Neste domingo, teremos a oportunidade de declarar o nosso voto à nação. Não falo do voto formal, das urnas, falo do voto de confiança, do voto da esperança, do voto do desconsolo, do voto da decepção, do voto de ilusão, do voto da realidade, do voto da lucidez, do voto embriagado, do voto verdadeiro, do voto mentiroso.
Já participei de muitas eleições nessa minha vida. Tenho orgulho de dizer que jamais votei por amizade, mas por confiança. Na balança de perdas e ganhos, creio ser devedor. Perdi muitas e muitas vezes, decepcionei-me tantas outras, revoltei-me um sem número de vezes, mas nunca desisti. Tenho em mim um sonhador alucinado, teimoso e incansável, que ainda acredita em acreditar sempre.
Não conheço qualquer outra maneira de mudar o meu país senão pela política. Desconheço a evolução sem os projetos. Reconheço a atitude como fonte de transformação. Por isso, política sem projeto e atitude, não consegue transformar nada.
Confesso não ver saída, mas no fundo espero sempre estar errado. A mitologia grega conta a história de Sísifo que, castigado pelos deuses, teve que empurrar uma enorme pedra numa ladeira para levá-la ao alto, no entanto, sempre que lá chegava, a pedra descia e Sísifo era obrigado a recomeçar. Eleição por eleição, sinto-me um Sísifo.
Faço parte do time dos que acompanharam os programas eleitorais, dos que leram os programas de governo, dos que pesquisaram a vida dos candidatos em todos os níveis, dos que buscaram luz, dos que se atreveram a não cair no canto das sereias. Nesse liquidificador de informações, o suco extraído tinha o cheiro de ranço, limbo e merda seca. Sinto-me um “caçador de trufas”, investigando entre os excrementos alguma raridade.
A verdade é que as eleições deveriam ser sinônimo de festa. Uma forma de recarregar as baterias, de se discutir futuro, de se empolgar com o que virá, de abraçar ideias, de passar a limpo o certo e o errado, de reconstruir. A fotografia que temos é outra, bem oposta ao que desejamos. Temos o mais do mesmo. A repetição das velhas fórmulas desgastadas. Comemos a marmita de anteontem. Nada mais angustiante.
Thiago de Mello, poeta brasileiro, tem um livro cujo título retrata o meu interior: “faz escuro, mas eu canto”. Juro, não sei o que vai dar, nem se vai dar. Carrego a culpa do comodismo, porque vi, percebi e nada fiz para impedir a tragédia, senão usar as palavras, entretanto as palavras machucam apenas quem as entende, e poucos a entendem. Matei moscas com tiros de canhão.
Neste domingo, acordarei querendo acordar o mundo. Vou para a fila das seções, carregado de um otimismo raquítico e nanico. Tenho meus candidatos desenhados na ponta da faca apontada para o meu peito. Arrisco-me como Ícaro. Voarei, mas no fundo saberei que minhas asas de cera serão derretidas pelos raios do sol da realidade. Meu tombo será cruel. Saberei reviver? Essa dúvida leva quatro anos para ser respondida.