O surgimento da cidade de Campinas

Sidney Rocha
Sidney Rocha
Professor de história e geografia, nascido e criado em Campinas e apaixonado pela cidade. Com uma formação acadêmica complementada pela vivência nos diversos estratos sociais que compõem nossa rica região, gosto de contar histórias que encantem e levem à reflexão em busca de um mundo mais saudável para todos os aspectos da experiência humana. Convido você a acreditar que conhecer os fatos do passado faz parte da nossa jornada pela vida, afinal recordar é viver.
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Crédito: Firmino Piton/Divulgação Prefeitura de Campinas

Corria o final do século XVII, quer dizer, o final dos anos do século 1600, quando os já desalentados portugueses finalmente encontraram ouro em alguma parte deste vasto território que hoje chamamos de Brasil.
Ocorre que naquela época, os fatos e os boatos sobre a produção aurífera do continente americano, até então chamado de novo mundo, estavam impregnando as mentes e os corações dos europeus, ávidos por encontrar o precioso metal.

Os espanhóis, em sua porção de terras já haviam a essa altura, destruído as civilizações dos Incas e dos Astecas para explorar o ouro destes povos.
Já a coroa portuguesa, que não conseguia encontrar ouro por aqui seguia firme explorando pau Brasil e depois a cana de açúcar.

Pode parecer pouco aos nossos olhos, mas alguns historiadores chegam a apontar que o preço do quilo do açúcar na época chegava até a casa dos 300 reais!
Imagine o lucro de uma produção em massa deste produto.

E foi neste contexto, quer dizer, em um contexto de lucro e crescimento econômico na colônia portuguesa que existia aqui, que surgiu a cidade de Campinas.

Bem, se você está imaginando que este professor de história vai ter a ousadia de dizer que nossa cidade só surgiu por causa da necessidade de lucro da coroa portuguesa, então você acertou, pois é isso mesmo o que você vai ler aqui.

Voltando, portanto ao início de nossa história, no final dos anos 1600, com a extração do Pau-Brasil já em decadência e com a necessidade de encontrar outras formas de gerar lucro na colônia, Portugal finalmente ouve a palavra mágica, gritada da região que hoje chamamos de Goiás: Ouro!

Os paulistas, bons desbravadores que eram, correram para ocupar a região em busca de mineração.

De Goiás a Mato Grosso e até Minas Gerais, a região toda passa ser ocupada por batalhões de interessados na exploração do ouro. Mineiros, comerciantes, roceiros, tropeiros, padres e uma infinidade de outros tipos sociais invadem a região que passa a ser uma das mais atrativas da colônia.

De olho em controlar melhor a extração de ouro e também com vistas a melhorar as condições de ir e vir dos tropeiros que saiam de São Paulo para a região de Goiás, foi decidido pelo então Capitão General, governador da Capitania de São Paulo, que se construísse uma estrada ligando São Paulo a Goiás. Ao longo dessa estrada, deveriam ser construídos ranchos de apoio aos tropeiros para descanso e cuidados com os animais.

Foi assim que, em 1722 surgiu um bairro na cidade de Jundiaí, chamado Bairro das Campinas do Mato Grosso de Jundiaí.
É importante dizer que este nome “Mato Grosso” não remete ao estado do Mato Grosso, que nem sequer existia na época, mas diz respeito à condição física de nossa região que era formada por mata fechada, no dizer na época, mato grosso.

E Campinas, de onde vem o nome? Campinas, são como campinhos de mata rasteira em meio a locais de mata fechada e aqui, no bairro do Mato Grosso existiam campinhos, especialmente três, que foram a base para a formação de nossa cidade.

Um deste três campinhos, onde foi construído um rancho para servir de apoio aos tropeiros, ficava onde é hoje a região do estádio do Guarani.

Outro destes campinhos, ficava onde está hoje a igreja do Carmo.

Uma contagem realizada aqui no final da década de 1760 mostrou que havia menos de 300 pessoas morando aqui no bairro das Campinas do Mato Grosso. Bem nesta época, o ouro começou a mostrar-se escasso e a coroa portuguesa, mais uma vez necessitando encontrar meios de construir um patrimônio de riqueza, passa a vislumbrar a possibilidade de produzir cana de açúcar em nossa região.

Pouco tempo depois, em 1774,Francisco Barreto Leme recebe a missão do Capitão General da Capitania de São Paulo para construir aqui um povoado, justamente com objetivo de tornar essa região povoada para produção de Cana de Açucar.

Em 14 de Julho daquele ano, Barreto Leme, com ajuda do padre Antonio de Pádua, um franciscano de Minas Gerais, funda nossa cidade rezando a primeira missa bem em frente de onde é hoje a igreja do Carmo. A propósito, Barreto Leme esta sepultado lá dentro.

Nessa ocasião, porém, ainda não éramos um cidade, mas uma Freguesia. Freguesia é um povoado com autonomia religiosa, quer dizer, Campinas passou a ter um padre, ligando nossa cidade diretamente ao bispo. Com isso, estava aberto o caminho para a autonomia civil também. É necessário lembrar que neste tempo, o Brasil ainda vivia sob o regime do Padroado, que em resumo significa dizer que a Igreja Católica praticamente fazia parte do Estado e do governo.

Um pouco mais a frente, em 1797, já enriquecida com a cana de açúcar, Campinas requer autonomia, quer dizer, emancipação da cidade de Jundiaí.
Neste ponto, Campinas passa a ser independente e recebe o nome de Vila de São Carlos. Até hoje é motivo de debate a razão para se ter escolhido este nome que não vingou de jeito nenhum. Fato é que, em 1842, já tendo saído do ciclo do açúcar e entrando em uma fase mais urbana com o início do ciclo do café, Campinas passa a ser uma cidade e não mais uma Vila.
E como a história não termina nunca, ainda teremos mais oportunidades de conhecer bem mais “causos” e histórias desta cidade tão importante para São Paulo e para o Brasil. Quem sabe na próxima quinzena possamos descobrir mais sobre alguns de seus filhos ilustres, como por exemplo o filho do Maneco Músico?
Acompanhe nosso blog e conheça mais sobre a nossa cidade!

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