O sargento da Polícia Militar, Samir do Nascimento Rodrigues de Carvalho, que matou a própria mulher com três tiros e 51 facadas, dentro de uma clínica médica, na cidade de Santos, litoral paulista, teria premeditado o crime, aponta a tese do promotor do Ministério Público do Estado de São Paulo.
O crime em questão aconteceu no dia 7 de maio, na Avenida Senador Pinheiro Machado, no bairro Marapé. Segundo registros da Polícia Civil, o homem compareceu ao local assim que soube da presença da mulher e da filha. Inicialmente, o casal teria discutido verbalmente, e o médico teria os separado, pedindo para que o PM se retirasse do estabelecimento. No entanto, posteriormente, o sargento conseguiu entrar no local e cometer o feminicídio com a presença de agentes da Polícia Militar. Foi instaurado um inquérito policial para apurar rigorosamente a conduta dos agentes acionados para atender a ocorrência, segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública).
O MP denunciou o acusado por feminicídio na última sexta-feira (23). De acordo com a tese do promotor Fabio Fernandez, o denunciado premeditou o crime, motivado por desentendimentos na relação amorosa. Segundo o apurado, o homem apresentava comportamento frio, grosseiro e violento, chegando a ameaçar e agredir fisicamente a mulher em outras ocasiões.
Fernandez busca a condenação do criminoso com as qualificadoras de meio cruel, perigo comum, dissimulação, recurso que impossibilitou a defesa e emprego de arma de fogo de uso restrito, além dos agravantes de crimes praticados contra mãe, na presença de descendente da vítima e contra sua própria descendente, menor de 14 anos.
Reconstituição do crime
O sargento foi recebido com muitos protestos no local da reconstituição do crime, que aconteceu no último dia 22. Ele teria alegado durante o procedimento que não se lembrava de nada.
Samir foi recebido com gritos e cartazes em protesto ao feminicídio. Em um vídeo obtido pelo Portal TH+, é possível ouvir a população o chamando de ‘assassino’, enquanto o mesmo aguardava no banco de trás de uma viatura da PM.
A reconstituição teve início por volta de 10h. Segundo o advogado da família, Dr Claudino Vicente dos Santos, em entrevista para a TH+ Band, diante dos relatos durante o procedimento, não restam dúvidas de que os agentes presentes na data dos fatos estavam a um passo ou dois da cena do crime. “Houve vários tiros, várias facadas, e nada foi feito”, comenta.
A Polícia Civil realizou o procedimento, inicialmente, apenas com a assistente e o médico da clínica onde a vítima foi morta, enquanto o autor aguardava do lado de fora do local, “para a preservação da verdade”, explicou o advogado.
De acordo com o advogado, na vez de Samir participar da reconstituição, o mesmo alegou não se lembrar de nada. A perícia finalizou seus trabalhos por volta de 15h30.
Filha já havia sido chutada
A criança, que também foi alvejada por Samir do Nascimento Rodrigues de Carvalho na data do crime, recebeu alta hospitalar mas não participou da reconstituição do crime, que aconteceu nesta semana.
A criança só soube da morte da mãe dois dias depois, e fez relatos sobre tudo que presenciou. “Vovó, o papai tentou me matar”, falou a menina, segundo a avó. Ela viu a mãe ser apunhalada, socada e baleada pelo próprio pai, que também a atingiu com três disparos. A também vítima do ocorrido não participou da reconstituição do crime, que aconteceu na última quinta-feira (22).
Para a avó, dois dias antes dos fatos, a criança havia contado que certa vez, o pai a chutou e a estapeou no rosto, após implicar com seu achocolatado. Ele teria partido para as agressões pois jogou a bebida na pia, mas a menina havia tentado fazer outro.
Familiares e amigos de Amanda Fernandes Carvalho, afirmam que os filhos não gostavam do pai e tinham medo dele. A menina era a que mais o enfrentava.
Laudo do IML
O laudo do IML (Instituto Médico Legal) concluiu que o sargento da Polícia Militar, Samir do Nascimento Rodrigues de Carvalho, matou a própria mulher com 51 facadas e três tiros.
A maioria das facadas proferidas em Amanda Fernandes Carvalho, atingiram o lado direito de seu corpo, desde a coxa até a face, aponta o laudo necroscópico. Outra questão levantada é que os tiros teriam sido disparados à distância.
O médico legista concluiu que a vítima sofreu “morte violenta, decorrente de anemia aguda por hemorragia interna traumática, em consequência dos ferimentos”.
Desde que foi detido, o sargento se encontra inativo temporariamente, sem direito a salário, além do tempo de serviço não ser contabilizado. A filha do casal, que foi atingida por disparos feitos por Samir na data dos fatos, ficou internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), mas na última terça-feira (13) recebeu alta hospitalar.
O crime
A mulher e a criança ficaram trancadas com o médico dentro de uma sala, enquanto a Polícia Militar era acionada. Com a chegada da equipe, o homem, que estava na rua, teria mostrado que não estava armado e entrou novamente com os agentes no estabelecimento.
Quando o médico abriu a porta da sala onde a mulher e a criança estavam, o policial – que estava de folga -, teria pego a arma de fogo novamente que teria ficado escondida em outra sala, e por trás da equipe da PM, disparou contra as vítimas. Na sequência, o homem ainda teria esfaqueado a companheira.
Conduta de agentes é investigada pela SSP
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que foi instaurado um inquérito policial para apurar rigorosamente a conduta dos agentes acionados para atender a ocorrência.
De acordo com a pasta, “na ocasião, os policiais foram acionados via Copom para atender uma ocorrência de desinteligência no local. Quando chegaram as vítimas estavam trancadas em um consultório e o autor, um policial militar de folga, do lado de fora. De acordo com as informações prestadas no boletim de ocorrência, após o policial mostrar que não estava armado, a porta foi aberta. O autor entrou e atirou na mulher e na filha, sendo preso na sequência e encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes.”.
Há, no entanto, a informação de que o homem teria pego a arma de fogo novamente que teria ficado escondida em outra sala, e por trás da equipe, disparou contra as vítimas. Na sequência, o homem ainda teria esfaqueado a companheira. Este detalhe, não foi confirmado pela pasta.



