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Cíntia Ribeiro: “Eu quero a sorte de um amor tranquilo”

É só baixar a temperatura em minha cidade que sinto frio na bunda. Já viu isso? Tenho essa coisa meio esquisita: além dos pés, mãos e pescoço, regiões clássicas na arte de manter o corpo aquecido, minhas nádegas também precisam estar quentinhas para que me sinta confortável.

Para escrever este texto hoje, então, precisei de providências drásticas: peguei meu cobertor mais felpudo e me transformei numa panqueca de plush, enrolada da cintura para baixo.

Voltei cheia de orgulho: havia prestado atenção ao que estava sentindo e atendido à necessidade de me aquecer. Tentei escrever. Nada. Ué. Ainda não estava bem. Meus cabelos estavam molhados, e de nada adiantaria ter a bunda quente se o pescoço continuasse tremelicando de frio.

Então vasculhei o armário em busca do meu cachecol mais macio. Aquele que me envolve com calor e delicadeza. Um abraço azul.

Lembrei de Cazuza. “Eu quero a sorte de um amor tranquilo”, ele cantava. E pensei que talvez nem tudo seja sobre sorte. Algumas coisas podem ser escolhas. Especialmente se nos conhecermos o suficiente para identificar o que pode nos agradar a cada momento.

A música Todo o amor que houver nessa vida é um pedido visceral por um amor inteiro, ainda que complexo. Intenso e pacífico. Doce como fruta mordida. Real como saliva que mata a sede. Cazuza não queria só paixão. Queria abrigo. Queria ser rede que embala. Queria ser sustento. Ser pão, ser veneno anti-monotonia. Queria viver a poesia que a gente não vive. Transformar o tédio em melodia.

Foi quando me vi aqui, transformando um cachecol em colo. Um cobertor em refúgio. Escolhendo, dentro do que é possível hoje, o cuidado como forma de amar. A mim mesma.

A gente corre tanto atrás de amores arrebatadores. De vivências extraordinárias. Mas às vezes o mais revolucionário é preparar um chá quente. Se cobrir de afeto. Escolher o conforto ordinário com a mesma intensidade com que desejamos ser escolhidos.

Hoje minha alma canta Cazuza. Mas quem escreve sou eu. E escrevo assim:

Eu quero o conforto de um cachecol macio. (E, se possível, um cobertor que me aqueça gentilmente – da alma até a bunda).

Minha alma canta:

Todo o Amor Que Houver Nessa Vida

(de Cazuza)

Eu quero a sorte de um amor tranquilo

Com sabor de fruta mordida

Nós na batida, no embalo da rede

Matando a sede na saliva 

Ser teu pão, ser tua comida

Todo o amor que houver nesta vida

E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio

Pelo inferno e céu de todo dia

Pra poesia que a gente não vive

Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão, ser tua comida

Todo amor que houver nesta vida

E algum veneno anti-monotonia

E se eu achar a tua fonte escondida

Te alcanço em cheio, o mel e a ferida

E o corpo inteiro como um furacão

Boca, nuca, mão e a tua mente não

Ser teu pão, ser tua comida

Todo amor que houver nesta vida

E algum remédio que me dê alegria

E algum remédio que me dê alegria

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