Norte de Israel combina sirenes, destruição e férias na praia

NAHARIYA, SA’AR E NAKHSHOLIM, ISRAEL (FOLHAPRESS) – Uma visita de um dia ao norte de Israel, região fronteiriça mais afetada pela guerra em curso entre o Estado judeu e os libaneses do Hezbollah, oferece um combo de perigo iminente, cenas de dor e destruição e uma certa dose de indiferença expressa nas suas belas praias.

A reportagem esteve nesta quarta (25) em cidades do norte, uma viagem que tem alguns toques surrealistas, como cruzar com caminhões transportando blindados rumo à planejada ofensiva terrestre contra os fundamentalistas aliados ao Hamas palestino.

Ou então uma fila de helicópteros de ataque de fabricação americana Apache em uma pista improvisada entre a rodovia e o azul do Mediterrâneo, prontos a pontificar a clássica cena do “Apocalypse Now” de Francis Ford Coppola.

As praias, aliás, apresentam um aspecto de normalidade sobre a tensão que se expressa toda vez que o celular apita um alerta de ataque aéreo -o aplicativo segue as sirenes que soam pelo país, e a área compreendida entre a região de Haifa e a fronteira libanesa é a campeã no quesito.

Nesta relativamente calma quarta, essa faixa que no litoral soma 140 km pontificou 7 dos 10 alertas. Banhistas da praia de Nachsholim, afetados pela primeira vez pelo toque da sirene às 9h07 (3h07 em Brasília), se queixaram de ter de procurar abrigo, mas logo estavam de volta à areia.

Segundo funcionários de hotéis, o movimento caiu com a guerra, mas não a ponto de tornar o lugar deserto. Entre os banhistas estavam pessoas que integram o grupo de 60 mil refugiados da região, retirados de suas casas junto à fronteira.

Algumas delas vivem em hotéis beira-mar, pulando a queixa da precariedade relatada em outros pontos do país -a alternativa é se virar, mas recebendo o equivalente a R$ 8.800 mensais por família.

Mais ao sul, rumo à também ameaçada região de Netania, o visual no fim da tarde incluía uma miríade de parapentes e uma praia lotada de fazer inveja a Ipanema em dia bom.

Por óbvio, essa é uma faceta, assim como as pessoas esperando ônibus em meio aos alertas em Akko, a antiga e medieval Acre de fama templária, já ao norte de Haifa. O tráfego também parecia normal, embora motoristas digam que está menos pesado do que o usual.

Quando a reportagem chegou ao Centro Médico da Galileia, que a 9,6 km de distância é o hospital mais próximo da fronteira libanesa, estavam sendo atendidos três feridos pelo lançamento de foguetes de 122 mm do Hezbollah na salva das 13h35. Eram 14h05, e o ambiente não permitia ambiguidade sobre a gravidade da crise.

Há caixas de mantimentos estocados para a eventualidade de a invasão ensaiada por Israel tornar-se realidade. “Estamos preparados para o pior”, disse o vice-diretor da unidade, o oftamologista Tsvi Schelag, que também é o chefe da unidade médica de campanha do Exército na região.

A solícita direção da unidade permitiu colher algumas imagens, mas não deu detalhes sobre a origem das vítimas. Eles começam a surgir por meio de grupos de WhatsApp de militares, que indicavam um acerto direto de foguete no kibutz Sa’ar, um dos mais próximos do Líbano, a 7 km da divisa.

Falando em WhatsApp, o funcionamento da telefonia celular com dados que conhecemos é bem distinto na região. O Waze que guiava a reportagem passou a localizar seu carro no Aeroporto Internacional Rainha Alia, em Amã, a capital jordaniana 400 km a sudeste dali.

Noves fora voltar a confiar em placas, o sinal em si dos telefones torna-se instável. Tudo isso é cortesia do uso intensivo de bloqueadores de GPS e de telefonia empregados na região por ambos os lados do conflito.

Chegando ao kibutz, guardado por guarnição de 25 militares dedicados a proteger seus mil moradores, logo se encontrava a área atingida. Bastava seguir carros de fardados, curiosos e jornalistas ocasionais.

Dois dos três feridos do hospital, ambos gravemente, eram de lá. E não eram os judeus alvo do Hezbollah, e sim dois trabalhadores árabes de vilas da Alta Galiléia. A dupla trabalhava na reforma de uma casa quando o projétil atingiu o local, destruindo parcialmente a obra e um carro.

Segundo a gerente do local, herdeiro dos experimentos socialistas da aurora de Israel, alvo preferencial de terroristas como o ataque do Hamas mostrou e hoje lembrando um manicurado condomínio fechado, os moradores da casa haviam se mudado para lá recentemente -após terem tido outra residência atingida por destroços de drones.

IGOR GIELOW / Folhapress

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