Ataques elevam tensão e temor de segunda frente no norte de Israel

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto o governo de Israel escala sua guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza, no sul do país, uma série de incidentes no norte elevaram o temor de que uma segunda frente possa se abrir no conflito aberto pelo ataque terrorista do grupo palestino no sábado (7).

Só nesta quarta (11), quinto dia das hostilidades, houve o disparo de um foguete de longo alcance de Gaza contra a área de Haifa, 150 km ao norte do território palestino, três alertas de incursão de drones vindos de algum lugar no norte do país, troca de tiros na fronteira com o Hizbullah libanês e um alerta para que os cidadãos da área se abriguem contra o risco de uma infiltração de militantes.

Como o cardápio variado mostra, há muita confusão a explicar. No começo da noite, as IDF (Forças de Defesa de Israel) disseram que o alerta disparado no aplicativo do governo para cidadãos foi um falso alarme, mas não especificou se isso valia para um aviso específico pelo comando regional do norte —que até citava a região de Maalot Tarshiha como vulnerável.

Por duas horas, contudo, moradores se esconderam, temendo a repetição da bárbarie de cenas protagonizadas pelo Hamas, o que parecia crível dado que o grupo operou de bolsões no norte israelense e perdeu alguns soldados desde o sábado. O mesmo pode se dizer sobre os drones.

Se, contudo, as ações fossem do Hizbullah, o nível de perigo de uma escalada regional cresce. Até aqui, suas forças trocaram lançamento de foguetes com disparos de artilharia de Israel, num balé em que geralmente áreas desabitadas são atingidas. São demonstrações de força e alerta.

Nesta mesma quarta, o grupo fundamentalista libanês, que também é um importante partido político em seu país e, como o aliado Hamas, é bancado pelo Irã, admitiu ter disparado um míssil guiado antitanque contra um blindado israelense.

A questão da infiltração que se mostrou inexistente é mais sensível, após a revelação crescente de atrocidades cometidas pelos terroristas do Hamas no sábado —massacre de bebês, morte e sequestro de jovens numa festa rave, estupros, ataque a famílias desprotegidas.

O Hizbullah tem muita violência no currículo, mas nada parecido com a selvageria vista. O episódio mostra a eficácia do Hamas em manter pressão psicológica sobre um país traumatizado.

Na teoria, a entrada de fato do Hizbullah seria um problema sério para Israel, porque a capacidade militar do grupo é muito superior à do Hamas, talvez com cinco vezes mais soldados operando em todo um país, e não só 20 mil homens ensanduichados na minúscula Faixa de Gaza. Fora o arsenal estimado de 100 mil a 150 mil foguetes e mísseis.

De concreto, houve ao menos uma novidade no seu emprego operacional no conflito. Ao menos um foguete R160 do Hamas foi lançado contra Haifa, na primeira ação do tipo desde sábado. Não houve danos no impacto, numa área costeira.

Trata-se da arma com maior alcance à disposição dos terroristas. É um modelo sírio do foguete de artilharia chinês WS-1E, geralmente adaptado em oficinas do Hamas para incluir em suas ogivas fósforo branco, um material altamente combustível, tirado de mísseis e foguetes israelenses que não explodiram em ataques anteriores a Gaza.

Com 122 mm e disparado de lançadores móveis, o foguete pode atingir alvos a até 150 km, como Haifa, principal cidade do norte israelense. Mas a maioria esmagadora dos foguetes em uso nessa parte da campanha palestina é da família Qassam, modelos de fabricação artesanal com diversos calibres que atinge alvos a até 16 km, e modelos Grad (até 45 km) e Fajr-5 (75 km), os últimos empregados contra Tel Aviv e Jerusalém.

Por fim, mais ao sul, incidentes de violência entre forças israelenses e moradores da Cisjordânia, administrada pela rival do Hamas Autoridade Nacional Palestina, se multiplicam. Ao menos 27 já foram mortos por soldados de Tel Aviv desde o sábado.

Enquanto isso, a campanha israelense de bombardeio e cerco blindado a Gaza segue. A formação de um governo de coalizão do contestado premiê Binyamin Netanyahu com o ex-ministro da Defesa Benny Gantz deverá clarificar o que Israel fará: se invadirá a região, sob alto risco político pelas baixas, ou seguirá com as ações punitivas.

Até aqui, 1.200 israelenses morreram nos ataques, e 2.400 ficarem feridos. A retaliação matou 950 palestinos, e deixou 5.000 feridos. É a primeira vez desde a Guerra do Yom Kippur, há 50 anos, que Israel sustenta mais mortos do que seus rivais árabes.

O risco de uma escalada ao norte, que interessaria muito ao Hamas, vai além dos problemas militares para Tel Aviv. Os Estados Unidos já deslocaram um porta-aviões para a costa israelense, como sinal para que o Irã não venha em socorro de seus grupos aliados.

Teerã apoia os palestinos, mas nega a suspeita de relação com o ataque terrorista. A ação ocorreu no momento em que Israel negociava a normalização de suas relações com a Arábia Saudita, joia da coroa do processo de paz sem a inclusão dos palestinos propostos pelos EUA e aceito por países como os Emirados Árabes Unidos, visando isolar o Irã na região.

Não interessa, contudo, a Teerã uma guerra regional —nem à sua aliada Rússia, que critica os EUA pela condução da crise, como fez Vladimir Putin nesta quarta. Mas o risco de a situação sair de controle existe, por óbvio.

IGOR GIELOW / Folhapress

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