A popularização dos banhos de imersão em água gelada — conhecidos como ice baths — vem ultrapassando o universo dos atletas e ganhando espaço entre influenciadores e entusiastas do bem-estar.
Apontados como aliados para aliviar dores musculares e melhorar o humor, os banhos gelados viraram tendência nas redes sociais.
No entanto, especialistas chamam atenção para um possível efeito colateral ainda pouco discutido: o risco de desidratação e o impacto sobre a formação de cálculos renais.
Do bem-estar ao risco silencioso
Um caso relatado pelo jornal britânico The Guardian despertou o debate. Um treinador de performance, adepto de banhos gelados diários, desenvolveu pedras nos rins após meses de prática intensa. Seu urologista levantou a hipótese de que a exposição repetida ao frio pode ter acentuado um quadro de desidratação, favorecendo a formação dos cálculos.
“A imersão em água fria promove uma resposta natural do corpo chamada diurese fria — o organismo excreta mais líquidos e sais minerais para manter a temperatura interna”, explica João Douglas Gil, fisioterapeuta e head nacional de fisioterapia da Brazil Health. “Isso pode causar uma perda hídrica importante se a pessoa não repuser adequadamente esses líquidos.”
De acordo com uma revisão publicada na PLOS ONE em 2025, banhos frios estão associados à melhora do estresse, do sono e até da qualidade de vida. Porém, o mesmo estudo alerta para um aumento agudo de marcadores inflamatórios em práticas frequentes e intensas.

Desidratação e pedras nos rins: a conexão
A relação entre desidratação e cálculos renais já é bem estabelecida na literatura médica. Uma meta-análise publicada no Journal of Nephrology mostra que uma boa ingestão de líquidos pode reduzir em até 60% o risco de formação de pedras. “Quanto mais concentrada estiver a urina, maior a chance de formação de cristais”, reforça Gil. “O problema é que muitas pessoas subestimam o quanto perdem de líquido com esse tipo de exposição ao frio.”
Embora não existam estudos que comprovem diretamente que os banhos de gelo causam pedras nos rins, os especialistas defendem cautela. “Ainda estamos diante de hipóteses baseadas em fisiologia e relatos clínicos. A ciência precisa investigar mais profundamente esse possível efeito colateral”, afirma o fisioterapeuta.
Como adotar a prática com segurança
Para quem deseja seguir com os banhos de gelo sem colocar a saúde renal em risco, algumas recomendações são essenciais:
• manter boa hidratação antes e depois da imersão
• evitar sessões diárias ou prolongadas sem orientação profissional
• ficar atento a sinais como dor lombar, urina turva ou ardência ao urinar
• pessoas com histórico familiar de cálculos devem consultar um nefrologista previamente
“É importante lembrar que o fato de ser tendência não elimina os riscos. A moderação continua sendo a melhor aliada da saúde”, conclui Gil.



