Isso aqui tá bom demais, Dominguinhos!

por Lívia Nolla
Dominguinhos | Foto: Daryan Dornelles

Se não tivesse nos deixado em 2013, aos 71 anos – após sofrer complicações infecciosas e cardíacas por conta do tratamento de um câncer de pulmão que já durava seis anos – Dominguinhos, nosso grande mestre da sanfona e um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos, completaria 83 anos neste 12 de fevereiro.

E hoje, nós vamos relembrar um pouco da história deste grande artista!

 

Dominguinhos — Foto: Divulgação / Prêmio da Música Brasileira
Dominguinhos — Foto: Divulgação / Prêmio da Música Brasileira

O início de tudo

O cantor, compositor e instrumentista nasceu em Garanhuns, agreste pernambucano, em 1941, com o nome de José Domingos de Morais, em uma família com 16 irmãos.

Seu pai, Mestre Chicão, era sanfoneiro e afinador de sanfonas, e lhe deu sua primeira sanfona de oito baixos – aos seis anos de idade – com a qual começou a tocar ao lado de dois de seus irmãos em portas de hotéis e feiras livres de sua cidade. O nome do trio era Os Três Pinguins. Nesta época, Dominguinhos ainda usava o nome artístico de Neném do Acordeon.

Um dia, Luiz Gonzaga – já muito famoso – se hospedou em um hotel em que o menino (então com oito anos) se apresentava, e ficou encantado com o seu talento na sanfona, convidando-o para o acompanhar no Rio de Janeiro.

Seis anos depois, por conta das dificuldades financeiras que passavam em Garanhuns, o pai foi morar com Dominguinhos na cidade maravilhosa para procurar Gonzagão.

Logo no primeiro encontro no Rio de Janeiro, Luiz Gonzaga presenteou o menino com uma sanfona de oitenta baixos. A partir de então, Dominguinhos passou a frequentar a casa do Rei do Baião e a acompanhá-lo em shows, ensaios e gravações.

Foi o próprio Gonzagão que sugeriu que ele mudasse o nome de Neném do Acordeon para Dominguinhos, em 1957, em homenagem a Domingos Ambrósio, sanfoneiro mineiro que havia sido mestre de Luiz Gonzaga.

Dominguinhos e Luiz Gonzaga em gravação do Som Brasil (Foto CEDOC TV Globo)

A parceria com Gonzagão e com Anastácia

Em 1957, aos 16 anos, Dominguinhos participou de sua primeira gravação, tocando sanfona no disco O Reino do Baião, de Luiz Gonzaga, na música Moça de Feira, uma composição de Armando Nunes e J.Portela.

Dominguinhos passou então a participar de programas de rádio e se apresentar em casas noturnas no Rio de Janeiro, e também a integrar a primeira formação do grupo de forró Trio Nordestino, até gravar o seu primeiro LP solo, em 1964, chamado Fim de Festa, que já contava com duas composições suas: Frevo Cantagalo e Garanhuns.

Em 1967, Dominguinhos – viajando pelo nordeste acompanhando Luiz Gonzaga e  dividindo as funções de sanfoneiro e motorista – conheceu a cantora e compositora pernambucana, Anastácia – também conhecida como a Rainha do Forró  que tornou-se sua parceira na música e na vida por 11 anos.

Juntos, eles compuseram mais de 200 canções, inclusive muitos dos sucessos que alavancaram a carreira do sanfoneiro, como Eu Só Quero Um Xodó, Sanfona Sentida e Tenho Sede.

Um dos principais forrós da nossa história, Eu Só Quero Um Xodó explodiu quando lançada na voz de Gilberto Gil, em 1973, e depois foi regravada por outros grandes nomes como Paula Toller, Daniela Mercury, Elba Ramalho, Marinês, Caetano Veloso e Ivete Sangalo.

Sanfona Sentida, foi lançada no álbum Tudo Azul, de Dominguinhos, em 1973. A canção compara o choro pela dor de um amor, com o barulho de choro que faz a sanfona,  e – em 1976, foi regravada por Luiz Gonzaga.

E Tenho Sede, foi lançada em 1975, no LP Tá Bom Demais, de Dominguinhos. No mesmo ano, Gilberto Gil e Golden Boys regravaram a canção, que depois ganhou versões nas vozes de Emílio Santiago, Verônica Sabino, Johnny Alf, Elba Ramalho e Roberta Sá.

Anastácia e Dominguinhos foram parceiros na música e na vida | Foto: Divulgação.

Outras parcerias de sucesso

Quando tocava em um show de Luiz Gonzaga, em 1972, Dominguinhos foi observado pelo empresário Guilherme Araújo, que o convidou para trabalhar com Gal Costa e Gilberto Gil.

Depois disso, ao longo de sua carreira brilhante, além de seus mais de 50 discos próprios, Dominguinhos acompanhou muitos outros nomes da música popular brasileira como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Nara Leão e Chico Buarque, que foram parceiros ou gravaram vários dos grandes sucessos do sanfoneiro.

Com Gilberto Gil, Dominguinhos compôs uma das mais lindas canções da história da música popular brasileira: Lamento Sertanejo. Lançada em 1973, também no álbum Tudo Azul, a música fala com propriedade e potência sobre o povo nordestino.

Foi regravada por Alcione, Djavan, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Maria Gadú, Maria Rita, entre outros grandes nomes da MPB.

Também com Gil, o sanfoneiro compôs Abri a Porta , otimista canção que nos convence que – com amor – “O bom da vida vai prosseguir”. Ela foi lançada no disco Frutificar, da banda A Cor do Som, em 1977, e depois foi regravada por nomes como o Trio Nordestino e o grupo Rastapé.

Dominguinhos e Gilberto Gil (Foto: André Brandão/ Divulgação)
Dominguinhos e Gilberto Gil (Foto: André Brandão/ Divulgação)

Mais e mais canções consagradas

Outro parceiro constante de Dominguinhos foi o cantor, compositor e instrumentista pernambucano Nando Cordel.

Com ele, o sanfoneiro lançou outros imensos sucessos, como De Volta Pro Aconchego, Isso Aqui Tá Bom Demais, Gostoso Demais e Vem Ficar Comigo.

De Volta Pro Aconchego foi lançada por Elba Ramalho, no disco Fogo na Mistura, de 1985, e entrou para a trilha da novela Roque Santeiro no mesmo ano. Esse grande clássico cheio de romantismo e saudade, nos traz a sensação de pertencimento e mostra a importância dos laços fortes.

Foi gravado por muitos outros nomes dos grandes nomes da nossa MPB, como: Nana Caymmi, Maria Bethânia, Geraldo Azevedo, Cauby Peixoto e Jair Rodrigues.

Isso Aqui Tá Bom Demais também foi lançada em 1985, em um dueto de Chico Buarque e Dominguinhos, que entrou para a trilha sonora da novela Roque Santeiro, e também para o disco Isso Aqui Tá Bom Demais, de Gonzaguinha. Depois, foi regravada por nomes consagrados como Moraes Moreira, Gilberto Gil, Teresa Cristina e Lucy Alves.

Gostoso Demais foi lançada em 1986, no disco Dezembros, de Maria Bethânia. Depois foi regravada com sucesso por Elba Ramalho e Lucy Alves.

Vem Ficar Comigo, declaração de amor das mais lindas, também foi por Elba Ramalho com imenso sucesso, em seu disco Elba, de 1987.

Em 1991, outra música de Dominguinhos estourou na Brasil inteiro, dessa vez em parceria com Fausto Nilo: Pedras Que Cantam foi lançada por Raimundo Fagner, e fala sobre desigualdade e injustiça social e sobre como as pessoas lidam com suas realidades. Foi regravada por Elba Ramalho, Rastapé, Zé Ramalho, Moraes Moreira e Gilberto Gil.

Em 2002, Dominguinhos foi vencedor do Grammy Latino de Melhor Álbum de Raiz Brasileiro, com o disco Chegando de Mansinho. Em 2012, venceu na mesma categoria, com o CD e DVD Iluminado.

Seu legado para a música popular brasileira é imensurável, Dominguinhos!

 

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