Entre bastidores de shows, gravações de estúdio e manchetes de revistas, a música brasileira coleciona romances que dariam ótimos roteiros de série, com direito a reviravolta, hit no topo das paradas e muita emoção fora do script.
Alguns casais formaram duplas criativas lendárias. Outros inspiraram letras de amor (ou de vingança) que grudaram na cabeça de todo mundo. Tem casal que durou décadas, tem casal que virou música antes mesmo de virar namoro. Nesta lista, reunimos 10 pares que provaram que, quando o amor se mete na composição, o resultado costuma ser bem mais do que um refrão chiclete.
Rita Lee e Roberto de Carvalho

Uma das parcerias mais célebres do rock/pop nacional nasceu em 1976, quando Rita Lee ainda estava de saída dos Mutantes e conheceu o jovem guitarrista Roberto de Carvalho.
Juntos há quase cinco décadas, compuseram sucessos como “Mania de Você” e “Erva Venenosa”, isso é inspiração ou o que? Esse amor até estampou a capa de um disco em 1982.
Beto, João e Antônio são os três filhos do casal. Em entrevista, Rita ressaltou a cumplicidade criativa dos dois: o rock dançante de “Amor e Sexo” nasceu justamente das experiências e piadas que o casal trocava na intimidade. Sim, o amor deles virou canção.
Dalva de Oliveira e Herivelto Martins

No início do século 20, o samba-canção dominava as rádios e o amor de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins era tão famoso quanto. Casaram-se em 1936 e lideraram juntos o famoso Trio de Ouro que embalou multidões no Rio de Janeiro.
Dalva, com sua voz poderosa, e Herivelto, compositor de mão cheia, viveram 13 anos de paixão intensa, brigas públicas e até acusações mútuas que viraram canções e manchetes.
O drama inspirou versos como “nosso amor foi aflito… mas nos embalos da canção” e ficou eternizado na minissérie Dalva e Herivelto, Uma Canção de Amor.
Mesmo após a separação, Dalva carregou consigo a imortalidade de “Ave Maria no Morro”, enquanto Herivelto respondeu com sambas-canções ainda mais pungentes e recheados de dor, como “Segredo”, “Cabelos Brancos” e “Errei, Sim”.
Chico Buarque e Marieta Severo

Chico Buarque, um dos maiores compositores brasileiros, dividiu a vida com a atriz Marieta Severo por mais de 30 anos – um “casamento da minha vida”, como ela definiu. Unidos em 1966/67 e pais de três filhas (Helena, Luiza e Silvia), eles construíram em comum casa de teatro, musicais e serenatas, mesmo após se separarem em 1999.
Chico confidenciou que muito do tom confessional de suas composições vem dessa convivência familiar rica em cultura. A bossa íntima de “Casar com quem se ama” traduz o sentimento do cantor na época: “Quero o tempo todo ser feliz e estar ao seu lado”.
Embora não componham juntos canções, a vida a dois de Chico e Marieta ficou para sempre registrada:
“A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal, adeus”
Caetano Veloso e Paula Lavigne

A história de amor entre Caetano Veloso e Paula Lavigne começa cedo e rendeu à MPB versos memoráveis. Ele, já estrela do tropicalismo; ela, ainda adolescente: conheceram-se quando Paula tinha 13 anos em uma peça de teatro. Casaram-se e tiveram dois filhos, Zeca e Tom Veloso.
Entre 2004 a 2016 ficaram separados. Paula foi musa inspiradora de várias letras de Caetano: ele dedicou a ela “Branquinha” (do álbum Estrangeiro, 1989), chegou a compor “Odeio” e “Não Me Arrependo” durante o período conturbado de afastamento.
Na canção “Branquinha”, Caetano diz “você é quem me entende/ melhor do que ninguém”. Em 2025, na véspera do aniversário dela, Caetano publicou uma mensagem elencando qualidades de Paula.
Gilberto Gil e Flora Gil

No palco tropicalista dos anos 80, o cantor Gilberto Gil encontrou o seu par em Flora Gil. Ela, cantora e empresária baiana de espírito livre, conheceu Gil em 1981, aos 18 anos. Logo se apaixonaram, casaram-se e tiveram três filhos (Bela, Bem e José Gil).
Musicalmente, Gil imortalizou Flora em canções que misturam amor e jogo de cintura. Na contagiante “Toda Menina Baiana” (de Realce, 1979), por exemplo.
Astrud Gilberto e João Gilberto

No coração da bossa nova, viveu um dos casais mais famosos do mundo da música: Astrud Gilberto e João Gilberto. Casaram-se em 1959, na efervescência da nova onda, e juntos levaram nossa música pelo mundo.
Astrud (já casada com outro músico, mas símbolo da nova geração) uniu-se a João e teve seu único filho, João Marcelo. O ponto alto veio em 1964, com o álbum Getz/Gilberto, que trazia a memorável gravação de “The Girl From Ipanema”.
Astrud, então com 22 anos, deu voz à versão em inglês de “Garota de Ipanema” de Tom Jobim, assegurando o prêmio Grammy para a faixa em 1965.
O casal se separou em 1965, mas o legado ficou: ela partiu para carreira solo e ele para outras influências, mas aquela breve união rendeu à bossa nova seu maior hit global. Astrud ganhou o mundo com aquele refrão e João permaneceu um dos grandes compositores brasileiros.
Mallu Magalhães e Marcelo Camelo

Em tempos mais recentes, um casal indie da cena carioca tornou-se referência romântica na MPB. Marcelo Camelo, ex–Los Hermanos, e Mallu Magalhães, cantora jovem e brilhante, começaram a namorar em 2005, quando Mallu tinha 18 anos e Marcelo 33.
A primeira composição conjunta veio com “Janta”, do disco solo de Marcelo, mas foi com o projeto Banda do Mar (ao lado do baterista Fred Ferreira) que o casal se consolidou.
Vivendo atualmente em Portugal, eles continuam criando juntos: Mallu já dedicou a ele canções como “Velha e Louca” (sobre amadurecimento) e Marcelo compôs faixas que falam da cumplicidade entre eles. Em entrevistas, Mallu destaca o apoio mútuo: a admiração de Marcelo por sua voz e a inspiração de Mallu na poesia das melodias dele.
O amor virou arte em seu dueto acústico, mostrando que, para esse casal, “só mais ninguém” no mundo importa além do som que fazem juntos.
Fernanda Takai e John Ulhoa

Na cena roqueira de Brasília, Fernanda Takai (voz do Pato Fu) e John Ulhoa (guitarrista e vocalista) formam um par inseparável. Namoraram pouco tempo após a fundação da banda em 1992, casaram-se em 1995 e tiveram sua primeira filha, Nina, em 2003.
Sua história virou até música da banda. Em “Sobre o Tempo”, a letra diz “Você voltou / Eu sorri”, capturando o reencontro cotidiano de quem divide estúdio e lar. Fernanda costuma dizer que John é seu “parceiro de banda e de vida” e que as letras do Pato Fu refletem muito do cotidiano amável do casal.
Joelma e Chimbinha

No norte do país surgiu um fenômeno do tecnobrega: Joelma e Chimbinha, foram o casal à frente da Banda Calypso desde o fim dos anos 90. Joelma procurou Chimbinha em 1999 para produzir seu primeiro disco solo, mas encontrou mais: um grande amor e dupla imbatível.
Em 2000 nasceu a Banda Calypso, que se tornaria um dos maiores sucessos do Brasil, vendendo milhões de CDs em estilo eletrônico dançante, inspirado na lambada e brega regional. Ficaram casados por 15 anos e tiveram três filhos: Yasmim, Yago e Nathália.
A parceria musical rende hits como “A Lua Me Traiu” e “Coração Perdido”, cujo refrão fala de amor e decepção (“Coração, que foi se machucar…”), muitas vezes interpretada como direcionada ao próprio romance turbulento deles.
Após o conturbado fim do casamento e da Banda Calypso em 2015, Joelma deu início a uma nova fase na carreira. Em abril de 2016, lançou seu primeiro álbum solo, intitulado Joelma, e embarcou na turnê Avante, que circulou o país até 2018 e consolidou seu estilo como artista independente, com hits como “Ai Coração” e “Assunto Delicado” — ambas lidas como desabafos pós-divórcio.
Já Chimbinha formou o projeto XCalypso, mas enfrentou críticas e queda de popularidade. Em entrevistas, ambos comentaram o desgaste emocional da separação, mas Joelma escolheu adotar uma postura mais combativa e empoderada, um símbolo de superação.
Quando o amor vira refrão e DR
Teve casal que fez sucesso junto no estúdio e no altar, teve quem trocou juras em vinil e farpas em entrevista. Mas o que todos eles têm em comum é o fato de terem transformado sentimentos íntimos em canções que foram trilha sonora de muitos outros romances ou dor de cotovelo.
No fim das contas, esses casais mostraram que amar pode até ser difícil, mas vira disco de platina e, com sorte, ganha até Grammy. Porque no Brasil, coração partido também dá samba. E às vezes hit.