Ignorantes, unidos, jamais serão vencidos!

Ignorantes unidos, jamais serão vencidos
Foto: Reprodução.

Neste final de semana, assistimos, mais uma vez, a um show de horrores promovidos por seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro, no que diz respeito à incoerência de conhecimentos sobre fatos históricos ou mesmo elementos culturais expressivos e marcantes. Nada de novo, diga-se de passagem, mas digno de uma reflexão mais pormenorizada e dissociada de qualquer ranço ideológico, apenas factual.
Associar o “Pra não dizer que não falei das flores” de Vandré, um hino contra a ditadura militar no Brasil, à exaltação da volta do exército ao poder, fim do estado democrático de direito, é, antes de tudo, um sacrilégio imperdoável, porém compreensivo. Referir-se a Israel como um país cristão, é um pecado mortal, mas compreensivo. Pedir anistia a golpistas, embandeirando a imagem do torturador Coronel Carlos Brilhante Ulstra é uma afronta ao bom senso, entretanto compreensível. Ver desfilar políticos abutres, à caça de votos a qualquer preço, passando como tratores sobre as ideologias é nauseante, mas compreensivo.
E por que, compreensíveis são essas atitudes que maculam parte da sociedade? Exatamente porque fazem parte da sociedade brasileira, em todos os espectros, sejam eles de uma elite ou de qualquer outro segmento social. A verdade é simples e dolorida: temos uma sociedade ignorante, que exala ignorância, exalta ignorância, cultua ignorância, vive da ignorância, ganha dinheiro e perde dinheiro com ignorância e ri da própria ignorância. Tudo em nome da feliz convivência ignorada dos ignorantes irmanados.
Um país que escola é depredada, as famílias não veem nos bancos escolares a saída da vida difícil que levam, o governo precisa pagar para alunos frequentarem as escolas, boa parte da população só vai à escola para comer a merenda, as universidades deixaram de ser universais para serem cursos de preparação técnica, sem qualquer postura de transformação social, uma elite que se prepara para o mundo de Nárnia, uma economia de mercado que exclui e não acolhe ou congrega, políticos que passam longe das causas sociais e odeiam o estadismo, comunicação que valoriza um monte de gente que nada tem a dizer, nada diz e ganha dinheiro com nada a propor, uma sociedade que desacredita em filosofia ou sociologia, dizendo que é coisa de comunista, um país que não sabe o que é comunismo, um povo que exalta ditadores e os chama de amigos, um povo que não reconhece genocídio e exalta o “olho por olho, dente por dente” (desde que não seja com eles), gente que acha que bandido bom é bandido morto (desde que não sejam os seus filhos), e assim por diante; esperar o que desse povo?
Nós, jornalistas, que convivemos o dia a dia com a notícia, sabemos, tristemente, que a desgraça chama mais atenção do que a reflexão. Fofocas são mais atrativas que análises conceituais. Saber que a atriz X traiu o ator Y é mais interessante do que falar da fome no Sudão, da luta no Oriente Médio, da pobreza das periferias. O avião novinho do cantor W dá mais ibope do que a falta de ônibus nas grandes cidades.
Esperar o que de uma sociedade que acha que o jogador K estuprou uma mulher porque ela permitiu? Ou que o sujeito Y é gay e isso compromete? Uma sociedade que fecha as portas para quem é preto, velho, gordo e assim por diante? Achar o que de um grupo social que não vê terror na tomada à força do poder ou na sua tentativa, achando que uma minuta não é um golpe porque não deu certo?
O mais triste é saber que ninguém resolveu esses entraves enquanto ocupou o poder. A esquerda foi um desastre. Essa sociedade é filha sim de anos sob o poder de uma esquerda raquítica e anêmica. A direita deu sequência a esse horror. A escola continua fazendo de conta que ensina e os alunos fazendo de conta que aprendem. As políticas educacionais são tímidas, demagógicas, eleitoreiras e ineficazes. Tudo parece o que não é.
De tudo isso, entende-se que meninos vestem azul, meninas, rosa e ignorantes unidos, jamais serão vencidos. Amém.

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