A crise na Argentina persiste e a cada semana novos capítulos são registrados no cotidiano da política do país vizinho. O chamado Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), do presidente Javier Milei, está próximo de se tornar ineficaz. Após ser aprovado em votação apertada na Câmara dos Deputados, o ‘megadecreto’ foi recusado pelo Senado por margem significativa de votos.
Agora, o ‘megadecreto’ volta para a Câmara dos Deputados e uma nova votação será marcada nos próximos dias. Em caso de derrota, Milei não poderá colocar em prática as medidas econômicas que citou ao longo de toda a campanha eleitoral. Antes da decisão do Senado, o governo teve a oportunidade de adiar a votação para negociar melhor os termos com os parlamentares, mas a vice-presidente Victoria Villarruel garantiu ao presidente Milei que a proposta seria aprovada, o que não ocorreu e gerou ‘memes’ nas redes sociais.
No Brasil, é comum uma ‘medida provisória’ assinada pelo presidente ser rechaçada pelo Congresso Nacional. Na Argentina, no entanto, foi a primeira vez na história em que o Senado rejeitou um decreto direito do presidente da República.
Na esfera econômica, a inflação da Argentina subiu 13,2% no mês de fevereiro, de acordo com levantamento divulgado pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) do país. Com os novos dados, o aumento dos preços bateu 276,2% em 12 meses, um recorde histórico na medição.
Durante o Jornal Novabrasil desta segunda-feira (18), o pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV, Leonardo Paz, analisou o atual cenário da política argentina.
“Na Câmara, o presidente Javier Milei desenvolveu maior desenvoltura política na votação, mas agora o diálogo colapso e por uma margem muito alta os senadores negaram o decreto. Esse decreto agora volta pra Câmara, que pode aprovar. Mas é um indicador muito forte de que as coisas não estão boas dentro da negociação. Você tem partido da base que votou contra. Então, se Câmara rechaçar, a situação do Milei pode se complicar”, afirmou Milei.
Internamente, ministros do governo Milei estão preocupados com a popularidade do presidente da República. Por enquanto, os índices ainda são positivos, mas o aumento da inflação em segmentos como Transporte (21,6%) e Habitação, Água, Eletricidade, Gás e Outros Combustíveis (27,2%) pode alterar o cenário nos próximos meses.