O almoço de Páscoa dos pobres

O almoço de Páscoa dos pobres
Foto: Divulgação/Bom Prato Ribeirão

Sou daqueles jornalistas que não apenas publicam suas matérias, mas gosto de ler o que pensam os leitores. Por isso, passear pelas redes sociais é uma diversão que faz parte do meu universo. Nunca retruco ou defendo nada, além do que está no texto. Fico admirado ao perceber que a grande maioria só lê a manchete ou no máximo a linha fina. São os intelectuais de manchete, legião de leitores que se negam a ler o texto todo, mas acham-se no direito de discutir sobre tudo. Mas isso fica para uma outra discussão.

Essa semana, publiquei uma matéria na qual o Restaurante Bom Prato, mantido pelos governos estadual e municipal, divulgaram que na sexta-feira santa serviria bacalhoada e moqueca aos que lá frequentam. No sábado, seria uma farta feijoada e no domingo de Páscoa, mais uma vez apareceria a bacalhoada e mais outros deliciosos pratos.

E qual não foi a minha surpresa ao caminhar pelas redes sociais e notar, não a unanimidade, mas uma boa parte do público, atacando a atitude, questionando que bacalhau, pelo preço que está, não é comida de pobre e não deveria aparecer no cardápio de um restaurante popular.

Comida de rico e comida de pobre. Essa discriminação está longe de ser nova no Brasil. Convivemos com isso há séculos. Ela retrata com requinte de crueldade como parte da elite desse país trata os pobres. As sobras e o que serve de descarte é o que deve constar na dieta de quem não nasceu no berço de ouro.

Por que bacalhau? Que comam ovos! Por que oferecer o que há de melhor, se é possível ofertar o mínimo? Esse é o contexto da pobreza. Ofertar o mínimo. Por que boas escolas? Por que saúde de qualidade? Por que cidadãos conscientes e educados? Por que universidade para todos? Por que presídios que socializem o indivíduo e não o doutorem no crime? Por que uma sociedade que respeita os direitos e se sente nauseante quando atentam quanto ao estado de direito? Por que a liberdade de escolha de quem deve gerir a pátria? Por que não defenestrar todo tipo de populismo político? O bacalhau custa caro, mas é bom.

Evidentemente que aqui ninguém é santo para não entender que político oferecendo o que há de bom na páscoa tem razões eleitoreiras. Não importa. A ação mostra que o melhor pode ser ofertado. Fernando Pessoa dizia que tudo vale a pena se alma não for pequena. A alma da elite egoísta e nojenta desse país é salgada, seca e nem passa como bacalhau de quinta categoria.

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