Praias turísticas do Nordeste têm índices negativos de balneabilidade

RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – Praias famosas e com turismo forte no Nordeste têm tido dificuldades em alcançar uma boa qualidade da água para uso de banhistas. Levantamento da Folha de S.Paulo mostra que esse é o cenário em Maragogi (AL), Morro de São Paulo (BA) e nas praias do Futuro, em Fortaleza (CE), e de Ponta Verde e Pajuçara, em Maceió (AL).

Ao todo, o levantamento levou em conta 1.350 praias monitoradas em todo o litoral brasileiro com os índices de balneabilidade. No plano nacional, o cenário é de estabilidade em relação a anos anteriores. Recorte no Nordeste, porém, indica a dificuldade de praias turísticas em manterem um padrão bom ao longo de 12 meses.

Os dados são coletados desde 2016, ano em que a Folha iniciou a publicação anual da balneabilidade no litoral brasileiro. A reportagem seguiu normas federais no levantamento. Um trecho é considerado próprio se não tiver registrado mais de 1.000 coliformes fecais para cada 100 ml de água na semana de análise e nas quatro anteriores.

Para a avaliação anual, foi adotado o método da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), que classifica as praias a partir dos testes semanais. Nos dois extremos estão as boas, próprias em todas as medições, e as péssimas, impróprias em mais da metade das medições.

Em Morro de São Paulo, as quatro praias com ponto de coleta se mantiveram ruins pelo segundo ano consecutivo. O resultado representa uma piora em relação a 2021, quando a primeira, a segunda e a quarta praia estavam boas, enquanto a terceira estava regular.

O panorama é semelhante em Maceió, onde as duas praias mais conhecidas do município não têm boa qualidade, conforme o levantamento. Enquanto os dois pontos de coleta na Praia da Pajuçara são considerados péssimos, Ponta Verde tem um local péssimo e outro tido como regular. Em 2022, eram três pontos de praias bons e um regular. Ou seja, em 2023, os índices de qualidade baixa apareceram após dois anos.

A 125 quilômetros da capital alagoana, Maragogi tem cinco dos dez locais de praia considerados ruins ou péssimos, enquanto duas áreas de banho são regulares. Em contrapartida, as praias de Ponta do Mangue, Antunes e Burgalhau são boas.

O município tinha três praias boas em 2021, caiu para uma em 2022 e retornou para três neste ano. Por outro lado, as praias ruins ou péssimas mais que dobraram, saltando de duas para cinco. As regulares caíram de seis para dois, na comparação entre 2022 e 2023.

Em Fortaleza, a Praia do Futuro tem dois pontos ruins, um péssimo e oito regulares. O local é um dos mais frequentados por banhistas cearenses e turistas, incluindo a prática de surfe por esportistas.

Em 2022, a Folha de S.Paulo não teve acesso a todos os boletins de balneabilidade. Por isso, não é possível fazer uma comparação com o ano imediatamente anterior, mas em 2021 a praia apresentava quatro pontos ruins ou péssimos, o que indica uma tendência lenta de recuperação.

Para o biólogo Clemente Coelho, da Universidade de Pernambuco, a baixa qualidade na balneabilidade está diretamente relacionada à falta de investimentos expressivos no saneamento básico, associado ao avanço da especulação imobiliária.

“São locais que, na verdade, evoluíram muito pouco ou absolutamente nada em termos de investimento de infraestrutura e saneamento básico e a população aumentou, tanto a residente quanto a flutuante, principalmente no período de alta estação”, afirma Clemente.

Outro perigo é para as espécies marinhas. Fortaleza, Maceió e Maragogi, por exemplo, estão às margens dos ecossistemas de recifes de corais. A cidade do interior alagoano, inclusive, está dentro de uma unidade de conservação costeira marinha.

“O ambiente recifal possui organismos muito sensíveis. Os corais são sensíveis a qualquer modificação na qualidade da água ou ao lançamento do esgoto, que, quando se lança, possui uma série de organismos, bactérias, fungos, vírus, sendo impactados”, diz Clemente.

Maragogi, por exemplo, tem o turismo marinho, com exploração das piscinas naturais a partir de mergulhos dos turistas. Os corais auxiliam também na produção pesqueira e atuam como organismos filtrantes da qualidade da água.

“O lançamento de esgoto aumenta a turbidez e isso não passa a ser atrativo, pode gerar um prejuízo socioeconômico muito grande enquanto não se investir em saneamento básico”, afirma o biólogo.

Em nota, a Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Maceió disse que a cidade conta com mecanismos e programas para realizar a limpeza das praias, como embarcações que atuam para recolher os materiais que foram descartados de forma irregular. O município também disse que atua para impedir o lançamento de água de esgoto sanitário nas galerias pluviais e que fará a requalificação do riacho Salgadinho.

Por meio de nota, a Prefeitura de Maragogi (AL) afirmou que ligações irregulares de esgoto foram identificadas e que aumentou a fiscalização na cidade. Além disso, diz que notificou os responsáveis e que tem feito melhoria da infraestrutura de esgoto, “visto que o município não é completamente saneado”.

A Prefeitura de Fortaleza disse que tem realizado obras para melhorar as condições sanitárias e de infraestrutura. A gestão também diz que recentemente interligou 2.500 imóveis à rede de esgoto a fim de evitar impactos na orla marítima.

A Prefeitura de Cairu (BA), onde fica Morro de São Paulo, alegou que aplicou multas contra a Embasa (Empresa de Saneamento do Estado da Bahia) por extravasamentos da rede de esgoto em vias públicas e em curso d’água. A gestão ainda disse que fará a revitalização do córrego da Biquinha, que deságua na Primeira Praia, para tentar reverter a avaliação negativa de balneabilidade no local, próximo ao núcleo urbano.

JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress

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