Roma/Vaticano – Como em tudo na vida, sabemos, o início tem uma importância peculiar. O desgaste da rotina, as crises inevitáveis e os fatos novos que sempre surgem costumam mudar o caminho, mas a rota principal geralmente é estabelecida nos primeiros momentos. O papa Leão XIV tem plena consciência disso e, com aparente serenidade, tem dado os sinais do seu pontificado.
Neste sábado (10), no Vaticano, ele reuniu os cardeais do mundo inteiro que ainda estão em Roma nestes dias seguintes ao término do conclave para uma espécie de primeira reunião formal de trabalho. Aproveitou para estabelecer algumas diretrizes.
Ele deu o tom: quer mesmo tentar chacoalhar a Igreja diante do que entende ser “uma nova revolução industrial”, a partir dos desenvolvimentos da inteligência artificial. Aos cardeais, Leão XIV falou em “novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho”.

Assim como em sua primeira fala ao mundo como papa, Leão XIV voltou a citar, com carinho, na reunião de hoje, o seu antecessor, Francisco. Está claro que o pontífice quer uma transição suave e tocar um trabalho de continuidade, marcado sempre pela gratidão ao legado do primeiro papa latino-americano da história da Igreja.
Depois do encontro com os cardeais, o papa fez uma visita surpresa a uma igreja, nos arredores de Roma, que é local de culto de tradição agostiniana, ordem religiosa da qual foi chefe. Às centenas de fiéis que ali estavam, ele evocou o espírito de entusiasmo com o qual, defendeu, se deve seguir Jesus. Leão XIV, com esse gesto, mostra que é homem “de raízes” e vai levar consigo na Santa Sé sua espiritualidade agostiniana.
A expectativa agora, aqui em Roma, é para este domingo, amanhã, quando são esperadas pelo menos 150 mil pessoas na Praça de São Pedro, às 12h (5h em Brasília), para a primeira oração Regina Caeli a ser meditada pelo novo papa. A província de Roma anunciou que vai espalhar telões pela cidade, para transmitir a oração.
O papa Leão XIV, presume-se, vai estar, sim, próximo do povo em seu pontificado, respeitando, porém, seu perfil discreto e sem perder de vista a atenção com as questões administrativas da Igreja. Apresentar-se-á (desculpem, deve ser o latim na cabeça neste dias) como “cidadão do mundo”, poliglota, de olho nas crises humanitárias internacionais, mas não deixará que isso ofusque o zelo pela doutrina.
Em falas oficiais, Leão XIV vai evitar improviso. No cotidiano, arrisco que morará no Palácio Apostólico, recorrerá às vestimentas tradicionais, mas fará de tudo para externar simplicidade em gestos e palavras públicas. Tomará cuidado para que não colem nele qualquer pecha ideológica (ainda que nunca seja suficiente). E, ao que tudo indica, fará mudanças rápidas. O novo pontificado será inaugurado para valer com uma missa no próximo dia 18, mas já começou.