A taxação sobre as grandes fortunas ganhou mais destaque nos últimos dias na reunião dos ministros de finança do G-20, em São Paulo. E, além do evento, esse é um assunto que tem sido predominante quando se discute combate às desigualdades socais e a fome no mundo.
Dados do Relatório da FAO/ONU de 2023, indicam que 29,6% da população mundial – 2,4 bilhões de pessoas – sofriam de insegurança alimentar moderada ou severa em 2022. Deste total, cerca de 900 milhões sofriam de grave insegurança alimentar.
De 2021 a 2022, foram registrados progressos na redução da fome na Ásia e na América Latina, mas continuou aumentando na Ásia Ocidental, no Caribe e em todas as sub-regiões da África. O documento da ONU aponta ainda que, em 2021, o custo médio de uma dieta saudável ao redor do mundo era de US$ 3,66 por pessoa ao dia.
Para o professor de Finanças da FGV e colunista da Novabrasil, Fábio Gallo, uma refeição por dia para tirar uma pessoa da fome custa 43 centavos de dólar. “Esse é o valor para a pessoa não morrer de fome”, diz o professor.
Com esses dados é possível salvar o grupo de 50 milhões de pessoas famintas no mundo com US$ 40 bilhões por ano, até 2030. Apesar disso, atualmente, morrem de fome cerca de 10 mil crianças por dia ao redor do mundo.
Fábio Gallo lembra que, de acordo com a OXFAM, menos de US$ 0,08 de cada dólar arrecadado de impostos nos países do G20 vêm de tributos sobre a riqueza. Enquanto isso, mais de US$ 0,32 de cada dólar arrecadado é oriundo da taxação sobre o consumo. Outro dado que mostra a desigualdade vem do World Inequality Report 2022, indicando que os 10% mais ricos do mundo possuem 76% da riqueza total das famílias.
O Brasil está entre os países nos quais os super-ricos pagam uma taxa efetiva de impostos mais baixa do que o trabalhador médio. Nesse sentido, outros países que têm a mesma característica são França, Reino Unido, Itália e Estados Unidos.
O professor alerta que a taxação dos super-ricos é um tema controverso e polarizado. De um lado, os que defendem citam a redução da desigualdade e, de outro, estão aqueles que falam na evasão fiscal e no desencorajar de ações de investimento ou empreendedorismo.
Já a colunista da Novabrasil, Sônia Consiglio, especialista em sustentabilidade, lembrou que o ODS2 dos Objetivos Sustentáveis da ONU é justamente fome zero e agricultura sustentável. “Ou seja, os países que estão na ONU concordaram em acabar com todas as formas de fome e má nutrição até 2030, que está logo aí”. conclui Sônia.
O tema também acaba esbarrando na aplicação e utilização de recursos, muitas vezes, desequilibradas. Para exemplificar, basta observar o que é gasto na área armamentista ou mesmo em outros setores que poderiam ter gastos menores ou mais racionais. Fábio Gallo ressalta que “o maior problema não é a falta de dinheiro, mas a má gestão desses recursos, com falta de organização e de distribuição igualitária”.