Movimento de libertação nacional de pernas quebradas

Manifestações do 8 de janeiro | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Manifestações do 8 de janeiro | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Cansei. Inicio neste instante o movimento de libertação nacional do populismo. É inacreditável o apagão intelectual que assola cruelmente este país. O já é o fundamento do sempre. Poucos são os que se atrevem a pensar, a costurar os interesses, amealhando fatos e buscando entendimento. Tudo é midiático, momentâneo, fecundado no êxtase do coito temporal e, certamente, rápido e mecânico. O prazer é não ter prazer.

Falo tudo isso acompanhando e, por dever de ofício, trabalhando nos fatos políticos que cruzam o nosso cotidiano. Chego a me assustar com as colocações simplistas, rasteiras e sem raízes do comportamento da sociedade, diante dos fatos que incrementam a cena política brasileira.

Raros são os que se dão conta de que estamos no subsolo do mais estúpido populismo que se pode ter. Independente do governo, a seiva que mantém vivo o designo da nação é um copilado mal feito da manutenção da sordidez. Os governos, todos eles, sem exceção, arrotam modernidade que são retratos reparados da mesma parede de sempre.

Chega a ser cômica, quando não trágica, a discussão infundada nos conceitos de direita e esquerda. Não existe fundamento ideológico em terra de ignorantes. Não se discute política com quem mal sabe escrever o próprio nome e não é capaz de entender uma placa de aviso. Não se atribui posicionamento político em quem se nutre de um sebastianismo secular e cancerígeno.

O que aconteceu no 8 de janeiro, na cidade de Brasília, é a prova cabal da manipulação frenética da patologia social. Nada daquilo foi ideológico, foi econômico. Chantagem barata de quem não quer perder privilégios e se assusta com a chegada da legalidade. Nada de novo, no contexto da elite brasileira. Foi assim com a abolição da escravatura, foi assim com a era Vargas, foi assim com a “ameaça comunista”.

A desculpa de um suposto movimento político é o muro da vergonha que esconde a verdade. O chamado “bolsonarismo” é uma apropriação indébita de um termo que antecede o próprio Bolsonaro. Desde quando a sociedade brasileira foi arquitetada e dimensionada, tendo como pauta a igualdade de direitos? Desde quando os privilégios foram combatidos e sufocados? Desde quando negros e brancos obtiveram as mesmas chances? Desde quando os pobres e ricos caminharam nas mesmas trilhas?

O que sempre tivemos, isso é a mais pura verdade, foram promessas não cumpridas de prosperidade. Existimos como país do futuro, sem nenhum futuro. Nossas escolas são sucatas de métodos ultrapassados e sem encantamento. Nossos professores são humilhados e desmotivados dia a dia. Nossa saúde está na UTI há muito tempo. Morremos nas filas de atendimento. Temos um sistema de saúde brilhante, mas que não dá conta da demanda porque não há vontade política. Sem contar nossa infraestrutura, nossa segurança insegura, nosso atraso em pesquisa, ciência e empregos. E assim vai.

Chega a ser hipócrita a procura pelos culpados da barbárie de 8 de janeiro. Só não vê quem não consegue enxergar além do nariz. Navegue pelos dados da bandalheira que assola a nação e o resultado é claro. Um país que extrai, por exemplo, 7 bilhões por ano em madeiras e 50% desse montante, perto de 3,5 bilhões são ilegais, não consegue as digitais de quem patrocinou a destruição? Me poupe.  Esses números são apenas das madeiras, e o garimpo ilegal, o extrativismo ilegal, o avanço ilegal das fronteiras agrícolas, o uso indiscriminado de agrotóxicos, os transportes ilegais e diversos outros crimes?

Quem fez o pix da catástrofe ficou em casa e deixou à míngua uma plêiade de zumbis tresloucados, que vão pagar, e devem pagar sim, os estragos provocados não somente nos prédios, mas na democracia do Brasil. No entanto, e isso é histórico, os verdadeiros responsáveis, os que não sujam as mãos, mas a alma (o que para eles quer dizer nada) deverão sair incólumes do jogo. Isso faz parte do DNA brasileiro.

Depois virão as promessas, as juras de vingança, os arroubos da justiça que não faltará. Mas tudo será midiático, porque o mordomo será responsabilizado. No Brasil, o mordomo é quem não tem pai rico, não tem nome de família, pistolão fardado, conta em offshore. Virão os arautos da prosperidade prometida, os anjos dos cantos de bonança e o povo aplaudirá e chorará e rezará e agradecerá a Deus por existirem.

Harry Browne, político e escritor norte-americano, disse:  “O Governo é bom em uma coisa. Ele sabe como quebrar as suas pernas apenas para depois lhe dar uma muleta e dizer:”veja, se não fosse pelo governo, você não seria capaz de andar!”

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