Ao vencedor as batatas, aos vencidos ódio ou compaixão

Neste domingo, estaremos pondo fim a um ciclo ou dando luz a outro? A resposta é simples: nem um, nem outro. O que teremos é a conclusão de uma batalha, cuja guerra promete tantas outras emoções. Quando se chega a um ponto em que os futuros projetos de governo ficam em segundo plano e as diferenças pessoais e ideológicas vão ao extremo, o que se pode esperar é a derrota social, como um todo.

Ganhe Lula ou Bolsonaro, muito pouco será feito no quadro dos avanços da sociedade. Estamos penalizados pela nossa própria incapacidade de cobrar, exigir melhorias, fazer valer o conjunto de regras estabelecidas pela constituição. Trouxemos o debate para a sarjeta, para o esgoto, como bem explicitou o jornal francês Le Figaro.

Chegamos ao cúmulo de levar o confronto dos dois candidatos à arena do bem versus o mal. Fizemos o grande favor de apagar de nossas memórias o passado de governantes (notem, governantes e não pessoas) de cada um deles. Cancelamos impiedosamente aqueles que se opunham às nossas preferências. Tiramos o contraditório e o debate de nosso dicionário. Festejamos o maniqueísmo sem qualquer remorso. Afinal, o demônio precisa ser defenestrado.

Segunda-feira as filas dos hospitais continuarão grandes, o dinheiro será curto para fazer as compras do mês, os boletos precisarão ser escolhidos para serem quitados, porque não dará para pagar todos, a injustiça social vai continuar acontecendo, haverá feminicídios, atos de racismo, homofobia e todas as mazelas que a sociedade cria sem pudor. Independentemente da vitória de A ou B.

As mudanças, se ocorrerem, virão lentamente. É preciso fazer uma faxina social em que todos estejam envolvidos, mas para que isso ocorra, será necessário que apareçam lideranças políticas desnudadas dos rótulos de hoje. Onde estão essas pessoas? Onde está a sociedade das igualdades?

Imaginem que até Deus foi envolvido na trama cruel do cenário político! Alguns tomaram a posse divina por usucapião. Não respeitaram os credos. Não procuraram recompor a alquebrada e claudicante instituição da família, que é o esteio para grandes mudanças sociais, mas cujo tempo de consumismo barato tem feito estragos quase irreversíveis.

Mentiu-se como nunca. Deram asas a um populismo incompatível com a realidade do mundo moderno. Chegaram ao ponto de ressuscitar o passado sombrio das iniquidades. Prometeram picanha e cerveja a um povo famélico que luta por ossos na porta dos açougues. Não disseram como vão encurtar as filas, como vão abrir as escolas e com quais recursos, como vão tirar o país que virou pária mundial e colocá-lo entre os melhores do mundo, com dados e pautas concretas e não promessas vagas que, certamente, não serão cumpridas.

Sempre me considerei um otimista, mas acho que o tempo foi mudando a minha percepção de vida. Confesso a falência da minha esperança. Volto ao velho Machado de Assis, na sua teoria do humanitismo, quando ele dizia, de forma bem pessimista; “aos vencidos, ódio ou compaixão, aos vencedores, as batatas”.

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