Aliado de Raquel Lyra lança evangélica bolsonarista para atrapalhar Campos no Recife

RECIFE, PERNAMBUCO (FOLHAPRESS) – Principal aliado da governadora Raquel Lyra (PSDB), o PP articula de última hora o lançamento de candidatura própria à Prefeitura do Recife.

A ideia do partido é tentar forçar que a eleição tenha segundo turno, o que contraria interesses do prefeito João Campos (PSB), que visa à vitória na primeira etapa da disputa. Campos marcou 75% das intenções de voto em pesquisa Datafolha realizada na semana passada e ainda sem o nome do PP na lista.

Esse nome é o da vereadora licenciada Michele Collins, que assumiu o mandato de deputada federal na quarta-feira (3) em Brasília durante a licença da titular do mandato. Michele é evangélica e apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Ela é vereadora com três mandatos, tem um segmento muito grande que precisa ser representado no pleito, que é o público evangélico, com a pauta da família e os princípios cristãos”, afirma o deputado federal Eduardo da Fonte, presidente do PP em Pernambuco.

Na semana passada, Michele teve um entrave para conseguir se licenciar da Câmara Municipal do Recife.

Inicialmente, o parecer da Procuradoria da Casa foi contrário ao afastamento. A alegação era que não havia previsão na Lei Orgânica do município para licença de um vereador com o objetivo de assumir como deputado federal.

O PP fez críticas, nos bastidores, à cúpula da Câmara do Recife, comandada pelo vereador Romerinho Jatobá (PSB), aliado de primeira hora de João Campos. Em nota, Romerinho negou interferência no caso. “Não houve, como nunca há, qualquer intervenção do presidente da Câmara no parecer jurídico ofertado.”

O impasse foi resolvido nesta semana, quando o afastamento acabou liberado pela Câmara Municipal.

De acordo com Romerinho, o segundo pedido foi concedido “porque foi uma licença para trato de interesse pessoal, sem remuneração, desvinculado de qualquer outra finalidade específica, na qual a gente não tem qualquer poder de veto”.

Em Brasília, Michele assumiu o mandato de deputada federal por 120 dias na vaga da também bolsonarista Clarissa Tércio (PP), que vai disputar as eleições de Jaboatão dos Guararapes, município com a segunda maior população de Pernambuco.

O mandato de deputada será usado pelo PP como vitrine para ampliar o grau de conhecimento de Michele. Na campanha eleitoral, se confirmada a candidatura, a parlamentar quer dar ênfase aos princípios cristãos e ao conservadorismo, sem necessariamente defender Bolsonaro, de acordo com aliados próximos.

O lançamento de uma candidatura própria do PP agrada Raquel Lyra. Os opositores reconhecem, nos bastidores, o favoritismo de Campos, porém, afirmam que, se o pleito for para o segundo turno, será uma derrota política para o prefeito, ainda que ele seja reeleito.

Nesse caso, a oposição ganharia um argumento para contestar a musculatura política de Campos, que pode ser candidato a governador em 2026 contra Raquel.

O governo estadual acredita que Michele possa tirar votos de Campos do segmento evangélico no Recife. A parlamentar tem boa relação com pastores, que podem contribuir para a ampliação dos votos nas comunidades.

Nas eleições de 2020, Michele fazia parte da base aliada do PSB, partido de João Campos, e fez discursos na Câmara e nas redes sociais contra Marília Arraes, recém-aliada do prefeito e que à época era do PT e foi derrotada no segundo turno.

Além de Michele, também são pré-candidatos a prefeito do Recife pela oposição de direita o ex-deputado federal Daniel Coelho (PSD), apoiado oficialmente pela governadora Raquel, Gilson Machado Neto (PL), ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro e que tem o ex-presidente como seu cabo eleitoral, e Tecio Teles (Novo).

Na esquerda, o principal nome de oposição a Campos é o da deputada estadual Dani Portela (PSOL), ex-líder da oposição a Raquel na Assembleia Legislativa.

O prefeito entrou no mês de julho com apenas um impasse a resolver na sua campanha: o nome para a sua vaga de vice. Pela vontade de Campos, será Victor Marques, seu ex-chefe de gabinete e amigo, recém-filiado ao PC do B.

Campos quer um vice da sua confiança diante da possibilidade de disputar o governo estadual em 2026. Nessa hipótese, entregaria de prefeito o cargo a um aliado.

PT e PSB têm um histórico de rompimentos e reencontros na política de Pernambuco, o que faz da relação uma desconfiança mútua.

O PT insiste em fazer a indicação para a vice. O partido indicou Mozart Sales, assessor do Ministério das Relações Institucionais e nome próximo do ministro da pasta, Alexandre Padilha.

A expectativa é que a definição saia após uma conversa, ainda sem data, entre o presidente Lula (PT) e Campos. Nos bastidores, lideranças do PT admitem a dificuldade em obter a indicação, mas mantêm as esperanças.

JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress

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