A solidão e o isolamento social têm se tornado questões centrais quando se fala em envelhecimento com qualidade de vida. Mais do que uma sensação subjetiva, o afastamento social pode ser comparado, em termos de risco à saúde, ao tabagismo ou à obesidade. Estudos mostram que a falta de convívio humano está associada a um aumento significativo de internações, queda da imunidade, declínio cognitivo e até maior risco de morte.
“A solidão é hoje uma das maiores ameaças à saúde do idoso. Ela fragiliza não só o emocional, mas também o corpo, afetando o coração, o cérebro e a musculatura”, afirma a geriatra Dra. Theodora Karnakis, do Hospital Sírio-Libanês.
Isolamento pode acelerar demência e levar à perda de autonomia
Segundo a especialista, a ausência de vínculos sociais tem sido associada a quadros de depressão, ansiedade, demência e até doenças cardiovasculares. “A exclusão social leva muitos idosos a acreditarem que já não têm valor, o que compromete sua autoestima e sentido de propósito”, explica.
A consequência disso vai além do emocional: a perda de estímulos físicos e mentais pode gerar fraqueza muscular, aumento de quedas e fraturas, além de alimentação deficiente e negligência pessoal. Em alguns casos, o isolamento também favorece situações de abuso, exploração financeira e uso excessivo de telas, como forma precária de companhia.
Família e sociedade: a dupla que pode transformar esse cenário
Para Dra. Theodora, o combate à solidão na terceira idade exige um esforço conjunto entre família, profissionais da saúde e políticas públicas. “A convivência familiar ativa, com escuta e valorização do idoso, é fundamental. Mas a sociedade também precisa garantir espaços e oportunidades para que ele continue se sentindo útil e incluído”, afirma.
Estudos recentes mostram que a participação em atividades físicas, cognitivas e sociais em grupo melhora significativamente a saúde mental, o humor e o estado geral dos idosos. Grupos comunitários, centros de convivência e eventos culturais são exemplos de ações que podem fazer a diferença.
A geriatra reforça também a importância de campanhas contra o idadismo, além de melhorias na mobilidade urbana e no acesso a cuidados de saúde e suporte psicológico.

Envelhecer com dignidade é possível — e responsabilidade de todos
“O envelhecimento não pode ser sinônimo de exclusão. Precisamos de empatia, presença e políticas que incluam os idosos como protagonistas”, conclui Dra. Theodora.
Num país que envelhece rapidamente, combater o isolamento social é tão importante quanto tratar doenças crônicas. E a mudança começa com atitudes simples: ouvir, incluir e respeitar.