A segunda-feira começa com um lamento profundo. Lô Borges, um dos pilares da música brasileira, cuja obra marcou gerações e abriu caminhos, morreu nesta manhã, em Belo Horizonte (MG). O artista estava internado desde o dia 17 de outubro. Nascido Salomão Borges Filho em Belo Horizonte, 1952, ele despontou como compositor, violonista, cantor e guitarra versátil, entrelaçando a poesia da MPB com experimentações cosmopolitas de rock, jazz e psicodelia.
Ainda jovem, ele foi um dos fundadores do lendário coletivo Clube da Esquina, ao lado de Milton Nascimento e outros artistas mineiros, no bairro Santa Tereza, em BH. Foi ali, naquela esquina criativa, que ideias nasceram e que uma nova linguagem da música popular brasileira se formou. Em 1972, co-assina o álbum Clube da Esquina, considerado marco e divisor de águas na MPB.

Sua estreia solo veio logo em seguida, com o álbum Lô Borges de 1972, criado em clima de urgência criativa — composições escritas e gravadas em poucas horas. A sonoridade ousada, melódica e híbrida ganhou status cultuado com o tempo.

Entre suas composições mais reverenciadas estão “Paisagem da Janela”, “Para Lennon e McCartney”, “O Trem Azul” — canções que traduzem uma mistura única de brasilidade e contemporaneidade.
Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, Lô mantém-se criativo e inquieto. Mesmo nos anos mais recentes, continuou lançando discos inéditos, explorando parcerias e reafirmando seu lugar como compositor essencial.
Seu estilo singular — fusão de regionalismo mineiro com universos sonoros globais — fez dele referência não só no Brasil, mas internacionalmente, inclusive servindo de inspiração para artistas fora do país.

Mais que melodia ou letra, Lô deixa um legado de coerência artística, curiosidade e amor à música. Nos lembra que criar não é repetir, mas reinventar. Que raízes se conectam ao futuro. E que o Brasil pode soar moderno sem perder sua alma.
Hoje, a música brasileira o homenageia e agradece por cada acorde, cada verso, cada estrada sonora que ele ajudou a abrir.
Descanse em paz, Lô Borges — sua canção seguirá viva.



