Na terça-feira (18), o promotor Victor de Freitas denunciou oito homens pelo envolvimento na morte do policial militar, Luca Angerami, encontrado morto no dia 20 de maio, na cidade de Guarujá, litoral paulista. Os acusados podem responder por homicídio com as qualificadoras: integrar organização criminosa, tráfico de drogas, sequestro, roubo e ocultação de cadáver.
Conforme o apurado, os acusados faziam parte da facção criminosa conhecida como PCC e se dedicavam a diversas práticas criminosas, como o comércio de substâncias entorpecentes na região do Jardim Primavera.
Segundo o Ministério Público, em abril deste ano, o policial passava de carro pelo local quando foi abordado por parte dos denunciados. Ao tomarem conhecimento da profissão da vítima, os homens acionaram outros integrantes do grupo criminoso. Em seguida, o PM foi mantido em cárcere e teve celular e arma de fogo subtraídos. Levada a um cemitério clandestino na Vila Baiana, a vítima foi estrangulada com uma corda. O corpo, que foi enterrado no local, só foi encontrado no mês seguinte.
Freitas afirma que os denunciados mataram o policial para assegurar a execução do crime de tráfico de drogas que ocorria na região.
Ao todo, durante as investigações do caso, 9 suspeitos de participação no desaparecimento do soldado foram identificados e presos. Durante as buscas, também foram encontrados 8 cadáveres e outros dois conjuntos de vestígios genéticos.
O corpo de Luca foi encontrado em cima de um morro na região da Vila Baiana. O cadáver estava enrolado em uma lona, e a identificação foi possível por meio das tatuagens do soldado, visto que o corpo não estava em estado avançado de decomposição.
Segundo as investigações na época em que o PM foi encontrado sem vida, o soldado teria sido levado à uma casa abandonada, onde utilizam para o conhecido ‘tribunal do crime’. Quando decidiram a ‘sentença de morte’ de Luca, o jovem foi levado até uma clareira, no morro, onde foi executado e colocado em uma cova.
Durante as buscas da polícia, e a repercussão na imprensa, os criminosos decidiram mudar o corpo de lugar, para dificultar o trabalho dos agentes, e enterraram o PM em um local de mais difícil acesso.
Relembre o caso
No dia 14 de abril, Luca estava com um casal de amigos em uma adega. Em um vídeo do estabelecimento comercial, é possível vê-lo no caixa, por volta de 1h18. O jovem teria saído do local, e dirigido até uma ‘biqueira’, na mesma comunidade, onde permaneceu cerca de 40 minutos dentro do carro, sozinho. Dois homens, então, teriam o rendido.
Por volta de 6h41, em novas imagens, Luca é visto entrando acompanhado de um homem no ponto de tráfico de drogas. Depois deste momento, o PM não foi mais visto.
Quando o desaparecimento do soldado foi registrado, as investigações e buscas iniciaram. No mesmo dia 14, por volta de 19h30, um primeiro suspeito foi preso: Edivaldo Aragão, de 36 anos. O homem estava próximo a um ponto de tráfico de drogas na Rua das Magnólias (Guarujá), e apresentava atitudes suspeitas.
Após a abordagem, o suspeito confessou o sequestro e suposto homicídio de Luca, de forma espontânea. O homem disse não ter agido sozinho. Segundo o relato, o grupo não sabia inicialmente se tratar de um policial militar, mas viram a arma e pegaram sua carteira. Então, entraram no carro da vítima e o levaram até São Vicente, onde teriam o executado com a arma do próprio soldado. Depois disso, teriam amarrado as pernas de Luca com uma pedra, e o jogado de cima da Ponte do Mar Pequeno, em São Vicente.
O suspeito foi autuado em flagrante por sequestro qualificado e roubo majorado na Delegacia de Polícia (DP) Sede de Guarujá. Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), ao ser conduzido à delegacia, no entanto, o homem manifestou o desejo de falar somente em juízo.
Quatro dias depois, no dia 18 de abril, o segundo a ser apreendido foi Carlos Vinícius Santos da Silva, conhecido também como ‘Malvadão’, que acompanhou Luca na ‘biqueira’.
A prisão de Carlos e seu relato levou a polícia à mais quatro envolvidos. Cada um teria tido um papel no desaparecimento: um teria ficado com a arma de Luca; outro teria abandonado o carro; um seria o dono da biqueira; e o último foi quem teria dirigido com o PM até a comunidade.
No dia 22 de abril, o sétimo envolvido teria se entregado espontaneamente na Divisão de Homicídios de Santos. Já o oitavo suspeito foi encontrado e preso por volta das 19h30 do último dia 26, na Avenida São Gonçalo, em Bertioga. A polícia conseguiu identifica-lo e localiza-lo após os relatos dos outros presos. Em seu depoimento, foi citado um local onde o policial teria sido levado, no Guarujá. Após se dirigirem até o endereço citado, a polícia não encontrou indícios do crime.
Ainda sobre essa última prisão, foi constatado que o suspeito tinha um mandado de prisão temporária em aberto. O caso foi registrado na Delegacia de Polícia do Guarujá como captura de procurado.
Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), na tarde do último dia 24, policiais civis da 3° Delegacia de Homicídios do Deinter 6 também localizaram um barraco na Rua Argentina, no Guarujá, onde o soldado teria sido mantido.
No dia 10 de maio, outro suspeito, de 41 anos, foi capturado por policiais militares, em cumprimento a um mandado de prisão temporária expedido pela Justiça.
No dia 20 de maio, mais de um mês depois do desaparecimento, Luca Angerami foi encontrado sem vida.
Corpos encontrados
Dois dias após o desaparecimento do soldado, no dia 16 de abril, a Polícia Militar recebeu uma denúncia de um corpo localizado no conhecido ‘Cemitério Clandestino’ de criminosos da cidade, mas após as buscas e atuação do Corpo de Bombeiros junto à equipe de perícia, a hipótese de ser Luca, foi descartada.
No último dia 22, mais dois corpos foram encontrados. Policiais militares realizavam uma ação conjunta com a Prefeitura de Guarujá, nas buscas pelo soldado desaparecido, quando localizaram duas ossadas sem identificação, na Rua Paraguai, no bairro Vila Baiana. Este local fica a aproximadamente 5 km de distância de onde o PM foi visto pela última vez. Porém, o corpo já estava em estágio de decomposição, tal qual seria impossível ser o de Luca, devido ao número de dias que o crime teria acontecido.
Outros três corpos foram localizados na manhã do dia 24 de abril, também na Rua Paraguai. Os cadáveres já estavam em estado avançado de decomposição. A perícia foi acionada ao local dos fatos, mas nenhum deles é do soldado desaparecido.
No dia 27 de abril, a polícia, com a ajuda de um cão farejador especializado em encontrar cadáveres localizou um ponto onde haveria outro possível corpo. As equipes trabalharam na região, de difícil acesso, mas mesmo após cavarem quase dois metros, não localizaram o corpo. O material do solo foi recolhido para exames complementares.
Já no dia 30 de abril, uma ossada antiga foi achada na Rua Argentina, por volta de 13h. Após a ação realizada em conjunto com as polícias Civil e Militar e do canil do Corpo de Bombeiros, os agentes se depararam com a cova onde estavam os restos mortais. Porém, não há indícios de ser de Luca.
Já no mês de maio, no dia 2, policiais militares ambientais localizaram mais duas ossadas. Os corpos foram localizados na Vila Baiana, na cidade de Guarujá, onde outros cadáveres já foram localizados.
Luca Romano Angerami
Luca era morador de Santos, litoral paulista, mas estava atuando no 3º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) em São Paulo. Ele foi admitido na PM em 16 de dezembro de 2022.
O soldado é quadrigêmeo, e tem outros policiais na família, como é o caso de seu irmão, Luigi Romano Angerami, também policial militar, e seu pai, Renzo Borges Angerami, investigador da Polícia Civil.
Renzo chegou a publicar alguns vídeos nas redes sociais durante as investigações sobre o paradeiro do filho, e em um deles, mandou recado para os criminosos.