Você conhece a história da música “Bim Bom”, composta por João Gilberto em meados dos anos 50 e que tornou-se a precursora do que depois chamamos de Bossa Nova?
Pois hoje, vamos contar essa história para vocês, em homenagem ao dia do aniversário do “Pai da Bossa Nova”! João Gilberto completaria 94 anos neste 10 de junho.
Entre os anos de 1955 e 1956, durante seus intensos estudos de violão, o cantor, compositor e violonista João Gilberto – baiano de Juazeiro – percebeu que, se cantasse mais baixo e sem vibrato – diferente dos famosos cantores do rádio e de samba-canção que faziam sucesso na época – poderia adiantar ou atrasar o canto em relação ao ritmo, desde que a batida do violão fosse constante, criando assim seu próprio tempo.
Foi assim que compôs a canção “Bim Bom”, com apenas pouco mais de um minuto de duração, confiante de que havia encontrado a batida que queria.
Em 1957, com 26 anos, o baiano mudou-se para o Rio de Janeiro, para mostrar sua nova técnica aos músicos de lá e, quem sabe, conseguir gravá-la: com uma batida que alternava as harmonias com a introdução de acordes dissonantes, não convencionais, e uma inovadora sincopação do samba – a partir de uma divisão única, inspirada no jazz norte-americano – João Gilberto estava prestes a revolucionar e alterar, de forma irreversível, o DNA da música popular brasileira para sempre.
Foi quando João apresentou a sua música “Bim Bom” ao compositor, músico, arranjador, diretor e produtor musical Roberto Menescal, que o levou para participar dos encontros que ele e alguns outros jovens músicos de classe média do Rio de Janeiro – como Ronaldo Bôscoli, Nara Leão, Sérgio Ricardo e Carlos Lyra – faziam em apartamentos da zona sul carioca, entre eles, o apartamento de Nara, em Copacabana.
Todos esses músicos e uma geração de artistas, arranjadores e instrumentistas acabaram muito influenciados pela técnica de João Gilberto e iniciaram o movimento da Bossa Nova que, depois, expandiu-se para as universidades e para os bares cariocas, conquistando o Brasil inteiro e o mundo.
Com uma batida que alternava as harmonias com a introdução de acordes dissonantes, não convencionais, e uma inovadora sincopação do samba, a partir de uma divisão única, inspirada no jazz norte-americano, João Gilberto começou a moldar o que viria a ser a Bossa Nova a partir de “Bim Bom”.
Nesta época, o cantor, compositor e pianista carioca Johnny Alf se apresentava em diversas boates do Rio de Janeiro – como o famoso Beco das Garrafas e o Little Club – ousando misturar em seu processo criativo referências da música clássica e popular, estrangeira e nacional.
A fonte de sua inspiração se encontrava na música de Chopin, Debussy, Nat King Cole, Stan Kenton, e nos notáveis brasileiros Custódio Mesquita e Francisco Alves. Sua música atraiu os ouvidos ditos mais intelectualizados para os piano bars do bairro de Copacabana.
Entre esses fiéis frequentadores, estavam exatamente João Gilberto – recém chegado ao Rio – e o então jovem pianista, compositor, arranjador e cantor carioca Antônio Carlos Jobim. Os dois ficaram surpresos com músicas como “Rapaz de Bem”, uma das primeiras composições profissionais de Alf, que – com a melodia linear, o jeito suave de cantar, uma série de escalas pouco convencionais e uma dissociação rítmica de bateria e baixo – foi – somada à “Bim Bom” – a canção precursora da Bossa Nova, inspirando os aqueles dois jovens músicos que seriam os futuros representantes do movimento.
Gravações da música “Bim Bom”
João Gilberto incluiu “Bim Bom” no repertório do seu primeiro disco – “Chega de Saudade”, de 1959 – cuja canção título deu início oficial ao movimento e ao gênero da Bossa Nova, como nós já contamos neste artigo especial sobre essa música tão importante.
Em 1962, já com três álbuns gravados, os discos de João Gilberto chegaram aos EUA e os artistas do jazz ficaram impactados com a sua forma de fazer música, considerando-o um fenômeno. João começou então a fazer apresentações no exterior, sendo muito aclamado pelo público, pela crítica e pelos músicos internacionais.
Foi quando o saxofonista de jazz norte-americano Stan Getz gravou “Bim Bom” em seu álbum “Big Band Bossa Nova”, ainda em 1962. Neste mesmo ano, fez uma apresentação histórica, ao lado de Tom Jobim, Sérgio Mendes e outros artistas brasileiros, no Carnegie Hall, em Nova York.
Em 1963, João e sua então esposa, a cantora Astrud Gilberto, passaram a viver em Nova York e a difundir cada vez mais a música brasileira mundo afora.
Stan Getz e João Gilberto gravaram um disco juntos dois anos depois, em 1964, chamado “Getz/Gilberto”. O aclamado disco ganhou quatro Grammy Awards:
- Melhor Álbum do Ano
- Melhor Gravação do Ano (Astrud Gilberto e Stan Getz, em The Girl From Ipanema)
- Melhor Solista de Jazz (Getz)
- Melhor Engenheiro de Som (Phil Ramone)
Em seguida, foi a vez de Astrud incluir a música em um álbum seu: “Bim Bom” entrou para o disco “Look to the Rainbow”, lançado por Astrud Gilberto nos EUA, em 1966.
Depois, vários outros grandes nomes da MPB – de gerações diversas – gravaram a canção, como:
- Sérgio Mendes (1967)
- Caetano Veloso (1986)
- Adriana Calcanhotto (2009)
- Bebel Gilberto(2009)
- Wanda Sá e João Donato (2014)
- Céu (2021)