A pejotização, prática cada vez mais comum no mercado de trabalho brasileiro, tem gerado um debate crescente sobre seus impactos nas relações de emprego e nos direitos dos trabalhadores. Trata-se da contratação de profissionais como Pessoa Jurídica (PJ), em vez de empregados sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Na prática, as empresas obrigam trabalhadores a abrir um CNPJ para prestar serviços, mantendo uma relação de trabalho com as mesmas características de um empregado formal, mas sem os direitos garantidos pela legislação.
Segundo a advogada trabalhista Dra. Ingrid Raunaimer, “a pejotização é uma forma de mascarar uma verdadeira relação de emprego, onde o trabalhador está subordinado, cumpre horários fixos e segue ordens, mas não tem acesso a direitos como férias, 13º salário, FGTS e outros benefícios garantidos pela CLT.”
Na visão da especialista, as empresas adotam essa prática com o intuito de reduzir custos. “A pejotização é uma alternativa que as empresas encontram para economizar nos encargos trabalhistas, como INSS e FGTS, além de evitar a burocracia da contratação formal. No entanto, o maior prejudicado é o trabalhador, que perde direitos essenciais e acaba em uma posição mais vulnerável.”
Ela ressalta que, apesar de algumas vantagens aparentes, como a flexibilidade de horários e a possibilidade de negociar valores mais altos, o trabalhador PJ fica desprotegido em situações de doença, demissão ou interrupção do trabalho.
Implicações legais e caracterização de fraude
A pejotização, quando utilizada para disfarçar uma relação de emprego, é considerada ilegal pela legislação trabalhista brasileira. A Justiça do Trabalho tem se deparado cada vez mais com esses casos, reconhecendo a prática como uma fraude e obrigando as empresas a pagarem os direitos trabalhistas devidos. “O que caracteriza a ilegalidade é a subordinação. Se o trabalhador segue ordens, tem um horário fixo e está integrado à estrutura hierárquica da empresa, ele deve ser considerado um empregado, independentemente de ter sido contratado como PJ,” explica Dra. Ingrid.
Ela ainda destaca que “a ausência de autonomia, que é comum em trabalhadores CLT, é um dos principais indícios de pejotização fraudulenta. Quando um trabalhador PJ não tem liberdade para decidir como, quando e onde realizar suas tarefas, e precisa justificar ausências ou atrasos, isso é um forte indício de que há uma relação de emprego disfarçada.”
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Casos recentes na Justiça do Trabalho têm demonstrado que, quando o vínculo empregatício é comprovado, as empresas são condenadas a pagar verbas retroativas como FGTS, férias, 13º salário, além de possíveis multas por irregularidades. Além disso, o Ministério Público do Trabalho (MPT) tem intensificado a fiscalização para combater essa prática e garantir que as empresas sigam a legislação vigente.
Precarização e o futuro da pejotização no Brasil
A pejotização é muitas vezes vista como uma forma de precarização do trabalho. Dra. Ingrid explica que, além da perda de direitos trabalhistas, o trabalhador PJ fica desprotegido em situações que afetam sua saúde e estabilidade financeira. “O trabalhador PJ não tem direito ao seguro-desemprego, ao auxílio-doença pelo INSS, e tampouco ao FGTS, que poderia ser usado em casos de demissão ou aposentadoria. Isso deixa o profissional em uma situação muito mais vulnerável do que o trabalhador registrado pela CLT.”
Apesar do crescimento dessa prática em setores como tecnologia e consultoria, onde a flexibilidade é valorizada, Dra. Ingrid acredita que há uma tendência de reversão desse cenário, principalmente devido ao aumento da fiscalização e à conscientização dos trabalhadores. “Nos últimos anos, temos visto uma crescente fiscalização por parte do Ministério Público do Trabalho, e as decisões judiciais têm desestimulado a pejotização ilegal. Com o tempo, acredito que essa prática tende a diminuir, especialmente à medida que os trabalhadores se conscientizam dos seus direitos e buscam reparação judicial,” conclui.
De acordo com o IBGE, o número de profissionais que trabalham como PJ no Brasil tem aumentado nos últimos anos, refletindo a busca de empresas por maior flexibilidade e a redução de custos trabalhistas. Contudo, os riscos envolvidos para o trabalhador são altos, e a pejotização pode se tornar uma armadilha caso não sejam observados os aspectos legais e as condições contratuais. “Antes de aceitar uma proposta como PJ, é essencial que o trabalhador avalie cuidadosamente se a contratação é realmente vantajosa e se há autonomia real na prestação de serviços. Consultar um advogado trabalhista é uma medida preventiva importante para evitar problemas futuros,” orienta Dra. Ingrid.