Campinas antes e depois do dia 18 de Setembro; celebração e choro no mesmo dia, isso é possível?

Sidney Rocha
Sidney Rocha
Professor de história e geografia, nascido e criado em Campinas e apaixonado pela cidade. Com uma formação acadêmica complementada pela vivência nos diversos estratos sociais que compõem nossa rica região, gosto de contar histórias que encantem e levem à reflexão em busca de um mundo mais saudável para todos os aspectos da experiência humana. Convido você a acreditar que conhecer os fatos do passado faz parte da nossa jornada pela vida, afinal recordar é viver.
Wikipédia
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Foi em uma manhã de 18 de Setembro, no ano de 1932 que os aviões da aviação do Exército sobrevoaram Campinas, sem muitas surpresas, já que não era a primeira vez que se ouvia os roncos dos motores do “vermelhinhos” cruzando os céus de nossa cidade. Getúlio Vargas tomara o poder em 1930 depondo o presidente eleito e prometeu mudar a Constituição da República. A Nova Constituição não veio e diversas decisões do novo governo causaram descontentamento nos paulistas que resolveram lutar contra o governo provisório de Vargas.

Observar aviões, hoje, talvez não exerça sobre nós o mesmo fascínio daqueles tempos, em parte porque já nos acostumamos a ver coisas muito mais espantosas do que um gigante de aço voando sobre as nuvens, muitos de nós já até estivemos dentro deles.

Mas naquele tempo essa grande novidade ainda chamava muito a atenção. No Brasil, uma convulsão social e política que colocava em lados opostos cidadãos brasileiros que amavam a pátria mas pensavam diferente. Se os que seguiam Getúlio Vargas sonhavam com um futuro melhor, assim também precisamos compreender aqueles que lutavam contra e assim, cada um a seu modo, os exércitos se enfrentavam em lados opostos das trincheiras.

Paulistas amotinados contra as forças do governo federal já estavam há meses enfrentando as adversidades dos campos de batalha, mesmo sem recursos de armas e munições. Foi uma luta desesperada, talvez até heroica mesmo. De fato, São Paulo esperava por ajuda de Minas Gerais e Campinas, claro ficava exatamente no entreposto entre estes dois estados, por isso a nossa estação de trens era alvo estratégico dos aviões que, justamente naquele dia resolveram bombardear Campinas.

Às vezes eu me imagino lá, dentro da estação de trens vendo a mãe do jovem Aldo Chiorato tentando segurá-lo pelas roupas enquanto ele corria para fora querendo ver mais de perto os aviões que se precipitavam em rasantes para lançarem mais de perto as suas terríveis bombas sobre os trens.

Aldo Chiorato, de apenas 10 anos de idade correu, sua mãe gritou seu nome, em vão. As bombas do lado de fora explodiram. Quase três dezenas de pessoas foram atingidas. O menino Aldo também. Ele caiu morto.
Fico as vezes pensando o que passou pela cabeça de Albert Santos Dumont quando desceu as escadas da mesma estação de trens em um dia 18 de Setembro no ano de 1903 para andar pelas ruas da cidade e almoçar no palacete Armbrust na rua Barão de Jaguara, esquina com Bernardino de Campos.

Será que ele já imaginava que sua invenção seria usada para castigar tanto assim seus amigos que o acompanharam nos estudos da escola Culto à ciência tantos anos antes?

Naquele festivo 18 de Setembro em que Santos Dumont foi recebido com pompas na cidade, talvez ele estivesse pensando em abençoar o mundo todo com um grande desenvolvimento que ajudasse a levar paz e esperança a todos.

Mesmo enquanto ele usava uma colher de pedreiro para colocar concreto no lançamento da pedra fundamental do monumento túmulo do maior maestro que o Brasil já viu, Antônio Carlos Gomes, é improvável que passasse pela sua cabeça a ideia de que anos mais tarde, em um dia 18 de Setembro, a mesma cidade seria bombardeada pela sua invenção. Será que os pais do Jovem Aldo estavam por perto de sua recepção às portas da estação ferroviária? Quem poderia imaginar o que o futuro reservava para este encontro tão festivo e que marcaria nos anais de nossa história uma data tão funesta a ser lembrada com choro e luto…

Assim é a vida -diriam alguns- e assim é a história, com festa e choro às vezes na mesma data.

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