinta não foi localizada pela reportagem.

A investigação da PF também apontou que a estrutura da Abin teria sido utilizada de forma clandestina para interferir em investigação de outro filho do ex-presidente, Jair Renan Bolsonaro.

Trocas de mensagens obtidas pela PF mostram os mesmos agentes discutindo o monitoramento de pessoas relacionadas ao inquérito que apurava suposta atuação de Renan para favorecer empresários em discussões do governo federal.

Procurada pela reportagem, a defesa de Renan disse Bolsonaro que não tem nada a declarar sobre o relatório que aponta interferência da Abin na apuração.

Já o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL), um dos alvos da investigação da PF sobre a Abin Paralela, afirmou que “o gabinete do ódio do sistema” é a “verborragia do dia da imprensa”, e que há fetiche por sua imagem.

“A verborragia do dia da imprensa, o gabinete do ódio do sistema, é tentar dar uma cara à narrativa suja deles, sem nunca sequer mostrar nenhuma prova, a não ser o fetiche por minha imagem. Todos sabem que isso tem método.”

Pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, Ramagem foi procurado pela reportagem, mas não se manifestou até a publicação deste texto.

THAÍSA OLIVEIRA E MARIANA BRASIL / Folhapress

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